Chico Discos: encontro do público com a boa música em São Luís |
por Eduardo Júlio
As
três correntes musicais que mais aprecio são, em ordem de preferência,
aquela que me conduz à transcendência (música barroca), aquela que me
traz vitalidade (rock’ n’ roll) e aquela que me surpreende (jazz). O
guitarrista e bandolinista maranhense Ronaldo Rodrigues transita pela
terceira via. Ele nos ofereceu uma rara e agradável noite de jazz e de
música instrumental, na última sexta-feira, no Chico Discos, quando
apresentou o show “Black & Tal”.
Mostrando
habilidade e segurança na execução dos temas e desenvoltura no diálogo
com os músicos que o acompanharam, Ronaldo Rodrigues foi aplaudido com
entusiasmo, no final de cada música que executou, pelo público que
compareceu ao espaço para vê-lo. E mais: inseriu o bandolim, instrumento
de timbre nobre, no Brasil geralmente associado ao choro, em um
contexto musical mais amplo e, digamos, cosmopolita, como Hamilton de
Holanda já faz, embora, em ambos os casos, o DNA do choro esteja
presente.
Como
anunciado, o show foi dividido em dois tempos. Na primeira etapa,
Ronaldo dividiu a cena com o violonista Orlando Moraes, formando o Duo
Moron. A dupla executou temas instrumentais
acústicos, incluindo a delicada “Água e Vinho”, de Egberto Gismonti,
“Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antonio Maria, além de composições
de Orlando Moraes, que seguem a linha da música instrumental brasileira
mais introspectiva, corrente, aliás, pouco experimentada por aqui.
Na
primeira metade da década passada, quando frequentava a casa de
Ronaldo, sempre encontrava a dupla ensaiando e por várias vezes
perguntei quando teria a oportunidade de vê-los no palco. Este dia
chegou.
Um
único porém: o espaço não foi adequado para este tipo de sonoridade.
Afinal, o Chico Discos é um bar. No local, pessoas conversam e as
paredes não possuem uma acústica adequada. Por isso, quem estava no
fundão teve dificuldade de ouvir o violão puro de Orlando Moraes,
compositor que merece maior atenção e destaque.
Na
segunda etapa, o som mudou para o formato elétrico e foi a vez de
Ronaldo ser acompanhado pelo jovem Samir Aranha, no baixo, e pelo
baterista Moisés Mota. Ronaldo mostrou o domínio que já conquistou das
cordas da guitarra. Habilidade que vem
desenvolvendo gradativamente. A cada ano, o músico se apresenta melhor. O
jovem Samir foi seguro e cumpriu bem o dever de formar a base com os
timbres graves ao lado de quase veteranos. O baterista Moises Mota nem
se fala. Herói das baquetas desde os tempos da Mano Bantu, distribuiu
contratempos inusitados, surpresas tão necessárias numa apresentação de jazz.
O
repertório transitou entre temas de Wes Montgomery, Herbie Hancock,
John Coltrane, Jaco Pastorius, Gerorge Benson, com molde de soul e de
funk, como avisou antecipadamente Ronaldo, tentando deixar claro que não
se tratava de uma apresentação de jazz tradicional.
Confesso
que tinha ficado um pouco decepcionado com a apresentação de Ronaldo
Rodrigues, no ano passado, no Bar Odeon. Talvez, pela falta de
entrosamento demonstrado com os instrumentistas que o acompanharam
naquela noite. Bons músicos, aliás. Mas, desta vez, o papo foi outro.
Ronaldo alçou o prometido e esperado voo, demonstrando domínio de cena e
dos instrumentos que tocou.
Aliás,
o Chico Discos vem se tornando um pequeno espaço para a música
contemporânea e alternativa feita em São Luís, principalmente, para a
nova cena do rock com molde pop. Por lá, já se apresentaram Pill Veras,
André Lucap, Marcos Magah, Djalma Lúcio, entre outros, e, agora, foi a
vez de o bar abrir espaço para a música instrumental.
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