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quinta-feira, 10 de maio de 2012

NOITE DE LUA E GERÂNIOS


Ana Maria Marques *

Ia caminhando, pela praia, silente, quase ausente quando logo a percebeu. Sentada na areia branca, saia longa por entre as pernas, cabelos pretos lisos e soltos, tremulavam ao vento misturando-se às lágrimas que, insistentes, molhavam seu rosto.

Aquela visão quase o comoveu, na verdade, o enterneceu. Sentiu forte o ímpeto de acolhê-la em seus braços e naquele abraço silente, dizer-lhe muito.

Ela, ao perceber-lhe o olhar, lembrou-se, intimamente, das palavras da poeta: “Uma noite de lua pálida e gerânios, ele virá com a boca e mão incríveis, tocar flauta no jardim.”  Nem era noite, nem lua havia, nem gerânios...boca e mãos incríveis e no seu olhar, tocaram flauta naquele momento.

Ficaram ali, parados... a contemplar suas íntimas solidões, era o que lhes acompanhava, cada um a seu modo. Solidão e o olhar típico daqueles que se perguntam se esquecer é o mesmo que ter perdido.

O barulho do mar, como um mantra, era o único barulho que os envolvia, além do ruidoso silêncio que cada um dos dois carregava consigo.

E ele, assim tão de repente, de um jeito diferente, aproximou-se: 
- Acho que estamos, ambos, num estado de perplexidade ferida... posso chorar com você?  - Disse num sorriso triste e verdadeiro.

Ela, sorriso entre as lágrimas, perguntou:
- perplexidade ferida? Interessante...disse entre risos.
- Perplexidade ferida é um estado de solidão, digamos assim. É como se você estivesse preso numa armadilha de onde só consegue escapar com a ajuda de quem te abandonou – Explicou.

Novo silêncio se estabeleceu. Mas, a dor, esta já não era mais tão latente. Trocaram olhares no entrelace das mãos. Toques sutis e o silêncio. Ela recostou-se sobre seu ombro e, intimamente, agradeceu.

- Lembrei de uma frase que ouvi num filme: “A primeira coisa que o ser abandonado tem que fazer, além de chorar copiosamente, é informar as pessoas o ocorrido” . Chorar, choramos. Mas, confesso que me falta coragem para anunciar que estaremos mais juntos.

Olharam-se súplices. Beijaram-se. Entregaram-se. Encontraram-se.
 - “alguma força me arrastava para uma escolha que eu não queria fazer...talvez eu só estivesse precisando de um lugar e o resto eu deixaria para descobrir depois."  - Por que estávamos chorando?  - Ele falou enlaçando-a pela cintura. E seguiram. Juntos...num abraço silente.

* Ana Maria Marques é advogada e mestra em Políticas Públicas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa moça como escritora é uma excelente advogada.