Melhores
intérpretes:
1º lugar: Keyla
Santana, interpretando “Alfama”, de César Borralho;
2º lugar: Nuno
Lilah Lisboa, interpretando “Eu comi Oswald de Andrade”, de Kátia Dias;
3º lugar: Roberto
Froes, interpretando “Flor Caída”, de Sílvio Rayol;
A Comissão
Julgadora de Melhores Poemas conferiu ainda menção de destaque para quatro
textos concorrentes: ‘Alfama’, de César Borralho; ‘Uma faca só lâmina’, de André
Rios; ‘Bagagem’, de Rafael de Oliveira; e ‘Paisagem Vertigem’, de Elias Ricardo
de Souza.
O festival é uma
das crias do Projeto Papoético, idealizado pelo poeta, jornalista e pesquisador
de cultura popular Paulo Melo Sousa, em novembro de 2010.
O Papoético acontece toda
quinta-feira, no ChicoDiscos, com recitais
de poesia, lançamentos de livros, canjas musicais, exibição de filmes,
discussões filosóficas e exposição de ideias.
Nos encontros semanais, o público pode entrar em
contato com o que é produzido na arte maranhense e brasileira e ainda encontrar pessoas que têm participação ativa na construção da cultura
contemporânea.
Diante da ausência
de novos eventos e falência de antigas iniciativas da Prefeitura e do Governo
do Estado sobre Literatura, o Papoético tomou a cena e já ocupa um importante
espaço na vida cultural da cidade. Breve haverá o lançamento do concurso de fotografia
e de contos.
Veja o poema
vencedor
ANTE O ESPELHO
Marco Damasceno,
antes de morrer,
tocou no espelho
imagem que o surpreendia:
o rosto com o
qual estivera tanto tempo
atrás da lâmina
lhe surgia outro
e sorria, algo
amargo
porque o tempo
era de despedida.
Damasceno com os
dedos procurava atento
as marcas e os
sinais que, solícitos
por anos
desenhavam sua presença
neste mundo. Lá
fora, na rua estreita
(onde os judeus
passavam e o outono
acendia um lento
punhal de ouro
com o qual
traçava
roxas filigranas
nas estátuas) lá
fora a rua
prosseguia
seus ritos e
ninguém adivinhava que
na altura do
número 600, terceiro andar
entre jornais ainda
por ler
e
uma estante com
livros de lombada escura
cartas de outra
década,
cadernos com
poemas de improviso
diante de um
espelho em que já não se reconhecia
Marco Damasceno
iria morrer.
Com os dedos ele
marcava
os contornos
da face naquela
opaca e lúcida janela:
olhos, óculos
poucos cabelos
o bigode branco
os
lábios
ressecados
Marco Damasceno
era Marco
Damasceno? Assim perguntava
uma voz que
súbita irrompia
daquele instante
suspenso
em que cada
coisa é liberta de seu peso;
em que o tempo
entreabre
sua maquinaria
extrema
e apresenta o
núcleo – fruto
feito de nada;
e Damasceno,
diante do espelho, diante
de um senhor com
oitenta anos
e achaques
e rugosas
superfícies
e os dedos
já cansados de inspeções.
Marco Damasceno
que escrevera
livros
que estudara
línguas
que sabia da
palavra
a densa teia de
nervos;
que juntara às
teorias
o fio de sua
sátira.
Damasceno
tão inteiro
com seu verbo sem lisonja
era a lavra de
mão estranha
cristal, cimento
e concha
presa à frente
de um vazio
luminoso que a
testemunhava.
Era a hora que
chegava.
E era ele esse
vazio
E o outro se
despedia.
Logo a forma no
espelho
armação
definitiva
à orgia dos
elementos
seria então
devolvida.
Logo no
esquecimento
tantas brigas,
justas umas
outras que assim
pareciam
amores frustros,
a traição dos amigos
o aceno da
glória e as dentadas da ira
Ah! Doce fumaça
isso agora
o ar
dissolveria.
Morto, menos
será que um nome
na manhã
distraída? O dia, o arco
deposto
aberto como um
rio
sem fundo
dirá suas
sílabas
vazias? Outro,
parte Marco Damasceno
mais vivo
do que quando
neste sonho
existia.
Rodrigo Pereira
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