O desfile de equívocos dos enredos patrocinados no Carnaval de 2012
Samuel Marinho *
Ainda há uma discussão interminável acerca da perda de pontos nos quesitos Enredo e Comissão de Frente que levaram a Beija-Flor a uma das suas piores colocações desde a saída de Joãosinho Trinta, há exatos 20 anos.
Simples.
A Comissão de Frente apresentada pela escola foi uma parafernália que não evoluiu e causou uma poluição visual desde o começo de sua apresentação. O que era pra ser a encenação de uma das mais famosas lendas da cidade de São Luís, não prosperou na avenida. Ou talvez tenha prosperado e os jurados não entenderam, pois definitivamente a serpente não acordou na Sapucaí.
Na tentativa infeliz de imitar o estilo Paulo Barros, a Comissão de Frente da Beija-Flor de 2012 conseguiu um curioso recorde: a pior nota, pasmem!, tirada pela Escola de Nilópolis desde que a leitura dos quesitos passou a ser fracionada em decimais: um, digamos, irrisório 9.7. Uma mancha irreparável no currículo da Comissão de Carnaval comandada por Laíla que vinha de uma coleção histórica de campeonatos e vice-campeonatos desde sua formação em 1998.
Outro dado estatístico do carnaval sobre São Luís, “O Poema Encantado do Maranhão”, demonstrou a incompetência da Comissão de Carnaval na concepção e desenvolvimento do Enredo deste ano, o que se revelou numa repetição surpreendente de quatro notas 9.8.
Para se ter uma idéia de como esses números são medíocres em se tratando de uma grande escola de samba como é a Beija-Flor, só fazendo uma análise comparativa. No quesito Enredo, a Escola de Nilópolis só foi superior às rebaixadas Renascer de Jacarepaguá e Unidos do Porto da Pedra, esta última que levou a história do iogurte para o sambódromo.
O dado se torna ainda mais interessante quando consideramos que o Enredo é um dos poucos quesitos que já chega pronto na Avenida. É a concepção prévia do carnavalesco, ou comissão de carnaval no caso da Beija-Flor, que vai desde toda pesquisa inicial sobre o tema proposto até a forma como ele se apresenta e se desenvolve na seqüência de alas e carros alegóricos pré-definida pela Escola meses antes do desfile.
São números relevantes, que talvez no calor da apuração ainda não tenham causado as reflexões necessárias. Ou talvez sim, pelo menos do ponto de vista de que “cabeças vão rolar”, com a notícia de que o até então intocável Laíla poderia deixar a Beija-Flor ainda este ano.
Claro que há, em torno do julgamento do quesito Enredo, toda uma discussão provinciana, como não poderia deixar de ser, acerca da beleza ou de quão frutífero pode ser o tema proposto, no caso São Luís do Maranhão. Afinal de contas a Beija-Flor já conquistou títulos falando de lugares bem menos convidativos turisticamente, como Macapá, no carnaval de 2008.
As coisas não se confundem, o julgamento é técnico. Simplesmente foi desastrosa a concepção e desenvolvimento levados pela Comissão de Carnaval da Beija-Flor acerca do tema. E neste caso cinco cabeças pensaram pior que uma. A história narrada não tinha um fio condutor. Foi um desfile, em tons tristes e nada convidativos, de estereótipos e equívocos de todos os tipos sobre a Ilha Bela: históricos, artísticos (na ausência do gênio João do Vale, por exemplo), de cultos e de cultura popular.
Nesse caso assiste razão aos que questionam o retorno sobre qualquer investimento que se tenha feito na escola Beija-Flor de Nilópolis que pudesse vir a beneficiar e promover turisticamente a cidade de São Luís. Talvez tenha se dado efeito contrário, tanto pela concepção triste do carnaval apresentado, quanto pelo resultado do julgamento das notas e sua repercussão negativa para a escola.
O que fica nas entrelinhas é um questionamento mais amplo e incômodo sobre o futuro do carnaval de passarela no Rio de Janeiro no que tange às formas de captação de recursos pelas Escolas de Samba.
Não por coincidência, os enredos patrocinados, como o da Porto da Pedra que foi bancada pela Danone para falar da História do Iogurte, quanto o da Beija-Flor, patrocinada pelo Governo do Estado do Maranhão para homenagear os 400 anos de São Luís, tendem a esbarrar numa linha de desenvolvimento superficial e limitadora da arte do carnaval.
E não sou eu, mero amador dessa arte, que estou dizendo isso, são os jurados da LIESA - Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Ainda bem.
* Samuel Marinho é contador e servidor público federal
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