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sábado, 11 de maio de 2013

PARA RECONHECER OS ANOS 80


por Eduardo Julio

Foi com grata satisfação que me deparei com o ator maranhense Jean Bottentuit, numa cena do filme “Somos Tão Jovens”, a cinebiografia de Renato Russo dirigida por Antonio Carlos Fontoura, que está em cartaz em diversas salas da cidade. O meu amigo aparece em pouco mais de um segundo, no papel de um vendedor de uma loja de discos. Espero que Jean conquiste muito mais tempo no cinema nacional nos próximos dias, meses, anos...


Fica difícil, para quem viveu os anos 80, não comparar "Somos Tão Jovens" a "Cazuza o Tempo não Para" (2004), dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho. Ambos são superficiais e ingênuos. No entanto, bem embalados. Mostram para as novas gerações a camada mais branda dos dois mais talentosos e controversos compositores do rock nacional dos anos 80, que morreram vitimados pela mesma doença.

Se Daniel de Oliveira impressiona no papel do autor de “Blues da Piedade”, Thiago Mendonça incorpora Renato Russo, com todos os maneirismos e trejeitos do líder da Legião Urbana, inclusive o timbre de voz. Mas “Somos tão Jovens” leva vantagem porque retrata Renato antes da fama, nos tempos do Aborto Elétrico. Quando era apenas Renato Manfredini, um jovem roqueiro intelectual amado pela “turma”, em plena efervescência do movimento punk de Brasília. São passagens que somente os fãs mais ardorosos conheciam. A tragédia lírica e visceral de Cazuza todos nós sabíamos decorada.

E ao contrário do seu antecessor, “Somos tão Jovens” termina quando o cantor da Legião Urbana atinge a fama em todo o Brasil. Não foi dado espaço para os tempos de decadência. Ponto para o roteirista Marcos Bernstein.

PIONEIRSMO


A história de Renato Russo também se confunde com a chegada do movimento punk no Brasil, pioneirismo reivindicado de forma injusta pelos paulistas. Quem assistiu ao documentário “Botinada”, dirigido pelo ex-VJ Gastão Moreira, sabe do que estou falando.

Defendo que o punk tenha chegado primeiro a Brasília, porque, no final dos anos 70, a Capital Federal estava mais próxima da Europa e do resto do mundo do que as demais cidades brasileiras. E esta proximidade não era geográfica. Sem ser didático, “Somos tão Jovens” explica, com exemplos concretos, este fenômeno.


Naqueles anos de ditadura, as embaixadas trouxeram a informação e fizeram a diferença. Tudo deve ter chegado primeiro lá, inclusive o estilo que veio de Londres, com coturno, cabelos espetados e rock cru, acelerado, sem firulas nem virtuoses.

A diferença é que os protagonistas do movimento punk de Brasília eram filhos de diplomatas, ministros e militares. Garotos bem nascidos e nutridos de literatura. Rebeldes sem causa (?). Em São Paulo, a maioria da turma era da periferia, meninos pobres e prontos para a porrada, dispostos a encarar qualquer guerra urbana. Essa diferença, os paulistas não perdoam.

Quem assistir ao filme e se interessar pelo assunto, sugiro como complemento, além de “Botinada”, que está disponível na íntegra no youtube, a leitura do livro “O Diário da Turma 1976-1986: a história do rock de Brasília”. Ótima coletânea de entrevistas, repleta de fotografias, com os pioneiros do rock da capital brasileira, organizada pelo jornalista Paulo Marchetti, que deve ter sido uma das referências para a elaboração de “Somos Tão Jovens”.

2 comentários:

FRANCISCO ARAUJO disse...

Belo e lúcido texto, além do enriquecimento ao tema. Parabéns. Eu achei fraquinho, fraquinho esse filme... de filme tem pouco, mais parece capítulo de novela. Chegou o momento de todos querem pegar a onda do prestígio que o cinema nacional ganhou a partir de Central do Brasil e começaram a descuidar da qualidade.

Eduardo Júlio disse...

Francisco,

Antes de tudo, obrigado pelas considerações.

Há muito tempo que o cinema nacional não apresenta um grande filme. O último que vi foi "Lavoura Arcaica (2001).

De lá para cá, algumas boas ideias, a exemplo de "O Som ao Redor", do ano passado.

Mas confesso que acompanho pouco,em razão da falta de tempo, da quantidade de lançamentos e também devido às várias decepções.

Já "Somos tão Jovens" é um filme sobre cultura pop destinado especialmente ao público juvenil, de 14 e 15 anos, e aos fãs do Renato Russo, o que não impede dele ser avaliado.

Muita gente esperava mais. Eu não, pois já imaginava um formato similar ao longa sobre Cazuza. Mas, acredito, "Somos tão Jovens" cumpre bem o papel a qual se destina. E nada além disso.

Abs,