Compartilhe

sábado, 17 de janeiro de 2015

DAVI TELLES: O DESAFIO DE RECUPERAR A CAEMA

Davi Telles dialoga com o Corpo de Bombeiros para agilizar poços no sistema Paciência
Com déficit mensal de R$ 8 milhões e uma dívida superior a R$ 750 milhões, a Companhia de Saneamento Ambiental (Caema) é um dos maiores símbolos do descaso e sucateamento no Maranhão.

O novo presidente da companhia, advogado Davi Telles, concedeu entrevista ao blogue apresentando um panorama da situação financeira e administrativa do órgão, bem como as medidas que já estão sendo tomadas para enfrentar os principais desafios.

Além da grave situação financeira, a Caema está defasada em vários aspectos: equipamentos sucateados, atraso tecnológico, alta inadimplência, gestão travada e alto índice de desperdício.

“Das cerca de 550 mil unidades domiciliares, a Caema só possui hidrômetros em pouco mais de 130 mil”, revelou Telles.

Sobre a nova adutora do Italuis, obra abandonada pelo ex-secretário de Saúde Ricardo Murad, o novo presidente da Caema adverte: “é importante frisar que a nova adutora não resolve o problema de intermitência no fornecimento de água de São Luís.”

Para enfrentar os diversos problemas, o novo presidente já lançou o Programa de Combate a Perdas e vai concentrar esforços na vazão do Sistema Italuís, com uma elevatória no Km 22 da BR 135, visando melhorar o abastecimento de água na capital.

“Vamos trabalhar para que em dois anos e meio tenhamos o problema da intermitência totalmente resolvido. Mas em curto prazo algumas ações pontuais trarão alívio para vários bairros da capital”, afirmou o diretor, descartando qualquer iniciativa de privatizar a companhia. “A Caema pertence ao povo do Maranhão e continuará assim. A diferença é que em algum tempo será forte e motivo de orgulho para todos nós. Esse é um compromisso do governador Flávio Dino”, sentenciou.

Veja a entrevista:
 
Programa de Combate a Perdas é uma das prioridades na nova gestão da Caema
Blogue A Caema é estigmatizada pelo mau funcionamento e tem um conceito negativo junto à população. Responsável pelo saneamento ambiental, ela é uma das poluidoras dos mananciais. De que forma você recebeu o convite para dirigi-la?

Davi Telles - Tenho estado muito preocupado e, ao mesmo tempo, muito animado. Assumir a presidência de uma empresa com um déficit mensal na ordem de 8 milhões de reais e com uma dívida que pode atingir valor superior a R$ 750 milhões não poderia me gerar outro sentimento. A Caema vive uma tragédia financeira, dependendo de substanciais repasses a partir de recursos do Tesouro Estadual. Óbvio que o Estado não pode se furtar de subsidiar a Caema, mas, pela própria Lei Nacional de Saneamento, nós precisamos perseguir uma situação de lucratividade. Desse modo, posso dizer que recebi o convite do governador Flávio Dino como um enorme desafio.

Blogue – Como foi o processo de transição na companhia?

Davi Telles - Fomos recebidos duas vezes de maneira muito gentil pelo então presidente. Parte dos documentos que requeremos nos foram repassados. Mas só passei a frequentar a Caema efetivamente a partir do dia da posse.

Blogue – Qual a situação financeira da Caema?

Davi Telles - Além do déficit enorme e da dívida preocupante, aos quais já fiz referência, a Caema tem um índice alto de inadimplência (mais ou menos 20% do que fatura) e precisa atualizar e racionalizar seu cadastro para passar a faturar de modo adequado e arrecadar muito mais. Como muitos sabem, alguns estudos apontam que 60% da água tratada produzida pela companhia não se reverte em receita. Por isso mesmo, assinei nesta semana uma Portaria instituindo uma Comissão de Elaboração e Implantação do Programa de Combate a Perdas, cujas ações deverão contemplar desde um substancial processo de hidrometração e atualização do cadastro até, por exemplo, a automação do monitoramento dos nossos reservatórios. Das cerca de 550 mil unidades domiciliares, a Caema só possui hidrômetros em pouco mais de 130 mil. Há muitos caminhos comprovadamente exitosos a se seguir. Nós caminharemos por eles.

Blogue – Do ponto de vista administrativo, qual o cenário atual da Caema?

Davi Telles - A Caema possui excelentes quadros. Gente que formula soluções em altíssimo nível, mas as condições de trabalho são muito ruins. Do ponto de vista estrutural, um sucateamento total. Pelo lado administrativo, precisamos padronizar e modernizar processos e rotinas, racionalizar nosso organograma, investir em sistemas (tecnologia, inclusive) e muitos outros pontos.

Blogue – Em relação aos recursos humanos, como está a situação dos funcionários?

Davi Telles - A Caema tem mais de 2.100 funcionários, entre os quais 512 são cargos de chefia. Além disso, possui uma infinidade de trabalhadores terceirizados, situação esta que estamos estudando com muita atenção.

Blogue – Você pretende fazer auditoria nos atos administrativos da gestão anterior?
 
Reunião com o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, buscando soluções para o abastecimento em todo o Maranhão.
Davi Telles - Por ser uma S/A, a Caema tem obrigação legal de se submeter todo ano a auditoria externa realizada por auditores independentes. Ocorre que há quatro anos os relatórios anuais são inconclusivos. Portanto, temos uma imposição fática e sistêmica de tonar possíveis as conclusões das auditorias. Para isso, instauraremos uma Comissão de Acompanhamento e Fornecimento de Subsídios para a Auditoria, uma vez que a Caema deixou de fornecer muitos elementos e de adequar procedimentos internos, o que contribuiu para a inexistência de conclusão dos últimos relatórios.

Blogue – No governo passado, a adutora do Italuis recebeu novos canos, com a promessa de resolver o problema do abastecimento de água. A obra não foi concluída. Você vai dar continuidade?

Davi Telles - Em primeiro lugar, é importante frisar que a nova adutora não resolve o problema de intermitência no fornecimento de água de São Luís. Criou-se uma expectativa artificial na população ludovicense de que este novo equipamento resolveria o problema histórico de falta d'água em São Luís, quando, na verdade, ele só deverá incrementar cerca de 200 litros por segundo na produção de água tratada. Ocorre que precisamos majorar pelo menos 1.000 l/s, segundo estudos de concepção. Porém, como também é amplamente sabido, a nova adutora poderá dar confiabilidade ao sistema ao evitar rompimentos. Para isso, teremos de resolver os diversos problemas deixados, como falhas com as soldas, ausência de projeto para a interligação com o trecho antigo, construção de passarelas para a população residente no Campo de Perizes, aprovação do 2° aditivo pela Caixa, definição do modo como lançaremos a ponte sobre o Estreito dos Mosquitos, entre alguns outros.

Blogue – Há denúncias sobre o desvio de canos que seriam utilizados na adutora. Os canos teriam sido desviados à altura da Vila Samara, no Campo de Perizes. Você já tomou conhecimento? Como vai proceder em relação a esse problema? Vai pedir uma investigação ou fazer auditoria?

Davi Telles - Estamos investigando essa situação com muita atenção e preocupação. A Moralidade Administrativa é princípio intransponível no Governo Flávio Dino. As responsabilidades serão devidamente apuradas.

Blogue – A população de São Luís é vítima de constantes interrupções no fornecimento de água. Alguns bairros convivem com absoluta falta de água. De que forma você pretende enfrentar esse problema?

Davi Telles - Como já disse, a nova adutora não resolverá este problema. Em verdade, a intermitência no abastecimento de água de São Luís está diretamente ligada ao nosso dramático nível de perdas e ao desperdício. Todos temos culpa, principalmente a Caema. Por isso, já tomamos as providências iniciais de lançamento do Programa de Combate a Perdas, o que inclui também a substituição dos pontos de estrangulamento da rede distribuidora. Além disso, precisaremos fazer a intervenção que verdadeiramente irá incrementar o abastecimento de água, qual seja, a obra de reforço de vazão do Sistema Italuís, com uma elevatória no Km 22 da BR 135. Estamos garantindo os recursos para a implementação dessas medidas. 

Blogue – Há um prazo para atenuar o sofrimento da população que convive diariamente com a interrupção no fornecimento de água?

Davi Telles - Estamos implementando outras medidas imediatas para atenuar a falta d'água em São Luís. Já estivemos, por exemplo, no Comando do Corpo de Bombeiros tentando agilizar a homologação da licitação para a construção de mais 6 (seis) poços no Sistema Paciência. Além disso, vamos começar a recuperar os poços avulsos da cidade, que não fazem parte de nenhum dos três sistemas (Italuís, Sacavém e Paciência). Em outras cidades também já começamos a recuperar poços, como em Coroatá, que teve uma sensível melhoria no abastecimento ao recuperarmos alguns poços do sistema.

Blogue – Além do Italuis, como você encontrou os outros componentes do sistema de abastecimento. Já tem um diagnóstico?

Davi Telles - Os nossos sistemas estão tristemente sucateados. Teremos de recuperar os equipamentos de muitos sistemas. Para resumir, teremos de passar a pronunciar e executar algo primordial: investimento! É terrível ir, por exemplo, ao Sacavém e constatar a situação de precariedade de equipamentos básicos. A situação do Sacavém também é muito preocupante do ponto de vista ambiental. Já nos reunimos com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente para tratar do assunto e tomar medidas conjuntas. Vamos trabalhar para que em dois anos e meio tenhamos o problema da intermitência totalmente resolvido. Mas em curto prazo algumas ações pontuais trarão alívio para vários bairros da capital.

Blogue – A Caema já foi condenada a despoluir os rios da ilha de São Luís, mas não cumpriu as determinações judiciais. Como você vai proceder em relação às decisões no âmbito jurídico?

Davi Telles - Decisão judicial deve ser cumprida. Temos estabelecido um diálogo institucional para explicar, de maneira transparente, a situação exata da Caema para todo o Sistema de Justiça. A Justiça e o Ministério Público estão sendo procurados.

Blogue – Os esgotos a céu aberto são outra marca da companhia. Como você pretende reverter esse quadro?

Davi Telles - Estamos procurando desobstruir todos os entraves relativos às obras de Esgotamento Sanitário dos 6 (seis) sistemas de coleta e tratamento de esgotos de São Luís. Com exceção do Sistema Vinhais, todos possuem graves óbices no andamento das obras. Temos nos reunido com todos os envolvidos e encaminhado soluções urgentes para o destravamento desses óbices. Essa é uma determinação muito clara do governador Flávio Dino. São Luís trata, na prática, cerca de 5% do esgoto que produz. Isso é quase medieval. Pretendemos encerrar nossa gestão com um percentual bastante superior a esse, garantindo condições de balneabilidade às nossas praias e possibilidade de despoluição dos nossos rios.

Blogue – De onde virão os recursos para resolver os problemas do abastecimento d’água?

Davi Telles - De diversas fontes. Estamos acessando todas as modalidades de financiamento disponíveis.

Blogue – E qual a fonte de investimentos para reduzir os esgotos a céu aberto?

Davi Telles - Nesse caso são do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal.

Blogue – No governo anterior, havia uma sinalização para sucatear a Caema e privatizá-la. A privatização seria uma solução?

Davi Telles - A Caema pertence ao povo do Maranhão e continuará assim. A diferença é que em algum tempo será forte e motivo de orgulho para todos nós. Esse é um compromisso do governador Flávio Dino.

Blogue – Caso a companhia não seja privatizada, você pretende implantar parcerias público-privadas (PPPs) para agilizar soluções na companhia?

Davi Telles - Temos um arsenal de investimentos públicos para fazer de imediato, principalmente no Água Para Todos (começa pelas 30 cidades de menor IDH), nas cidades estratégicas (como Imperatriz, Santa Inês e Açailândia) e ainda para São Luís. Mas temos um Maranhão inteiro para abastecer. Essas definições virão com o tempo.

6 comentários:

Anônimo disse...

José Reinaldo Tavares foi governador e rompeu com a família Sarney e o pai do atual presidente da caema fora presidente no governo de José Reinaldo Tavares e nada fizerão para melhorar a empresa esse discurso não me convence.

Anônimo disse...

e quanto as convocações dos aprovaos no ultimo concurso?

Zeus disse...

É muito relevante um presidente da Caema, expor claramente os problemas da empresa sem rodeio e sem subterfúgios. Espero realmente que além das boas intenções o nosso presidente tenha interesse real de resolver pelo menos uma boa parte dos problemas de nossa empresa.
Só, uma ressalva Presidente, na empresa tem bons funcionários, dispostos realmente a trabalhar em prol dela e que mesmo com um potencial enorme, não conseguem ser vistos pois, o cabide de emprego atráves de indicações politicas é enorme. Ou seja, Ninguem cresce nesta empresa por merecimento e sim por QI (quem indique) de uma olhadinha nesta questão.

Anônimo disse...

Concordo com Zeus os empregados competentes que existe na empresa não são valorizados não vou citar nomes existe bons profissionais como advogados, engenheiros, operadores de elevatória entre outros que dão o "sangue" literalmente pela empresa entra governo e sai governo a empresa não melhora e nem os profissionais que lá trabalhão não são reconhecidos é revoltante.

Anônimo disse...

Existem vários técnicos na empresa capacitados e não tem oportunidade na mesma para desempenhar bons trabalhos porque os indigitados não tem padrinhos políticos, ficam estaguinados na empresa governador Flavio Dino me responda trabalhador sem motivação não produz

Anônimo disse...

Como bem lembrou nosso amigo anteriormente: E as convocações dos aprovados no concurso?
A Caema realmente tem em seu quadro excelentes profissionais, mas é fato: está precisando urgente de novos! Inclusive, se forem aplicadas as medidas que o novo presidente disse e planeja para melhorar a companhia, será necessário um aumento no seu quadro de funcionários! Alguém, por favor, nos diga quando será a convocação?
Obrigado a todos!