Bem posicionada no Mar Negro, a Crimeia é cobiçada desde o século XVIII |
Os
EUA e a Rússia, litigantes na crise da Ucrânia, disputam os territórios por onde passam petrodólares e gasoeuros.
Esse é o jogo.
Para entender as regras, é preciso voltar no tempo e acender uma luz nos
eventos que acontecem hoje no foco do conflito - a Crimeia.
Desde 1992,
com o fim da URSS, o Pacto de Varsóvia desmoronou e a Otan avançou sobre os
territórios outrora dominados pelos países de orientação socialista no leste da
Europa.
DE KOSOVO À
CRIMÉIA
Sob o
pretexto de derrubar o ditador Slobodan Milosevic, os EUA, âncora da Otan,
atacaram a Iugoslávia. Era a Guerra de Kosovo o primeiro passo na expansão da
fronteira geopolítica norte-americana em território europeu.
Os passos
seguintes consistiam em cooptar à Otan os países-satélite da ex-URSS. E assim
foi feito, inclusive com os países do báltico: Letônia, Estônia e Lituânia.
Tudo gira em
torno do controle dos territórios onde passam os gasodutos e oleodutos e, dentro deles, a matéria prima essencial para a geração de energia no planeta - objeto de gigantescos negócios entre países e continentes.
Os EUA
pretendem encurralar a Rússia e diminuir o poder de Vladimir Putin sobre a
Eurásia. Nesse projeto, é fundamental na política externa de Barack Obama
estimular o separatismo na Ucrânia.
O interesse
central é tirar Putin do controle sobre a Crimeia e o porto de Sebastopol, estratégico
no acesso ao Mar Negro e onde está situada uma base naval da Rússia.
Além de
favorecer as rotas comerciais, o porto é localizado em região-chave para os
conflitos navais.
Sebastopol é
cobiçado e disputado desde o século XVIII, por vários países em diferentes
guerras.
Saímos da Guerra Fria. Entramos na Guerra Morna.
Saímos da Guerra Fria. Entramos na Guerra Morna.
OUTRAS
RAZÕES
O fator
econômico-militar é o mais importante na crise da Ucrânia, mas a questão
precisa ser vista também sob o aspecto cultural.
A ex-URSS,
então socialista, anexou vários territórios com arraigadas tradições culturais,
religiosas, étnicas etc.
No período
stalinista, o processo de anexação atropelou as singularidades dos povos
conquistados, mas os regionalismos e os fundamentalismos ficaram latentes.
Quando a
URSS desmoronou, os sentimentos religiosos e étnicos voltaram à tona revigorados,
como se fossem uma bactéria que resistiu ao aquecimento de 100 graus Celsius:
ressurgiram mais resistentes.
O
separatismo, em que pesem os interesses dos EUA no controle da Ucrânia/Crimeia,
é creditado também a uma repulsa dos ucranianos diante da nova intervenção
russa, projeto geoestratégico e militar de Vladimir Putin, a exemplo do que
ocorreu na URSS socialista de outrora, sob o ferro de Josef Stálin.
OLHO NA
CHINA
O velho
dissídio entre a Otan e o Pacto de Varsóvia, que polarizou o mundo, passa agora
pela intervenção de um novo ator econômico e militar – a China.
A hegemonia
global voltou à pauta com o viés do controle das fontes energéticas – petróleo
e gás – além das rotas comerciais e controle dos postos militares – daí o
interesse pelo porto de Sebastopol, na Criméia.
Interessada
no conflito e no que sobrar da polarização entre EUA e Rússia, a China olha de
longe e age como o tigre, esperando a hora certa do ataque fatal.
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