Davi Telles dialoga com o Corpo de Bombeiros para agilizar poços no sistema Paciência |
Com déficit mensal de R$ 8 milhões e uma dívida superior
a R$ 750 milhões, a Companhia de Saneamento Ambiental (Caema) é um dos maiores
símbolos do descaso e sucateamento no Maranhão.
O novo presidente da companhia, advogado Davi Telles,
concedeu entrevista ao blogue apresentando um panorama da situação financeira e
administrativa do órgão, bem como as medidas que já estão sendo tomadas para
enfrentar os principais desafios.
Além da grave situação financeira, a Caema está defasada em
vários aspectos: equipamentos sucateados, atraso tecnológico, alta inadimplência,
gestão travada e alto índice de desperdício.
“Das cerca de 550 mil unidades domiciliares, a Caema só
possui hidrômetros em pouco mais de 130 mil”, revelou Telles.
Sobre a nova adutora do Italuis, obra abandonada pelo
ex-secretário de Saúde Ricardo Murad, o novo presidente da Caema adverte: “é
importante frisar que a nova adutora não resolve o problema de intermitência no
fornecimento de água de São Luís.”
Para enfrentar os diversos problemas, o novo presidente já
lançou o Programa de Combate a Perdas e vai concentrar esforços na vazão do
Sistema Italuís, com uma elevatória no Km 22 da BR 135, visando melhorar o
abastecimento de água na capital.
“Vamos trabalhar para que em dois anos e meio tenhamos o
problema da intermitência totalmente resolvido. Mas em curto prazo algumas
ações pontuais trarão alívio para vários bairros da capital”, afirmou o diretor,
descartando qualquer iniciativa de privatizar a companhia. “A Caema pertence ao
povo do Maranhão e continuará assim. A diferença é que em algum tempo será
forte e motivo de orgulho para todos nós. Esse é um compromisso do governador
Flávio Dino”, sentenciou.
Veja a entrevista:
Blogue – A Caema é estigmatizada pelo mau funcionamento e
tem um conceito negativo junto à população. Responsável pelo saneamento
ambiental, ela é uma das poluidoras dos mananciais. De que forma você recebeu o
convite para dirigi-la?
Davi Telles - Tenho estado muito preocupado e, ao mesmo
tempo, muito animado. Assumir a presidência de uma empresa com um déficit mensal
na ordem de 8 milhões de reais e com uma dívida que pode atingir valor superior
a R$ 750 milhões não poderia me gerar outro sentimento. A Caema vive uma
tragédia financeira, dependendo de substanciais repasses a partir de recursos
do Tesouro Estadual. Óbvio que o Estado não pode se furtar de subsidiar a
Caema, mas, pela própria Lei Nacional de Saneamento, nós precisamos perseguir
uma situação de lucratividade. Desse modo, posso dizer que recebi o
convite do governador Flávio Dino como um enorme desafio.
Blogue – Como foi o processo de transição na companhia?
Davi Telles - Fomos recebidos duas vezes de maneira muito
gentil pelo então presidente. Parte dos documentos que requeremos nos foram
repassados. Mas só passei a frequentar a Caema efetivamente a partir do dia da
posse.
Blogue – Qual a situação financeira da Caema?
Davi Telles - Além do déficit enorme e da dívida
preocupante, aos quais já fiz referência, a Caema tem um índice alto de
inadimplência (mais ou menos 20% do que fatura) e precisa atualizar e
racionalizar seu cadastro para passar a faturar de modo adequado e arrecadar
muito mais. Como muitos sabem, alguns estudos apontam que 60% da água tratada
produzida pela companhia não se reverte em receita. Por isso mesmo, assinei
nesta semana uma Portaria instituindo uma Comissão de Elaboração e Implantação
do Programa de Combate a Perdas, cujas ações deverão contemplar desde um
substancial processo de hidrometração e atualização do cadastro até, por
exemplo, a automação do monitoramento dos nossos reservatórios. Das cerca de
550 mil unidades domiciliares, a Caema só possui hidrômetros em pouco mais de
130 mil. Há muitos caminhos comprovadamente exitosos a se seguir. Nós
caminharemos por eles.
Blogue – Do ponto de vista administrativo, qual o cenário
atual da Caema?
Davi Telles - A Caema possui excelentes quadros. Gente que
formula soluções em altíssimo nível, mas as condições de trabalho são muito
ruins. Do ponto de vista estrutural, um sucateamento total. Pelo lado
administrativo, precisamos padronizar e modernizar processos e rotinas,
racionalizar nosso organograma, investir em sistemas (tecnologia, inclusive) e
muitos outros pontos.
Blogue – Em relação aos recursos humanos, como está a
situação dos funcionários?
Davi Telles - A Caema tem mais de 2.100 funcionários, entre
os quais 512 são cargos de chefia. Além disso, possui uma infinidade de
trabalhadores terceirizados, situação esta que estamos estudando com muita
atenção.
Blogue – Você pretende fazer auditoria nos atos
administrativos da gestão anterior?
Reunião com o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, buscando soluções para o abastecimento em todo o Maranhão. |
Davi Telles - Por ser uma S/A, a Caema tem obrigação legal
de se submeter todo ano a auditoria externa realizada por auditores independentes. Ocorre que há quatro anos os relatórios anuais são
inconclusivos. Portanto, temos uma imposição fática e sistêmica de tonar
possíveis as conclusões das auditorias. Para isso, instauraremos uma Comissão
de Acompanhamento e Fornecimento de Subsídios para a Auditoria, uma vez que a Caema
deixou de fornecer muitos elementos e de adequar procedimentos internos, o que
contribuiu para a inexistência de conclusão dos últimos relatórios.
Blogue – No governo passado, a adutora do Italuis recebeu
novos canos, com a promessa de resolver o problema do abastecimento de água. A
obra não foi concluída. Você vai dar continuidade?
Davi Telles - Em primeiro lugar, é importante frisar que a
nova adutora não resolve o problema de intermitência no fornecimento de água de
São Luís. Criou-se uma expectativa artificial na população ludovicense de que
este novo equipamento resolveria o problema histórico de falta d'água em São
Luís, quando, na verdade, ele só deverá incrementar cerca de 200 litros por segundo
na produção de água tratada. Ocorre que precisamos majorar pelo menos 1.000
l/s, segundo estudos de concepção. Porém, como também é amplamente sabido, a
nova adutora poderá dar confiabilidade ao sistema ao evitar rompimentos. Para
isso, teremos de resolver os diversos problemas deixados, como falhas com as
soldas, ausência de projeto para a interligação com o trecho antigo, construção
de passarelas para a população residente no Campo de Perizes, aprovação do 2°
aditivo pela Caixa, definição do modo como lançaremos a ponte sobre o Estreito
dos Mosquitos, entre alguns outros.
Blogue – Há denúncias sobre o desvio de canos que seriam
utilizados na adutora. Os canos teriam sido desviados à altura da Vila Samara,
no Campo de Perizes. Você já tomou conhecimento? Como vai proceder em relação a
esse problema? Vai pedir uma investigação ou fazer auditoria?
Davi Telles - Estamos investigando essa situação com muita
atenção e preocupação. A Moralidade Administrativa é princípio intransponível
no Governo Flávio Dino. As responsabilidades serão devidamente apuradas.
Blogue – A população de São Luís é vítima de constantes
interrupções no fornecimento de água. Alguns bairros convivem com absoluta
falta de água. De que forma você pretende enfrentar esse problema?
Davi Telles - Como já disse, a nova adutora não resolverá
este problema. Em verdade, a intermitência no abastecimento de água de São Luís
está diretamente ligada ao nosso dramático nível de perdas e ao desperdício.
Todos temos culpa, principalmente a Caema. Por isso, já tomamos as providências
iniciais de lançamento do Programa de Combate a Perdas, o que inclui também a
substituição dos pontos de estrangulamento da rede distribuidora. Além disso,
precisaremos fazer a intervenção que verdadeiramente irá incrementar o
abastecimento de água, qual seja, a obra de reforço de vazão do Sistema
Italuís, com uma elevatória no Km 22 da BR 135. Estamos garantindo os recursos
para a implementação dessas medidas.
Blogue – Há um prazo para atenuar o sofrimento da população
que convive diariamente com a interrupção no fornecimento de água?
Davi Telles - Estamos implementando outras medidas imediatas
para atenuar a falta d'água em São Luís. Já estivemos, por exemplo, no Comando
do Corpo de Bombeiros tentando agilizar a homologação da licitação para a construção
de mais 6 (seis) poços no Sistema Paciência. Além disso, vamos começar a
recuperar os poços avulsos da cidade, que não fazem parte de nenhum dos três
sistemas (Italuís, Sacavém e Paciência). Em outras cidades também já começamos
a recuperar poços, como em Coroatá, que teve uma sensível melhoria no
abastecimento ao recuperarmos alguns poços do sistema.
Blogue – Além do Italuis, como você encontrou os outros
componentes do sistema de abastecimento. Já tem um diagnóstico?
Davi Telles - Os nossos sistemas estão tristemente
sucateados. Teremos de recuperar os equipamentos de muitos sistemas. Para
resumir, teremos de passar a pronunciar e executar algo primordial:
investimento! É terrível ir, por exemplo, ao Sacavém e constatar a situação de
precariedade de equipamentos básicos. A situação do Sacavém também é muito
preocupante do ponto de vista ambiental. Já nos reunimos com a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente para tratar do assunto e tomar medidas conjuntas. Vamos
trabalhar para que em dois anos e meio tenhamos o problema da intermitência totalmente
resolvido. Mas em curto prazo algumas ações pontuais trarão alívio para vários
bairros da capital.
Blogue – A Caema já foi condenada a despoluir os rios da
ilha de São Luís, mas não cumpriu as determinações judiciais. Como você vai
proceder em relação às decisões no âmbito jurídico?
Davi Telles - Decisão judicial deve ser cumprida. Temos
estabelecido um diálogo institucional para explicar, de maneira transparente, a
situação exata da Caema para todo o Sistema de Justiça. A Justiça e o
Ministério Público estão sendo procurados.
Blogue – Os esgotos a céu aberto são outra marca da
companhia. Como você pretende reverter esse quadro?
Davi Telles - Estamos procurando desobstruir todos os
entraves relativos às obras de Esgotamento Sanitário dos 6 (seis) sistemas de
coleta e tratamento de esgotos de São Luís. Com exceção do Sistema Vinhais,
todos possuem graves óbices no andamento das obras. Temos nos reunido com todos
os envolvidos e encaminhado soluções urgentes para o destravamento desses
óbices. Essa é uma determinação muito clara do governador Flávio Dino. São Luís
trata, na prática, cerca de 5% do esgoto que produz. Isso é quase medieval.
Pretendemos encerrar nossa gestão com um percentual bastante superior a esse,
garantindo condições de balneabilidade às nossas praias e possibilidade de
despoluição dos nossos rios.
Blogue – De onde virão os recursos para resolver os
problemas do abastecimento d’água?
Davi Telles - De diversas fontes. Estamos acessando todas as
modalidades de financiamento disponíveis.
Blogue – E qual a fonte de investimentos para reduzir os
esgotos a céu aberto?
Davi Telles - Nesse caso são do PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), do governo federal.
Blogue – No governo anterior, havia uma sinalização para
sucatear a Caema e privatizá-la. A privatização seria uma solução?
Davi Telles - A Caema pertence ao povo do Maranhão e
continuará assim. A diferença é que em algum tempo será forte e motivo de
orgulho para todos nós. Esse é um compromisso do governador Flávio Dino.
Blogue – Caso a companhia não seja privatizada, você
pretende implantar parcerias público-privadas (PPPs) para agilizar soluções na
companhia?
6 comentários:
José Reinaldo Tavares foi governador e rompeu com a família Sarney e o pai do atual presidente da caema fora presidente no governo de José Reinaldo Tavares e nada fizerão para melhorar a empresa esse discurso não me convence.
e quanto as convocações dos aprovaos no ultimo concurso?
É muito relevante um presidente da Caema, expor claramente os problemas da empresa sem rodeio e sem subterfúgios. Espero realmente que além das boas intenções o nosso presidente tenha interesse real de resolver pelo menos uma boa parte dos problemas de nossa empresa.
Só, uma ressalva Presidente, na empresa tem bons funcionários, dispostos realmente a trabalhar em prol dela e que mesmo com um potencial enorme, não conseguem ser vistos pois, o cabide de emprego atráves de indicações politicas é enorme. Ou seja, Ninguem cresce nesta empresa por merecimento e sim por QI (quem indique) de uma olhadinha nesta questão.
Concordo com Zeus os empregados competentes que existe na empresa não são valorizados não vou citar nomes existe bons profissionais como advogados, engenheiros, operadores de elevatória entre outros que dão o "sangue" literalmente pela empresa entra governo e sai governo a empresa não melhora e nem os profissionais que lá trabalhão não são reconhecidos é revoltante.
Existem vários técnicos na empresa capacitados e não tem oportunidade na mesma para desempenhar bons trabalhos porque os indigitados não tem padrinhos políticos, ficam estaguinados na empresa governador Flavio Dino me responda trabalhador sem motivação não produz
Como bem lembrou nosso amigo anteriormente: E as convocações dos aprovados no concurso?
A Caema realmente tem em seu quadro excelentes profissionais, mas é fato: está precisando urgente de novos! Inclusive, se forem aplicadas as medidas que o novo presidente disse e planeja para melhorar a companhia, será necessário um aumento no seu quadro de funcionários! Alguém, por favor, nos diga quando será a convocação?
Obrigado a todos!
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