Deuzilene Pedra Viegas *
O caso de violência contra mulher envolvendo o goleiro Bruno é a novidade da mídia no momento. No entanto, situações de violências contra mulheres no Brasil não podem ser tratadas da mesma forma.
São muitas as Elizas, Mércias, Marias, Cláudias, Marinas, Rafaelas, Carmens e tantas outras que todos os dias são vítimas das mais variadas formas de violências contras as mulheres.
Em um país machista como o Brasil, com forte raiz patriarcal, onde o poderio masculino é a regra, não se consideram as situações vergonhosas a que são expostas milhares de mulheres no cotidiano das relações de gênero. São as vítimas da falta de acesso à saúde digna, da falta de acesso à educação, do mercado de trabalho desigual etc.
No caso de Eliza a situação que a expôs a morte é conhecidíssima de milhares de mulheres, ela queria provar que seu filho tem um pai. No entanto, não teve tempo de proporcionar esse direito à criança, teve sua vida ceifada antes.
Fora mais uma vítima do machismo, que parece considerar que na hora do sexo há de se ter um casal e na hora de criar o filho há que se ter uma mãe. Não se discute aqui a relação extraconjugal do casal, a qual não podemos e não devemos julgar, mas a forma como teve fim.
Um fim que parece anunciado a que decide enfrentar o poderio masculino, “tendo a audácia” de por fim a relacionamento violento, de requerer o reconhecimento da paternidade de um filho, ou qualquer outra ação que possa desafiar a “pré-estabelecida“ relação de gênero em nossa sociedade.
Uma sociedade que considera normal, até “natural” que um homem tenha uma esposa ou namorada, concomitante com uma ou várias amantes como seria o caso de Bruno.
Enfim, aos indivíduos do sexo masculino esse tipo de comportamento é incentivado e até exaltado, ao passo que as mulheres que ousam ter esse tipo de comportamento são desqualificadas, com adjetivos pejorativos.
Juntam-se a essas mulheres outras tantas. São as vítimas do sistema de saúde, morrendo por eclampsia na faixa etária dos 20 anos, por falta de um pré-natal adequado, bem como as vítimas do câncer de colo uterino por não ter acesso ao Saúde da Família, além de tantas outras, vitimadas pelo descaso, pela omissão dos governantes, em todas as esferas e nas mais variadas situações.
São mortes veladas, consentidas que vitimam, além das próprias mulheres, famílias inteiras deixando órfãs milhares de crianças. Assim sendo, o problema não é Bruno, mas a certeza da impunidade que cerca os homens.
Matar mulher neste país é tradição, tanto quanto não ser punido por isso. Ainda convivemos com homens que se consideram donos de “suas mulheres”, assim sendo podem dispor de seus corpos como bem entenderem, inclusive matando-as, quando os desagradam.
No entanto, nessa situação específica o que observamos é que algumas pessoas se impressionam não com o assassinato, mas com a brutalidade como foi cometido, como se fosse possível assassinato sem brutalidade.
Daí vêm alguns questionamentos: será que matar ou consentir que uma mulher morra em um hospital ou em sua residência, por falta de acesso ao serviço ou por omissão dos profissionais, desviar recursos públicos que deveriam ser destinados aos serviços voltados a esse segmento social não é brutal?
Um assassinato pode ser mais ou menos brutal dependo de quem ou que situação o provocou? Qual a diferença entre a morte de uma mulher provocada por um jogador de futebol, por um político corrupto, por um profissional omisso. Na prática todas são igualmente cruéis e seus causadores ou cúmplices têm a quase certeza da impunidade.
Essas ocorrências nos levam a uma conclusão: a impunidade nos casos envolvendo violências contra mulher é geralmente uma regra de situações, infelizmente cotidianas, que parecem isoladas aos grandes escândalos midiáticos.
Historicamente no Brasil o Estado não pune homens que praticam violências contra mulher, seja ela qual for. Daí vem a grande questão: quem punirá o Estado por essa omissão?
Deuzilene Pedra Viegas é assistente social.
O caso de violência contra mulher envolvendo o goleiro Bruno é a novidade da mídia no momento. No entanto, situações de violências contra mulheres no Brasil não podem ser tratadas da mesma forma.
São muitas as Elizas, Mércias, Marias, Cláudias, Marinas, Rafaelas, Carmens e tantas outras que todos os dias são vítimas das mais variadas formas de violências contras as mulheres.
Em um país machista como o Brasil, com forte raiz patriarcal, onde o poderio masculino é a regra, não se consideram as situações vergonhosas a que são expostas milhares de mulheres no cotidiano das relações de gênero. São as vítimas da falta de acesso à saúde digna, da falta de acesso à educação, do mercado de trabalho desigual etc.
No caso de Eliza a situação que a expôs a morte é conhecidíssima de milhares de mulheres, ela queria provar que seu filho tem um pai. No entanto, não teve tempo de proporcionar esse direito à criança, teve sua vida ceifada antes.
Fora mais uma vítima do machismo, que parece considerar que na hora do sexo há de se ter um casal e na hora de criar o filho há que se ter uma mãe. Não se discute aqui a relação extraconjugal do casal, a qual não podemos e não devemos julgar, mas a forma como teve fim.
Um fim que parece anunciado a que decide enfrentar o poderio masculino, “tendo a audácia” de por fim a relacionamento violento, de requerer o reconhecimento da paternidade de um filho, ou qualquer outra ação que possa desafiar a “pré-estabelecida“ relação de gênero em nossa sociedade.
Uma sociedade que considera normal, até “natural” que um homem tenha uma esposa ou namorada, concomitante com uma ou várias amantes como seria o caso de Bruno.
Enfim, aos indivíduos do sexo masculino esse tipo de comportamento é incentivado e até exaltado, ao passo que as mulheres que ousam ter esse tipo de comportamento são desqualificadas, com adjetivos pejorativos.
Juntam-se a essas mulheres outras tantas. São as vítimas do sistema de saúde, morrendo por eclampsia na faixa etária dos 20 anos, por falta de um pré-natal adequado, bem como as vítimas do câncer de colo uterino por não ter acesso ao Saúde da Família, além de tantas outras, vitimadas pelo descaso, pela omissão dos governantes, em todas as esferas e nas mais variadas situações.
São mortes veladas, consentidas que vitimam, além das próprias mulheres, famílias inteiras deixando órfãs milhares de crianças. Assim sendo, o problema não é Bruno, mas a certeza da impunidade que cerca os homens.
Matar mulher neste país é tradição, tanto quanto não ser punido por isso. Ainda convivemos com homens que se consideram donos de “suas mulheres”, assim sendo podem dispor de seus corpos como bem entenderem, inclusive matando-as, quando os desagradam.
No entanto, nessa situação específica o que observamos é que algumas pessoas se impressionam não com o assassinato, mas com a brutalidade como foi cometido, como se fosse possível assassinato sem brutalidade.
Daí vêm alguns questionamentos: será que matar ou consentir que uma mulher morra em um hospital ou em sua residência, por falta de acesso ao serviço ou por omissão dos profissionais, desviar recursos públicos que deveriam ser destinados aos serviços voltados a esse segmento social não é brutal?
Um assassinato pode ser mais ou menos brutal dependo de quem ou que situação o provocou? Qual a diferença entre a morte de uma mulher provocada por um jogador de futebol, por um político corrupto, por um profissional omisso. Na prática todas são igualmente cruéis e seus causadores ou cúmplices têm a quase certeza da impunidade.
Essas ocorrências nos levam a uma conclusão: a impunidade nos casos envolvendo violências contra mulher é geralmente uma regra de situações, infelizmente cotidianas, que parecem isoladas aos grandes escândalos midiáticos.
Historicamente no Brasil o Estado não pune homens que praticam violências contra mulher, seja ela qual for. Daí vem a grande questão: quem punirá o Estado por essa omissão?
Deuzilene Pedra Viegas é assistente social.
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