Ana Maria Marques *
Fim de tarde... Carros, inúmeros, parecem não caber nas estreitas avenidas. A pressa de voltar pra casa, sobretudo na sexta-feira, atiça a agonia das gentes todas...
Chico Buarque e sua valsinha embalavam minha fuga da adrenalina urbana. É sempre assim: a música me dirige, ou então sucumbiria ao barulho das buzinas, e já há tanto barulho em mim, realmente dispenso as buzinas!!
O celular tocou. Não ouvi... Acho que os acordes de Chico me transportaram para um outro lugar, só meu e dele... mas, como diz a Rita Lee, mulher é bicho esquisito, tem um sexto sentido maior que a razão: sem motivos aparentes, peguei o celular. Ligação não atendida. Código de Fortaleza. Claro que fiquei curiosa. Retornei, sem sucesso. Depois de mútuas tentativas frustradas, finalmente, alguém atendeu. – Dra Helena? (Quem me chamaria de Dra. Helena naquele horário?)
- Sim, pode falar. – Respondi formalmente, e pra minha surpresa não era trabalho.
A partir daquele telefonema eu passaria a me sentir personagem de um conto, no melhor estilo rodrigueano.
– Perdoe-me, estou no trânsito, você poderia me ligar um pouco mais tarde? Respondi.
A idéia era fugir, e ainda tentei, mas meu interlocutor era decididamente incisivo. Respondeu-me que também estava no trânsito, e também estava num engarrafamento, pôs-se a falar e pôs-me a falar... Enfim, era preciso enfrentar a neblina!!!
Trocamos algumas palavras, até que eu ficasse sabendo que no domingo ele estaria aqui. Quem sabe um café, na segunda?
Final de semana esquisito. Esperei alguém que não conhecia, que me impelia ao desconhecido: era preciso por o chão nos pés...
Domingo. 23:22h.
– Oi, cheguei!!! – bendita mensagem?!?!!
Estava no banho, mesmo assim respondi. Mais uma inusitada conversa. A linguagem subliminar se impôs. Era imperativo que se lesse nas entrelinhas. E ele o fez. Mais que isso. Ele me impeliu a fazê-lo.
Não houve compromisso com "continuidades". O descontínuo tem parte com o incerto e se explicita através de um dilema: ou acordamos com uma realidade fora do sonho, de cuja força participamos, ou aderimos ao sonho como uma cifra do não realizado, sem prejuízo de uma suposta poesia.
O jogo. Mensagens. Era um delírio impostamente contido que se iniciava. Desejo.
O encontro.
Fim de tarde. Diante de mim estava aquele olhar, e ele era real. Naturalidade mal disfarçada. Conversa polida, gestos, olhares... ‘Sem jeito eu lhe pegava as mãos, como quem desatasse um nó...’
Nossos corpos unidos naquele abraço: sonho, desejo e fantasia... arrebatamento!!
Mais uma noite nos separava em nossa agonia. Uma espera excitante, incitante. E finalmente nossos corpos se uniram, nosso suor era um só, nosso gosto, nosso momento, intenso.
Meu corpo inteirou falou. Delírio.
Roda viva. Volta inteira. Era preciso adentrar a neblina e por o chão nos pés.
Fim de tarde em São Luís... “A moça do sonho”, Chico me embalando.
“Há de haver algum lugar/Um confuso casarão/Onde os sonhos serão reais/E a vida não(...)Um lugar deve existir/Uma espécie de bazar/Onde os sonhos extraviados/Vão parar/Entre escadas que fogem dos pés/E relógios que rodam pra trás/Se eu o pudesse encontrar /Não voltava jamais”
É sempre assim: a música me dirige, ou então sucumbiria ao barulho das buzinas, afinal, já há tanto barulho em mim, realmente dispenso as buzinas!!!!
*Ana Maria Marques Ribeiro é graduada em Direito e mestre em Políticas Públicas (ambos pela UFMA), professora de Direito Ambiental da Faculdade São Luiz e superintendente de Administração na SEMED.
Eu nem sei que é essa moça, mas já me apaixono só ver como escreve... Sensibilidade é para poucos!
ResponderExcluirRanyere, obrigada pela maneira carinhosa com que me vês! Fico feiz por saber que você gosta do que escrevo! Grande abraço, Ana
ResponderExcluirRanyere, obrigada pela maneira carinhosa com que me vês! Fico feiz por saber que você gosta do que escrevo! Grande abraço, Ana
ResponderExcluirRanyere, obrigada pela maneira carinhosa com que me vês! Fico feiz por saber que você gosta do que escrevo! Grande abraço, Ana
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