Ana Maria Marques *
Ia caminhando, pela praia,
silente, quase ausente quando logo a percebeu. Sentada na areia branca, saia
longa por entre as pernas, cabelos pretos lisos e soltos, tremulavam ao vento
misturando-se às lágrimas que, insistentes, molhavam seu rosto.
Aquela visão quase o comoveu, na
verdade, o enterneceu. Sentiu forte o ímpeto de acolhê-la em seus braços e
naquele abraço silente, dizer-lhe muito.
Ela, ao perceber-lhe o olhar,
lembrou-se, intimamente, das palavras da poeta: “Uma noite de lua pálida e gerânios, ele virá com a boca e mão
incríveis, tocar flauta no jardim.”
Nem era noite, nem lua havia, nem gerânios...boca e mãos incríveis e no
seu olhar, tocaram flauta naquele momento.
Ficaram ali, parados... a
contemplar suas íntimas solidões, era o que lhes acompanhava, cada um a seu
modo. Solidão e o olhar típico daqueles que se perguntam se esquecer é o mesmo
que ter perdido.
O barulho do mar, como um mantra,
era o único barulho que os envolvia, além do ruidoso silêncio que cada um dos
dois carregava consigo.
E ele, assim tão de repente, de
um jeito diferente, aproximou-se:
- Acho que estamos, ambos, num estado de
perplexidade ferida... posso chorar com você?
- Disse num sorriso triste e verdadeiro.
Ela, sorriso entre as lágrimas,
perguntou:
- perplexidade ferida? Interessante...disse
entre risos.
- Perplexidade ferida é um estado de solidão,
digamos assim. É como se você estivesse preso numa armadilha de onde só
consegue escapar com a ajuda de quem te abandonou – Explicou.
Novo silêncio se estabeleceu.
Mas, a dor, esta já não era mais tão latente. Trocaram olhares no entrelace das
mãos. Toques sutis e o silêncio. Ela recostou-se sobre seu ombro e,
intimamente, agradeceu.
- Lembrei de uma frase que ouvi num filme: “A
primeira coisa que o ser abandonado tem que fazer, além de chorar copiosamente,
é informar as pessoas o ocorrido” . Chorar, choramos. Mas, confesso que me
falta coragem para anunciar que estaremos mais juntos.
Olharam-se súplices. Beijaram-se.
Entregaram-se. Encontraram-se.
- “alguma
força me arrastava para uma escolha que eu não queria fazer...talvez eu só
estivesse precisando de um lugar e o resto eu deixaria para descobrir
depois." - Por que estávamos
chorando? - Ele falou enlaçando-a pela
cintura. E seguiram. Juntos...num abraço silente.
* Ana Maria Marques é advogada e mestra em Políticas Públicas.
Essa moça como escritora é uma excelente advogada.
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