O programa Bolsa
Família é defensável, em primeiro lugar, por um motivo básico: proporcionou a
milhões de brasileiros as condições para comer carne e beber leite.
Em outro texto neste blogue havia analisado o Bolsa Família como um agente indutor do consumo
necessário à reprodução capitalista. De maneira simples: a geladeira comprada
por uma família paupérrima no interior do Maranhão alimenta a indústria em São
Paulo.
Onde antes quase
não havia dinheiro circulando, começa a ter, fazendo girar a máquina do consumo
necessária ao funcionamento do sistema.
O Bolsa Família provoca
tanto impacto na economia que já é apropriado de maneira perversa por
aproveitadores e criminosos.
Cartão de garantia
Reportagem
publicada no Jornal Pequeno deste domingo (1), de Oswaldo Viviani, revela um
esquema de agiotagem sobre os beneficiários do programa.
A matéria remete ao
município de Monção, no norte maranhense, onde o agiota “Neco Muniz” é acusado
de emprestar dinheiro mediante a garantia e retenção dos cartões com as senhas do
Bolsa Família.
Segundo a
reportagem, uma investigação da Polícia Federal já aponta indícios da mesma
prática em pelo menos cinco municípios da região.
Pela leitura do
texto tem-se um recorte de como a injeção de dinheiro nos grotões do país
ativou um hábito antes exclusivo das pessoas incluídas formalmente no
capitalismo – o consumo.
Milhões de
brasileiros foram elevados à condição de pessoas com poder aquisitivo e
transformaram-se em unidades consumidoras.
Programa liberal
Nesse sentido, os
estudiosos mais argutos do Bolsa Família qualificam os programas de
transferência de renda como uma plataforma liberal, preconizada pelo economista
norte-americano Milton Friedman.
Os referidos
programas seriam, inclusive, recomendações do Banco Mundial para os países
pobres e em desenvolvimento.
Mas, o caso de
Monção apresenta outra singularidade: o consumo compulsivo está levando parte
da população a uma roda viva do endividamento, mediante a ação dos
aproveitadores, como o agiota denunciado na reportagem.
A facilidade de
contrair crédito induz as pessoas a dever não só os comerciantes e o sistema
financeiro oficial, mas também os agiotas, gerando dívidas sobrepostas e,
provavelmente, impagáveis.
Bauman e a vida a crédito
Monção é um caso
para refletir lendo a obra “Vida a crédito”, do sociólogo Zygmunt Bauman, um
dos intelectuais mais respeitados da contemporaneidade.
Bauman vai direto
aos pontos essenciais do tempo presente, tais como a compra compulsiva, o
endividamento generalizado, a busca do corpo ideal, o culto às celebridades e a
obsessão por segurança.
A análise de
Bauman não se restringe ao devedor individual. Ele conduz a uma reflexão sobre
a crise econômica instalada em 2008 e seus desdobramentos, principalmente na
Europa, onde a recapitalização dos bancos e outras instituições financeiras tem
sido o remédio para “salvar” as elites do capitalismo internacional.
Sociedade de mercado
Já o filósofo
Michael Sendel evidencia a transição de uma economia de mercado para uma
sociedade de mercado, na qual tudo pode ser posto à venda e os valores de
mercado dominam todos os aspectos da vida: relações pessoais, vida familiar,
saúde, educação, política, leis, vida cívica etc.
Pensadores de
rumos distintos, Sendel e Bauman não conhecem Monção, mas os escritos deles servem
para interpretar o norte do Maranhão, onde o dinheiro do Bolsa Família está produzindo
endividados em massa.
O sistema de
endividamento pode ser observado, também, na proliferação dos pequenos bancos
instalados em quase todos os municípios brasileiros, ofertando crédito fácil
aos beneficiários do Bolsa Família, aos aposentados e assalariados em geral.
Esses bancos de
esquina, verdadeiras quitandas do sistema financeiro, são agentes terceirizados
das grandes corporações creditícias que operam a máquina dos empréstimos.
Depois de
produzir a massa de endividados, as quitandas remetem os devedores para os
grandes bancos fazerem o refinanciamento das dívidas, operação ainda mais cruel,
porque os juros literalmente degolam o devedor.
Assim gira a roda
viva das unidades consumidoras – os assalariados com poder aquisitivo.
A longa crise e o refugo humano
Para Bauman, a
crise de 2008 está longe de ser debelada. Os bancos, protegidos pelo sistema,
são sempre privilegiados com a recapitalização. Mas, nem sempre funciona. A
crise na Grécia, que arruinou o sistema financeiro, escapou para outros países
e vez por outra explode em algum lugar do planeta.
A crise é longa e
veio para ficar. Nesse contexto, o sistema financeiro precisa lá na ponta de um
consumidor-devedor com capacidade de endividamento e pagamento das dívidas.
Ao sistema de
endividamento generalizado só interessa o cidadão-trabalhador-assalariado-contribuinte.
Se esta unidade
consumidora não puder pagar e recontratar os financiamentos, é defeituosa e não
serve ao sistema. Trata-se de um “refugo humano”, segundo Bauman.
Muito longe de
Wall Street, em Monção, os beneficiários maranhenses do vivem o drama da
agiotagem. É o sistema financeiro ilegal e paralelo refugando o mundo.
Quase todo MA ocorre esse fato. Na Baixada, os agiotas tomam conta dos cartões e senhas dos beneficiários.
ResponderExcluirMuito boas as referências interpretativas ... Lembrei também do Boaventura..em um texto 2003 intitulado Poderá o direito ser emancipatório? Onde ele faz uma baita contextualização e dissecando cada legado das promessas modernas. Até chegar na constatação na falência do velho pacto social...e no avanço do conservadorismo na forma de um fascismo social. Dentre as caras do fascismo está o fascismo financeiro...
ResponderExcluirPenso não é só mais o agiota.. isolado. Todo o campo regulado intensificou sua fraude... os contratos formais estão no mesmo patamar do "acerto" com o agiota.. basta ver as operadoras de telefonia móvel, planos de saúde etc... nada vale e tudo não é a quantidade vendida... Vide a internet banda larga... Tudo um esquema criminoso e fraudulento. Não tarda e esses agiotazinhos vão ter mais legitimidade... do que a vergonhosa Caixa Econômica Federal... que banca sem maiores exigências o maior estelionato do nosso país e tudo com X. Adorei a sacada.
essa tal de bolsa familia e uma maquina de fazer filhos. e de deixar o povo. com mais tempo. pra vagabunda e fora os pilantras qjue se aproveitam. MENTE DESOUCUPADA E. ESCOLA DO DIA.BO.
ResponderExcluiro pior vai ser o dia que essa bolsa de fazer sexo acabar o que vai ter de. criança nos abrigos e de. gente despreparado para o. mercado de trabalho. os
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