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domingo, 6 de abril de 2008

O Bolívar brasileiro

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, precisa retornar ao Paraná, onde esteve há um ano, para ver como avança a administração do governador Roberto Requião (PMDB).

Fora do agendamento midiático nacional, Requião faz um governo com viés de esquerda, caracterizado pela recuperação e fortalecimento das estatais, transparência administrativa e controle social, pagamento do salário mínimo acima do piso nacional e imposto zero para microempresas.

Entre outras medidas de impacto, o peemedebista paranaense recuperou a companhia elétrica (Copel), na qual disse ter investido 2 bilhões e 500 milhões de reais, colocando as tarifas de energia elétrica do Paraná entre as menores do país; reestruturou o Porto de Paranaguá, em vez de privatizá-lo; e declarou guerra aos pedágios e às empresas controladoras das estradas privatizadas – uma das heranças do ex-governador Jaime (UDR) Lerner (ex-PFL).

E não ficou nisso. Ele também abriu combate à introdução de sementes transgênicas no agronegócio e dá vigoroso impulso à agricultura familiar.

Na ferida
Assim, atiçou a ira não só a direita parlamentar e partidária, como também do Judiciário e da mídia sojeira. Essa, por motivos especiais.

Há um ano, o governo fez licitação para veicular a publicidade oficial na mídia impressa paranaense. Até então vigorava o monopólio dos grandes jornais na publicação dos anúncios oficiais, com preços elevados e esquemas viciados.

Com a licitação, a meta é baixar pela metade o valor do centímetro por coluna, parâmetro utilizado para calcular o espaço ocupado em uma página de jornal.

Além disso, o governo pretende pulverizar as verbas de publicidade e propaganda nos jornais regionais. E já enfrenta uma fortíssima reação dos antigos esquemas de captura dos recursos de divulgação.

O Tribunal de Contas do Paraná chegou a suspender a licitação do bolo publicitário e o edital teve de ser alterado para que o pregão possa ser aberto.

E tem mais. Requião também está censurado por decisão da Justiça Federal.

Censura
O governador presta contas dos seus atos na Escola de Governo do Paraná. As reuniões de trabalho são transmitidas ao vivo pela TV e Rádio Educativa, em um plenário com a participação de prefeitos, secretários, representantes dos movimentos sociais, parlamentares etc.

A Escola de Governo é um dos poucos espaços midiáticos disponíveis para Requião fazer o debate público e divulgar suas ações político-administrativas. Mas até na rede estatal foi cerceado.

Uma decisão da Justiça Federal estabeleceu censura prévia ao governador nos programas da Rádio e Televisão Educativa do Paraná. Requião está proibido de emitir opiniões na emissora.

O governador continua participando das transmissões, mas não pode rebater as acusações e denúncias da grande mídia e dos adversários, sob pena de multa ou cortes no áudio e nas imagens dos programas.
Anti-chavismo aqui também
O cerco completa-se com as ingerências do agronegócio, dos empreiteiros viciados em esquemas de obras, do silêncio da mídia nacional e de grande parte dos setores progressistas no Brasil.

Outro detalhe: no Paraná o salário mínimo regional, praticado no sul do país, é de R$ 475,20. O salário mínimo nacional está fixado em R$ 415,00.

Taí um lugar ideal para um arrojado discurso de Hugo Chávez. No Maranhão, tanto Sarney quanto os tucanos - hegemônicos no governo Jackson Lago (PDT) - detestam a esquerda, a revolução bolivariana, a integração latino-americana, o MST e os pobres em geral.

Preferem a Alca, o agronegócio com transgênicos, a Daslu, Bush, Uribe, os editoriais da Folha de São Paulo e os comentários de Alexandre Garcia sobre Chávez e a política externa brasileira.

Fora as disputas paroquiais, Sarney e os tucanos maranhenses são tão iguais...

Um comentário:

Lúcia Pacheco disse...

Um exemplo prático da hegemonia por conta da burguesia, mas ainda bem que ainda temos Hugos Chávez, para pisar no calo desse sistema de poder.