Gama: Sarney e anti-Sarney é um discurso velho |
Eliziane Gama teve ascensão meteórica no cenário político do
Maranhão, após uma bem sucedida campanha à Prefeitura de São Luís,
posicionando-se em terceiro lugar.
Ato contínuo ela assumiu a presidência do PPS e lidera a
formação de um bloco alternativo às candidaturas de Flavio Dino (PCdoB) e da
oligarquia Sarney (PMDB) ao Governo do Maranhão em 2014.
Denominado terceira via, o campo liderado pela deputada é
criticado por analistas políticos, que vêem na iniciativa um processo de racha
da oposição, mas Eliziane contesta: “Esse é o velho
discurso Sarney x anti-Sarney. Isso não é real.”
O PCdoB e o PPS foram aliados na eleição para o governo em
2010, na chapa formada por Flavio Dino e Miosótis Lucio.
Em 2012 Eliziane Gama compôs o grupo dos quatro
pré-candidatos que orbitavam em torno de Flavio Dino para disputar a Prefeitura
de São Luís, formado ainda por Tadeu Palácio (PP), Roberto Rocha (PSB) e
Edivaldo Holanda Junior (PTC).
Dino optou pela chapa Holanda Junior – Roberto Rocha.
Eliziane e Palácio seguiram vôo solo. Segundo a deputada, a vitória de Edivaldo
Holanda Junior “não representa a mudança de verdade” e declarou que vai fazer “oposição com responsabilidade” ao prefeito eleito.
Confira a entrevista ao Blogue do Ed Wilson
Blogue – Qual a sua avaliação do processo eleitoral em São
Luís?
Eliziane – O resultado foi muito bom. Conseguimos
passar a mensagem que propúnhamos para São Luis. Infelizmente há uma lógica
muito ruim na sociedade de que as candidaturas fortes são aquelas que têm
grande estrutura de campanha, e isso não tínhamos. Além do mais, nosso tempo de
TV era muito pequeno. Somente na semana da eleição que conseguimos um tempo
maior na TV, durante o debate, mas já era muito tarde e não deu para chegar ao
segundo turno. No primeiro turno só houve um único debate na TV. Achei isso
muito ruim porque não tínhamos um espaço democrático com acesso maior da
população para acompanhar nossas ideais para mudar São Luis. Na sociedade civil
foram realizados 13 debates, não faltei a nenhum deles, mas infelizmente a
abrangência não chegava ao grande público. O certo é que de modo geral,
considero que tivemos êxito no processo eleitoral!
Blogue – Por que você não tomou posição no segundo turno em
favor de Edivaldo Holanda Junior (PTC) ou de João Castelo (PSDB)?
Eliziane – Ed Wilson tudo o que fiz até hoje foi com muita paixão, muita dedicação, me doando de forma
muito autêntica e plena. Foi assim em todas as eleições que participei até
hoje. Para tomar esta posição fiz uma avaliação detalhada de tudo que pregamos
no primeiro turno das eleições, com a proposta da
mudança de verdade, slogan de nossa campanha. E
não vi em nenhuma das duas candidaturas uma razão para eu me dedicar com essa
mesma veemência. Não foi tão simples, porque não é comum ter a terceira
posição no processo eleitoral e não fazer uma aliança no segundo turno. Porém,
minha vida sempre foi assim mesmo, diferente. Deixei meus eleitores a vontade
sem assumir o ônus de induzi-los a uma candidatura. Até mesmo porque não
conseguiria, afinal meu eleitor é muito consciente, não seria uma manifestação
minha que o levaria para um lado específico!
Blogue – Qual será sua postura na gestão de Edivaldo Holanda
Junior: apoio ou oposição?
Eliziane – Oposição com
responsabilidade. Assim como sou em relação ao Governo do Estado.
Reconhecerei seus avanços assim como farei a crítica a suas falhas! Jamais
serei omissa em relação a minha querida cidade!
Blogue – Após a eleição você assumiu a presidência do PPS,
mas houve questionamento de dirigentes do próprio partido, argumentando que a
sua chegada à presidência não foi debatida internamente. Qual a sua posição
sobre este episódio?
Eliziane – Não havia necessidade de debate, já que ato
espontâneo e natural. Fui eleita vice-presidente do partido nas eleições do ano
passado. Com a saída de Paulo Matos minha ascensão à presidência é automática.
O fato é que alguns companheiros não me aceitam na presidência, mas isso para
mim é absolutamente normal. Afinal, já convivo com essas divergências
partidárias há um bom tempo!
Blogue – Vários analistas políticos vêm colocando a
possibilidade de uma terceira via na eleição de 2014, com a sua participação na
liderança de um bloco distinto dos grupos de Flavio Dino (PCdoB) e José Sarney
(PMDB). A terceira via tem futuro?
Eliziane – A terceira via não é um debate só do
Maranhão, é uma discussão nacional. Representa
a não conivência da dicotomia lado A lado B: no Maranhão Sarney versus anti-
Sarney, e no Brasil PT versus PSDB. Há um espaço para um debate mais
consistente que não se restrinja apenas ao processo eleitoral, mas que aconteça
durante todos os meses do ano, em eleição e fora da eleição.
Para haver uma candidatura forte é necessário espaço com a participação de professores universitários, estudantes,
sociedade civil organizada, pessoas simples, que possam juntos debater formas
para mudar a cidade e o estado. Não é apenas apontar problemas, é
encontrar as soluções juntos. Portanto, a terceira via
representa a nova política!
Blogue – Além do PPS e do PSDB, quais os outros partidos e
lideranças políticas integrantes da terceira via?
Eliziane – Nós não estamos focando em partidos agora,
nosso foco é na construção de um amplo programa para
mudar o Maranhão. Temos procurado pessoas que possam contribuir com esse
propósito. É claro que nos mais variados tipos de partidos há muitas dessas
pessoas, como o PSOL e o PCB, por exemplo. E elas são muito bem vindas.
Infelizmente muitos partidos só estão ativos nos meses que antecedem as
eleições, e isso se torna uma relação muito despropositada, esta postura não é
aceita em nosso debate.
Blogue – Não seria incômoda uma aliança sua com o PSDB,
visto que você criticou a gestão do prefeito João Castelo?
Eliziane – Por isso que nosso foco agora está no
programa e não em partidos.
Blogue – Pela configuração que está tomando, a terceira via
pode ser o palanque presidencial do PSDB no Maranhão em 2014. Seu perfil
combina com a linha ideológica dos tucanos?
Eliziane – O PPS é aliado nacional com o PSDB.
Analisando pela lógica nacional não haveria nenhuma divergência, mas vamos
debater o Maranhão, os problemas e as soluções. Essa é a nossa meta! O PPS
apoiou o PCdoB contra essa lógica na última eleição em 2010. E não foi fácil
isso acontecer. Tivemos uma travada luta em Brasília. Há quem diga dentro do
partido que o PPS jamais teria apoio do PCdoB aqui porque seria divergir muito
da determinação nacional. Então, são contradições que precisamos ter muita
habilidade para superar!
Blogue – Já existem interpretações que colocam a terceira
via como um movimento equivocado que pode rachar os votos da oposição e
beneficiar o grupo Sarney na eleição de 2014. Qual a sua posição sobre essa
análise?
Eliziane – Esse é o velho
discurso Sarney x anti-Sarney. Isso não é real. Vamos apresentar
alternativas para o Estado. Quem prega isso é porque tenta colocar em nós algo
que não tem sentido. O que mais importa é que há uma
grande parcela da sociedade que não consegue se enquadrar em nenhuma das duas
propostas. É com essas pessoas que vamos discutir o Maranhão!
Blogue – Não seria mais adequado um alinhamento do PPS à
candidatura de Flavio Dino? A senhora aceitaria, por exemplo, um convite para
ser candidata a senadora na chapa do PCdoB em 2014 e unificar a oposição em vez
de trabalhar uma terceira via?
Eliziane – Só voto por
convicção e votei assim no Flávio em 2006, em 2008 e em 2010, mas o processo é
dinâmico, dizer que aceitaria ou não é muito precipitado. Mas saiba que o PPS
assim como em 2012 será um grande protagonista das eleições de 2014!
2 comentários:
A senha ao meu ver... está bem aqui: “Esse é o velho discurso Sarney x anti-Sarney. Isso não é real.”
É isso... para mim é a explicação da explicação da existência do "não é real".
Ed, Boa trabalho!
Entrevista interessante. alguns aspectos devem ser observados com mais precisão; 1. ao afirmar que os seus eleitores são conscientes, fica uma dúvida, os que votaram em outros candidatos não o são? 2. A maioria dos eleitores esperam votar de acordo com os seus líderes, então não apoiar um candidato com o argumento anterior é fugir de uma tomada de decisão. 3. a prática da candidata não condiz com o direcionamento político que o PPS toma em nível nacional. Uma postura de anexo ao PSDB. O Freire demonstra tudo isso quando é candidato por São Paulo, sendo eleito da mesma forma que os candidatos tucanos. 4. Com a afirmação anterior, vê-se que o PPS não quer ser uma via opcional ao PT e PSDB, está satisfeito onde esta.
Para quem gosta do jogo político bem jogado, foi uma vitória o terceiro lugar obtido na eleição, ouso dizer que muito embora seja um jogo coletivo, individualmente era a melhor candidatura posta à disposição do elitorado de São Luís.
Postar um comentário