A investigação teve como foco a propagação ideológica dos partidos políticos brasileiros através dos meios de comunicação, especificamente nos programas partidários obrigatórios na televisão.
Na quase totalidade das legendas pesquisadas o debate ideológico passa ao largo da propaganda partidária. Entrevistado pelo blogue, Carlos Agostinho comenta os resultados do trabalho.
Blogue - Qual a motivação da sua pesquisa? Por que escolheu esse tema?
R – Já existem trabalhos que analisam os programas político-eleitorais no Brasil, alguns até publicados em forma de livro. Mas a nossa motivação foi o estudo dos programas institucionais, aqueles que vão ao ar todos os anos e que são produzidos pelos partidos, independentemente do cenário eleitoral. Junto a isso, gostaríamos de entender a posição dos partidos políticos brasileiros em relação à tão divulgada ideia de que a ideologia acabou e que o pensamento liberal é preponderante.
Blogue - Como o trabalho foi feito o trabalho de levantamento e análise dos dados?
R – Estudamos os programas institucionais levados ao ar nos anos de 2009 e 2010 do PT, PMDB, PSDB, PP, DEM, PR, PSB, PDT, PTB, PSC, PC do B, PV e PPS, com exceção do PP, que teve analisado somente o programa de 2009. Foram analisados a legislação pertinente aos programas partidários no Brasil, os documentos que dão fundamento políticos aos partidos (programas, estatutos, históricos...) e o conteúdo dos programas televisivos dos partidos citados.
Blogue - Entre os partidos pesquisados, qual deles é incisivo em apresentar seu respectivo perfil ideológico?
R - Nenhum é incisivo em apresentar o seu perfil ideológico. Percebe-se até um certo mascaramento desses temas, embora alguns partidos tenham dado indicações da ideologia que defendem. Ente os que, de alguma forma, dão essas indicações há tanto partidos de esquerda como de centro e de direita, embora os maiores partidos não tenham deixado claro a sua posição ideológica nos programas.
Blogue - No embate entre os quatro maiores partidos (PT + PMDB) e (PSDB + DEM) existe uma demarcação ideológica nos programas televisivos ou eles apresentam discursos generalizados?
R – Não há demarcação. Os partidos que mais têm cadeiras na Câmara dos Deputados e que, por extensão, são os maiores do país fogem ao debate ideológico. Nesse caso, podemos considerar que há uma espécie de vácuo ideológico, todos dizem praticamente a mesma coisa, o que, de certa forma, ratifica o discurso de que o debate ideológico hoje é relativizado.
Blogue - Analisando sob a ótica da exposição midiática, podemos dizer que existe um vazio ideológico nos partidos políticos brasileiros?
R – Embora todos os partidos apresentem indicações do seu perfil ideológico nos seus documentos formais, o mesmo não é percebido nos programas televisivos. Por isso não é incorreto afirmarmos que, do ponto de vista da exposição midiática, os partidos brasileiros fogem a esse debate, indicando que há uma opção pelo vazio ideológico. Claro que, com o avanço tecnológico dos suportes comunicacionais, era de se esperar que o discurso político-partidário também sofresse alterações, mas percebe-se nitidamente que não apenas maneiras de falar e de tratar as imagens foram modificadas, o conteúdo ficou bem mais superficial e foge dos grandes temas ideológicos.
Blogue - Depois de finalizar a pesquisa, o que o senhor sugeriria para a proposta de Reforma Política no âmbito da propaganda partidária?
R – Há uma legislação que determina que os partidos políticos utilizem os programas gratuitos no rádio e TV para, entre outras coisas, disseminar o seu ideário, mas isso não está sendo seguido. A quem interessaria os programas partidários na TV com um conteúdo diferente daquele que os partidos pregam nos seus documentos? Acredito que a sociedade deveria ser mais informada sobre os fundamentos da legislação brasileira e sobre o regimento dos partidos para ter a possibilidade de perceber essas incongruências. Quem sabe pudéssemos discutir a possibilidade de algum órgão acompanhar a atuação dos partidos nesse sentido, expondo para a sociedade aqueles que destoam da legislação ao omitir os seus fundamentos nos programas gratuitos que são, na verdade, bancados pela sociedade brasileira.
Blogue - Determinados partidos, como o recém-criado PSD, ao assumirem uma postura de "centro" não estariam fugindo ao debate ideológico?
R – Pode ser tanto isso como, numa hipótese pouco provável, também a possibilidade de esse novo partido estar assumindo publicamente o seu perfil ideológico, coisa que os demais relutam, com exceções, em fazer. Precisamos acompanhar os programas institucionais do novo PSD para vermos se ele assumirá a sua situação de “centro” publicamente. Se isso acontecer ele estará sendo fiel ao seu discurso.
muito interessante os resultados da pesquisa. Fiquei impressionada com o resultado já q, de fato, imaginamos q as posturas ideológicas dos partidos seriam amplamente divulgadas e debatidas. Eis o valor da pesquisa científica, nos mostra muito mais do q imaginávamos saber. Parabéns pela pesquisa e pela entrevista. Larissa Leda.
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