Guto Couto *
Como todo começo de ano, começamos 2009 cheios de esperanças. Em se tratando de um ano em que os administradores públicos mais próximos da população iniciam mandatos, mais ainda. Depositamos nos novos prefeitos, via de regra, as expectativas de melhores condições de vida para nós e para os demais cidadãos.
O quadro político que se instalou no Maranhão indica, entretanto, que devemos ter mais dúvidas do que certezas, pelo menos ao se tentar compreender, sob a ótica da ideologia, as relações que construíram o cenário que está por vir.
A despeito da intenção - cada vez mais ideológica - de querer-se afastar a ideologia do nosso dia-a-dia, isso parece impossível.
No Maranhão temos um governador de discurso e história ligados a um partido de esquerda. Na presidência da República também. No Maranhão temos um ex-presidente historicamente ligado à ditadura e aos partidos de direita; e nas principais cidades do estado tivemos candidaturas de perfil mais à esquerda e mais à direita. São Luís e Imperatriz colocaram candidaturas de cariz ideológico bem definido para a avaliação dos eleitores.
Qual quadro deveríamos esperar dessa conjuntura? Simples: o presidente apóia o governador e, juntos, apóiam os candidatos de esquerda (ou da esquerda, pois nem sempre um candidato de partido de esquerda é ideologicamente de esquerda).
O cenário indica, ao contrário, um nó ideológico poucas vezes visto por aqui.
O presidente não apoiou o governador na sua candidatura, preferindo aliar-se à tão mal-falada oligarquia do estado e aos que apoiaram a ditadura. O governador não apoiou os candidatos da esquerda em Imperatriz e São Luís, preferindo alojar-se no ninho daqueles que têm uma prática política muito diferente da que ele defende publicamente.
Ou seja: quando no poder, o partido dos candidatos apoiados pelo governador encaminhou tacanhamente a reforma agrária, privatizou bens públicos e apostou no "mercado" como o salvador político-econômico do país, em detrimento dos investimentos de cunho social.
Ao contrário, pelo menos em São Luís, os representantes da ex-oligarquia quiseram aproximar-se da candidatura mais à esquerda e foram contrários à candidatura de direita, de cujo governo (federal) participaram ativamente em passado recente.
Na tentativa de conseguir retirar o governador do cargo, os derrotados entraram com ação na justiça eleitoral. Diante da situação, houve manifestações favoráveis à permanência do governador. Quem está á frente delas publicamente? Os amigos à direita do governador? Não. Movimentos de trabalhadores, inclusive rurais, que sempre tiveram um discurso de esquerda.
Concluamos: quem puxou as manifestações a favor do governador de esquerda, que não foi apoiado pelo presidente de esquerda e que apoiou candidatos de direita, foram os movimentos de esquerda, mesmo diante da clara posição dos partidos de direita em relação à reforma agrária e às políticas sociais.
É mais que um nó. É um emaranhado ideológico.
Isso não muda as alvíssaras aos novos prefeitos, mas expõe uma prática que há muito deveria ser excluída da política. A que afirma que "eu não voto em partido (e na sua ideologia), mas no candidato".
* Guto Couto (jornalista e professor)
Como todo começo de ano, começamos 2009 cheios de esperanças. Em se tratando de um ano em que os administradores públicos mais próximos da população iniciam mandatos, mais ainda. Depositamos nos novos prefeitos, via de regra, as expectativas de melhores condições de vida para nós e para os demais cidadãos.
O quadro político que se instalou no Maranhão indica, entretanto, que devemos ter mais dúvidas do que certezas, pelo menos ao se tentar compreender, sob a ótica da ideologia, as relações que construíram o cenário que está por vir.
A despeito da intenção - cada vez mais ideológica - de querer-se afastar a ideologia do nosso dia-a-dia, isso parece impossível.
No Maranhão temos um governador de discurso e história ligados a um partido de esquerda. Na presidência da República também. No Maranhão temos um ex-presidente historicamente ligado à ditadura e aos partidos de direita; e nas principais cidades do estado tivemos candidaturas de perfil mais à esquerda e mais à direita. São Luís e Imperatriz colocaram candidaturas de cariz ideológico bem definido para a avaliação dos eleitores.
Qual quadro deveríamos esperar dessa conjuntura? Simples: o presidente apóia o governador e, juntos, apóiam os candidatos de esquerda (ou da esquerda, pois nem sempre um candidato de partido de esquerda é ideologicamente de esquerda).
O cenário indica, ao contrário, um nó ideológico poucas vezes visto por aqui.
O presidente não apoiou o governador na sua candidatura, preferindo aliar-se à tão mal-falada oligarquia do estado e aos que apoiaram a ditadura. O governador não apoiou os candidatos da esquerda em Imperatriz e São Luís, preferindo alojar-se no ninho daqueles que têm uma prática política muito diferente da que ele defende publicamente.
Ou seja: quando no poder, o partido dos candidatos apoiados pelo governador encaminhou tacanhamente a reforma agrária, privatizou bens públicos e apostou no "mercado" como o salvador político-econômico do país, em detrimento dos investimentos de cunho social.
Ao contrário, pelo menos em São Luís, os representantes da ex-oligarquia quiseram aproximar-se da candidatura mais à esquerda e foram contrários à candidatura de direita, de cujo governo (federal) participaram ativamente em passado recente.
Na tentativa de conseguir retirar o governador do cargo, os derrotados entraram com ação na justiça eleitoral. Diante da situação, houve manifestações favoráveis à permanência do governador. Quem está á frente delas publicamente? Os amigos à direita do governador? Não. Movimentos de trabalhadores, inclusive rurais, que sempre tiveram um discurso de esquerda.
Concluamos: quem puxou as manifestações a favor do governador de esquerda, que não foi apoiado pelo presidente de esquerda e que apoiou candidatos de direita, foram os movimentos de esquerda, mesmo diante da clara posição dos partidos de direita em relação à reforma agrária e às políticas sociais.
É mais que um nó. É um emaranhado ideológico.
Isso não muda as alvíssaras aos novos prefeitos, mas expõe uma prática que há muito deveria ser excluída da política. A que afirma que "eu não voto em partido (e na sua ideologia), mas no candidato".
* Guto Couto (jornalista e professor)
CARO GUTO,
ResponderExcluirEM PRIMEIRO LUGAR, OBRIGADO PELA PARTICIPAÇÃO NO BLOGUE.
BEM, EU VEJO AS COISAS BEM ATADAS NA ATUAL CONJUNTURA. HÁ DOIS GRUPOS DE DIREITA: SARNEY E JACKSON. AMBOS FUNDAMENTADOS NO SISTEMA OLIGÁRQUICO.
EM 2010 É MUITO PROVÁVEL QUE JACKSON OPTE PELA CANDIDATURA DO TUCANO JOSÉ SERRA, JÁ QUE O GOVERNO BANCOU A ELEIÇÃO DE CASTELO E MADEIRA NOS MAIORES COLÉGIOS ELEITORAIS DO MARANHÃO.
SARNEY VAI TENTAR SE AGARRAR A LULA, MAS SE PERCEBER QUE SERRA TEM MAIS CHANCES, ELE VAI COM OS TUCANOS.
A SAÍDA PELA ESQUERDA NO MARANHÃO ESTÁ COM A REEDIÇÃO E AMPLIAÇÃO DA UNIDADE POPULAR (PT + PC do B), COM FLAVIO DINO GOVERNADOR E BIRA DO PINDARÉ SENADOR.
MAIS QUE ISSO, É PRECISO UM BOM PROGRAMA DE GOVERNO E UM DISCURSO CLARO DE ALTERNATIVA À OLIGARQUIA SARNEISTA-JACKISTA.
ED WILSON
Ed, tua análise nos parece lúcida, pois considera os "atos e fatos" da política cotidiana.
ResponderExcluirMas pergunto: não estariam os partidos contribuindo, ao permitirem essa "orgia", com a tentativa de desideologizar (se é que o termo existe)o debate e a ação política por não assumirem suas verdaderias opções e/ou permitirem que sejam utilizados pelos nomes e não pelas idéias?
Guto,
ResponderExcluirA maioria dos partidos está mergulhada no pragmatismo político, mas acredito que ainda é possível recuperar o viés ideológico mínimo.
Ed Wilson