Marizélia Ribeiro
Professora UFMA, doutora em Políticas Públicas
Milhões de gastos em estádios, enquanto a saúde e a educação ficam à míngua |
Não me pareceu um desabafo, mas uma forma de agradar financiadores do seu
jornal ou de mostrar sua insatisfação pela falta deles. O título escolhido pelo
autor me fez pensar nessas duas situações.
Fiquei incomodada durante alguns dias com suas acusações e preconceitos contra
o povo brasileiro, mas não tive inspiração suficiente para contestá-las. Hoje,
acompanhando notícias sobre corrupção, empresas usurpadoras de dinheiro
público, tragédias, violência, greve de trabalhadores e mobilizações sociais,
as ideias chegaram.
Nessa Copa da FIFA tem tudo isso: gastos bilionários, crescentes e
superestimados melhorarão a vida de poucos; empresas inoperantes com as obras
de suas responsabilidades; operários trabalhando e morrendo em condições
inseguras; e manifestantes desejosos de mostrar que estão cansados de serem
roubados, escravizados e insultados.
Escolhi duas teses do texto em tela para refutar. A primeira delas, diz que o
brasileiro, ao contrário no norte-americano, desconfia do sucesso das pessoas e
torce pelo fracasso dos bem sucedidos. Na segunda, coloca o Estado brasileiro
como um inimigo dos empreendedores.
Quanto à primeira, é facilmente contestada. Já que falamos da Copa da FIFA,
utilizo exemplos no Esporte e em outras competições. Paramos e torcemos por
vários brasileiros, entre tantos outros: Ayrton Senna imbatível na Fórmula 1;
Oscar maior pontuador do basquete mundial e seus companheiros campeões do PAN
1987 sobre a então imbatível equipe norte-americana; Magic Paula campeã mundial
de basquete 1994; Hortência homenageada no Naismith Memorial Basketball Hall of
Fame Hall; Bernadinho, José Roberto e suas meninas e rapazes do vôlei tantas
vezes vencedores; João do Pulo de saltos magníficos; Ricardo Prado e Cesar
Scielo medalhas de ouro na natação; e Maria Ester Bueno primeira mulher a
ganhar os 4 Slam em duplas nas quadras de tênis. Ficamos orgulhosos e nos
emocionamos com os garotos piauienses campeões das olimpíadas de Matemática e
os alagoanos vencedores de prêmio ONU pela criação do aplicativo de celular que
auxilia surdos.
Queremos ver o sucesso especialmente de tantos voluntários anônimos e
profissionais que salvam vidas em acidentes, desabamentos e enchentes.
Com relação à segunda tese do publicitário, não preciso me estender. Nosso
Estado, quer dirigido por petistas quer peemedebistas (ou qualquer outro “ista”
partidário que se possa imaginar!), sempre esteve ao lado das grandes empresas.
Afinal, elas sempre foram e continuarão sendo as maiores financiadoras das
campanhas eleitorais. O que mudou, ao longo do Estado republicano brasileiro,
foram os privilegiados a cada governo.
Torcemos, sim, nessa Copa da FIFA, contra a má gestão do dinheiro público, a corrupção, a violência, as desigualdades e a mudança de nossas leis para os interesses do capital.
Torcemos, sim, nessa Copa da FIFA, contra a má gestão do dinheiro público, a corrupção, a violência, as desigualdades e a mudança de nossas leis para os interesses do capital.
A Copa da FIFA não é do povo brasileiro. A maioria de nós nem ao menos pode
pagar para torcer pelo sucesso dos jogadores e times nos estádios.
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