Os lenços de papel foram marcantes em um período especial
das nossas vidas, embaladas por utopias e revoluções de todos os tipos. Como
bons militantes, a última reunião do dia acabava em cerveja.
O local predileto era um bar no São Francisco, ao som de
jazz e blues, às margens da avenida Colares Moreira, onde as especulações
políticas ampliavam-se na medida das dosagens etílicas.
Entre um e outro brinde, os mapas de conjuntura eram
desenhados nos guardanapos dispostos na mesa, riscados com caneta faber castel.
Ficavam ali, naqueles desenhos, todas as táticas da estratégia que um dia
levaria a esquerda ao poder.
Vendo o PT hoje, que coisa!...Mas é sempre bom lembrar
daqueles papéis e dos sons que animavam nossos sonhos.
Os guardanapos, em outras épocas, foram muito úteis para
mandar recados de paqueras entre as mesas de bar. Hoje, com a tecnologia
avançada, enviam-se torpedos por celular. São outras as formas de conquista.
Porém, os papéis escritos não perderam o charme. Certa vez
um amigo contou-me de suas aventuras amorosas com um fim apoteótico.
Ele encantou-se por uma moça, especialmente pelos lábios
dela, mas sofria de uma terrível timidez. Para superar o obstáculo, escreveu um
bilhete à pretendida solicitando que ela lhe desse um autógrafo.
Mas ele não queria um autógrafo tradicional. A assinatura da
moça – pedida no bilhete – deveria vir no guardanapo com o decalque dos lábios
dela, contornados de batom.
A pretendida não só atendeu à solicitação como encantou-se
por aquela cantada inusitada, rendendo ao rapaz, além do decalque dos lábios,
muitos beijos ao fim da noite.
Os guardanapos lembram também outras viagens proporcionadas
pelos manufaturados nas aulas comunitárias. Hoje, nas salas da UFMA, os delicados
papéis brancos servem para limpar a sujeira das mesas e cadeiras sempre
empoeiradas.
Há também motivos muito nobres para os guardanapos, como
enrolar salgadinhos carinhosamente e servir a alguém especial, durante um
coquetel.
Quando vejo, nas tardes de setembro, a meninada empinar papagaios
no céu de São Luís, imagino guardanapos voando, soltos, libertos, guinando os
sonhos em bailados mágicos pelo ar, escrevendo no invisível os sonhos ainda
vivos daquela mesa de bar ao som de jazz e blues.
Boas lembranças que rabisco aqui na tela branca do
computador, meu guardanapo eletrônico, onde compartilho nesta crônica alguns dos
melhores momentos da vida.
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