domingo, 8 de junho de 2014

POLÍTICA E RELIGIÃO: DE MÃOS DADAS NO MARANHÃO

Para começo de conversa, somos todos filhos de Deus: católicos, evangélicos, religiões de matriz africana e espíritas.

Todas as religiões prestam culto ao mesmo Senhor, de maneiras distintas, garantindo às pessoas o livre direito de escolha.

O Estado brasileiro é laico, ou seja, assegura a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos, não se opõe a nenhuma concepção e também não impõe preferência a qualquer religião.

Abaixo de Deus está a Constituição Federal, que disciplina nossos direitos e deveres, na maioria das vezes não cumpridos nem respeitados.

O modelo do Estado laico é a melhor forma de estabelecer a pluralidade religiosa, mas nem sempre foi assim.

Religião e política

A História é permeada de guerras religiosas, geralmente motivadas pelo poder econômico, demarcação de territórios e, sobretudo, interesses políticos.

As Cruzadas e a Reforma Protestante são apenas dois exemplos de como religião e política, sob o manto do interesse econômico, sempre estiveram ligados.

Em nome de Deus, tudo se faz, de bom e ruim.

A Noite de São Bartolomeu, em 1572, está nos registros históricos como uma das maiores carnificinas dos católicos contra os protestantes, motivada por interesse religioso e disputa política.

No Brasil recente, há notícias de pastores evangélicos que assediam as crentes. Um deles chegou a fazer sexo oral dizendo à fiel que o pênis dele era abençoado e o esperma continha o leite sagrado.

Padres pedófilos também são fartamente noticiados.

Não se pode, no entanto, tomar essas ovelhas desgarradas e universalizá-las. Há bons e maus pastores e padres. Assim como há pais-de-santo que operam seus poderes na bondade e na maldade.

As religiões todas têm tido um papel fundamental na evangelização dos povos, em obras de caridade, na assistência aos enfermos, aos drogados e na cura de tantas mazelas materiais e espirituais.

O Maranhão politicamente religioso

Dito isto, vamos aos pormenores da maranhensidade, onde religião e política sempre estiveram na pauta eleitoral.

Em primeiro lugar, é importante registrar, sob o manto do Estado laico, a pluralidade religiosa dos nossos políticos. Melhor não poderia ser.

A governadora Roseana Sarney (PMDB) é católica, o prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC) é evangélico e o vice-presidente da Câmara dos Vereadores, Astro de Ogum (PMN), é pai-de- santo.

Os grupos políticos, hegemônicos na Prefeitura e no Governo do Estado, transitam entre católicos, evangélicos e nas religiões de matriz africana.

É muito comum, em época eleitoral, as igrejas evangélicas definirem seus candidatos, assim como os católicos.

Bita do Barão, o mais famoso terecozeiro do Maranhão, reconhecido nacionalmente, costuma dizer que aconselha vários políticos e até faz trabalhos para eles.

Só não é saudável quando a disputa política entra na religião de maneira atravessada, tentando imputar a um candidato dúvidas sobre a sua fé e prática religiosa.

Recentemente, várias postagens em blogs alinhados ao governo Roseana Sarney (PMDB) exploram o viés religioso na filiação partidária do candidato da oposição, Flavio Dino, do PCdoB.

O surrado discurso da incompatibilidade entre comunismo e religião reaparece no século XXI, nas páginas do Maranhão oligárquico, como se o PCdoB fosse uma sucursal de hereges.

Já estão preparando o terreno para o período de campanha, quando surgem milhares de panfletos, organizados por alguns pastores evangélicos, alertando os eleitores sobre o perigo comunista.

Essa pregação vem sendo repetida, desde 2008, quando Dino foi candidato a prefeito de São Luis. À época, os panfletos evangélicos anunciavam o fim do mundo se os comunistas chegassem ao Palácio La Ravardière.

Na campanha de 2014, aviões devem jogar panfletos novamente nos céus Maranhão, reeditando o perigo comunista. Pode esperar.

Mas, o estigma anti-religioso tem tudo para não colar no eleitor. O PCdoB não só apoiou a eleição como participa da gestão do prefeito Edivaldo Holanda Junior, evangélico militante, do Partido Trabalhista Cristão (PTC).

Flavio Dino recebeu o apoio da maior liderança evangélica da Assembleia Legislativa, a deputada irmã Eliziane Gama (PPS) e de boa parte das pastorais sociais católicas.

A tentativa de colocar a religião na pauta da eleição parece um ato de desespero do Palácio dos Leões, no momento em que o Maranhão precisa debater projetos de desenvolvimento e programas de governo.

Pouco importa se o prefeito ou o governador é católico, evangélico ou pai-de-santo. Importa é o compromisso dele com a honestidade, a justiça e a fraternidade.

É disso que o Maranhão precisa.

Partido nenhum é santo, menos ainda seus integrantes, salvo a minoria bem intencionada.

Se o Juízo final fosse hoje, e Deus, na sua bendita misericórdia, resolvesse selecionar os justos e os bons, não sobrava quase nada nessa fauna política do Maranhão, onde, segundo o padre Antônio Vieira, até os céus mentem.

2 comentários:

  1. A Misericórdia não deve ser para premiar esses perversos, os escroques... Essa turma vai encher é a sacola do diabo... O inferno tem que existir para essa turma pilhadora do erário

    ResponderExcluir
  2. Se religião (que foi criada pelo homem, não por Deus) fosse coisa séria, os religiosos não estariam misturando-se com a corja política que os procuram única e exclusivamente pelo voto. Assim como existem alguns pastores, padres e pais-de-santo que destoam da real função a que foram destinados, no meio político o inverso é a predominância, ou seja, a maioria destoa de real função de fazer política pelo bem-estar da sociedade.

    ResponderExcluir