domingo, 13 de abril de 2008

Domingo democrático
As cenas do domingo refletem com exatidão o palco democrático brasileiro. Não digo a democracia em sentido pleno, sociologicamente entendida, mas alguns traços da diversificada forma de viver do brasileiro.

A tolerância entre estilos tão distintos é uma dessas marcas. Basta observar as “tribos” desfilando pela cidade, cada qual com sua maneira de buscar realização e, quem sabe, felicidade.

São muito chamativos os evangélicos em mangas compridas, calças alinhadas e bíblia sempre debaixo do braço. E as evangélicas de cabelos longos, com os cachos bailando sobre as costas em meneios inigualáveis. Não há como não perceber um certo ar de mistério e sensualidade na pureza dessas moças tipicamente dominicais.

Os católicos também marcam presença, mais discretos, nas missas matinais e no começo da noite, seguidas de algazarras nos largos das igrejas depois do “ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”

Do outro lado da avenida, nas calçadas mal cuidadas com bares improvisados, picapes imprudentes estrondam hits do momento. Homens de bermuda, sem camisa, tatuados, com bonés de bad boy e óculos escuros, urram feito uma horda de bárbaros ao som das bandas de forró, axé, funk e outras ridículas melodias repetitivas.

É como dizia minha amiga Lurdiane Mendes: os seres humanos estão doentes; uns, do corpo; outros, da alma. De fato, o domingo traduz um pouco essa máxima perspicaz. À gula e às orgias alcoólicas do final-de-semana, seguem-se aquelas promessas de começar uma dieta no dia seguinte.

Muitos, não conseguindo cumprir o prometido, convertem-se. E a cada dia surgem novas igrejas, ocupando as esquinas das antigas quitandas para vender promessas de prosperidade, felicidade, salvação etc.

As igrejas concorrem com os bares e as farmácias na tentativa de cura. Cada qual é um templo. E há ainda os outros templos, os da beleza, os salões agora batizados de coiffeur. Porque domingo sem cabeleireiro e manicure fica meio sem sentido. As mulheres recauchutam as extremidades do corpo para ficarem mais belas ou menos velhas, numa corrida danada contra o tempo.

Mas o domingo começa mesmo nos preparativos da praia, com sol, sal, suor e cerveja. É a prévia do futebol, principalmente quando há jogo do Flamengo. Quando toca foguete domingo à noite, ou é vitória rubro-negra ou festa de santo. Se fica silêncio depois do clássico, pode bater o martelo: o Flamengo perdeu. Parece coisa sagrada.

Adoro domingos, principalmente os ensolarados. Gosto de apreciar as torcidas organizadas assistindo aos jogos nos telões dos bares, tocando tambores e agitando bandeiras ao som do hino do clube preferido.

E assim seguem as vésperas das segundas-feiras, com beberrões, evangélicos, católicos e torcedores fervorosos. Coisas do Brasil democrático, plural e tolerante.

E como ontem foi sábado, recomendo a você a leitura do poema de Vinícius de Moraes, chamado “O dia da criação”, no site:
http://secrel.com.br/jpoesia/vm3.html.

Tenha uma excelente semana.

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