Para começo de conversa, somos todos filhos de Deus:
católicos, evangélicos, religiões de matriz africana e espíritas.
Todas as religiões prestam culto ao mesmo Senhor, de
maneiras distintas, garantindo às pessoas o livre direito de escolha.
O Estado brasileiro é laico, ou seja, assegura a liberdade
religiosa a todos os seus cidadãos, não se opõe a nenhuma concepção e também
não impõe preferência a qualquer religião.
Abaixo de Deus está a Constituição Federal, que disciplina
nossos direitos e deveres, na maioria das vezes não cumpridos nem respeitados.
O modelo do Estado laico é a melhor forma de estabelecer a
pluralidade religiosa, mas nem sempre foi assim.
Religião e política
A História é permeada de guerras religiosas, geralmente
motivadas pelo poder econômico, demarcação de territórios e, sobretudo,
interesses políticos.
As Cruzadas e a Reforma Protestante são apenas dois exemplos
de como religião e política, sob o manto do interesse econômico, sempre
estiveram ligados.
Em nome de Deus, tudo se faz, de bom e ruim.
A Noite de São Bartolomeu, em 1572, está nos registros
históricos como uma das maiores carnificinas dos católicos contra os
protestantes, motivada por interesse religioso e disputa política.
No Brasil recente, há notícias de pastores evangélicos que
assediam as crentes. Um deles chegou a fazer sexo oral dizendo à fiel que o
pênis dele era abençoado e o esperma continha o leite sagrado.
Padres pedófilos também são fartamente noticiados.
Não se pode, no entanto, tomar essas ovelhas desgarradas e
universalizá-las. Há bons e maus pastores e padres. Assim como há pais-de-santo
que operam seus poderes na bondade e na maldade.
As religiões todas têm tido um papel fundamental na
evangelização dos povos, em obras de caridade, na assistência aos enfermos, aos
drogados e na cura de tantas mazelas materiais e espirituais.
O Maranhão politicamente religioso
Dito isto, vamos aos pormenores da maranhensidade, onde
religião e política sempre estiveram na pauta eleitoral.
Em primeiro lugar, é importante registrar, sob o manto do
Estado laico, a pluralidade religiosa dos nossos políticos. Melhor não poderia
ser.
A governadora Roseana Sarney (PMDB) é católica, o prefeito
Edivaldo Holanda Junior (PTC) é evangélico e o vice-presidente da Câmara dos
Vereadores, Astro de Ogum (PMN), é pai-de- santo.
Os grupos políticos, hegemônicos na Prefeitura e no
Governo do Estado, transitam entre católicos, evangélicos e nas religiões de
matriz africana.
É muito comum, em época eleitoral, as igrejas evangélicas
definirem seus candidatos, assim como os católicos.
Bita do Barão, o mais famoso terecozeiro do Maranhão, reconhecido
nacionalmente, costuma dizer que aconselha vários políticos e até faz trabalhos
para eles.
Só não é saudável quando a disputa política entra na
religião de maneira atravessada, tentando imputar a um candidato dúvidas sobre
a sua fé e prática religiosa.
Recentemente, várias postagens em blogs alinhados ao governo
Roseana Sarney (PMDB) exploram o viés religioso na filiação partidária do
candidato da oposição, Flavio Dino, do PCdoB.
O surrado discurso da incompatibilidade entre comunismo e
religião reaparece no século XXI, nas páginas do Maranhão oligárquico, como se
o PCdoB fosse uma sucursal de hereges.
Já estão preparando o terreno para o período de campanha,
quando surgem milhares de panfletos, organizados por alguns pastores
evangélicos, alertando os eleitores sobre o perigo comunista.
Essa pregação vem sendo repetida, desde 2008, quando Dino
foi candidato a prefeito de São Luis. À época, os panfletos evangélicos
anunciavam o fim do mundo se os comunistas chegassem ao Palácio La Ravardière.
Na campanha de 2014, aviões devem jogar panfletos novamente
nos céus Maranhão, reeditando o perigo comunista. Pode esperar.
Mas, o estigma anti-religioso tem tudo para não colar no eleitor.
O PCdoB não só apoiou a eleição como participa da gestão do prefeito Edivaldo
Holanda Junior, evangélico militante, do Partido Trabalhista Cristão (PTC).
Flavio Dino recebeu o apoio da maior liderança evangélica da
Assembleia Legislativa, a deputada irmã Eliziane Gama (PPS) e de boa parte das
pastorais sociais católicas.
A tentativa de colocar a religião na pauta da eleição parece
um ato de desespero do Palácio dos Leões, no momento em que o Maranhão precisa
debater projetos de desenvolvimento e programas de governo.
Pouco importa se o prefeito ou o governador é católico,
evangélico ou pai-de-santo. Importa é o compromisso dele com a honestidade, a
justiça e a fraternidade.
É disso que o Maranhão precisa.
Partido nenhum é santo, menos ainda seus integrantes, salvo a
minoria bem intencionada.
Se o Juízo final fosse hoje, e Deus, na sua bendita
misericórdia, resolvesse selecionar os justos e os bons, não sobrava quase nada
nessa fauna política do Maranhão, onde, segundo o padre Antônio Vieira, até os
céus mentem.
2 comentários:
A Misericórdia não deve ser para premiar esses perversos, os escroques... Essa turma vai encher é a sacola do diabo... O inferno tem que existir para essa turma pilhadora do erário
Se religião (que foi criada pelo homem, não por Deus) fosse coisa séria, os religiosos não estariam misturando-se com a corja política que os procuram única e exclusivamente pelo voto. Assim como existem alguns pastores, padres e pais-de-santo que destoam da real função a que foram destinados, no meio político o inverso é a predominância, ou seja, a maioria destoa de real função de fazer política pelo bem-estar da sociedade.
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