por Eduardo Júlio, jornalista
Em dezembro de 2008, as Forças de Defesa de Israel, com a
justificativa de dizimar o arsenal de foguetes do Hamas, empreenderam a
operação Chumbo Fundido. Foram quase 20 dias de ataques, nos quais morreram
1.387 palestinos, sendo 773 civis, incluindo 320 jovens ou crianças e 111
mulheres. Do lado israelense, foram mortas 13 pessoas, entre as quais,
três soldados alvejados por fogo amigo.
O massacre da população palestina não foi suficiente para
eliminar o Hamas. De 2008 para cá, o grupo político e militar, de viés
islâmico, ficou fortalecido, pelo menos, internamente. Já lança foguetes com
maior alcance. Por outro lado, perdeu a ajuda do governo da Síria, um
importante aliado, após dar apoio aos rebeldes na horrenda guerra civil travada
no país vizinho.
Nesse intervalo, a Faixa de Gaza continuou cercada pelos
militares de Israel, caracterizando-se como uma enorme prisão a céu aberto, de
onde poucos conseguem sair. Israel também não cessou de construir assentamentos
na Cisjordânia, o outro território palestino, ampliando o confisco ou roubo
explícito de terras árabes, como faz há mais de 60 anos. E este é o real motivo
do conflito.
Agora, após início da Operação Margem Protetora, vemos
a história se repetir. Israel pune a população da Faixa de Gaza, com o
argumento da necessidade de retaliar os ataques de foguetes e destruir os
túneis do Hamas. Vai dar certo? Provavelmente não. Com o crescente número de
civis mortos, esta estratégia só vai contribuir para aumentar o ódio e
distanciar palestinos e israelenses, como o tempo já cansou de provar.
ESCUDO
Uma das justificativas para o grande número de mortes de
civis causadas pelos ataques israelenses é o uso da população como escudo por
parte do Hamas. No entanto, sabemos que a Faixa de Gaza é um pequeno território
habitado por uma população de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, sendo uma
das áreas mais povoadas do planeta. Portanto, não há para onde fugir nem se
esconder. Até porque as bombas e os mísseis “cirúrgicos” de Israel não poupam
nem escolas nem abrigos da ONU. Algo inconcebível de ser cometido por um país
tão sofisticado.
E tanto os palestinos da Faixa de Gaza quanto os da
Cisjordânia vivem sob a mira e a vigilância de Israel. Não possuem Estado e
tampouco Exército. Daí, mesmo com a existência de grupos clandestinos
militares, todos habitam um ambiente teoricamente civil. Não há
"plataformas" militares oficiais.
E se o Hamas for realmente o problema, qual a razão de
atacar desta forma? Sabemos que Israel possui um dos serviços secretos mais
eficientes do mundo, o Mossad, que poderia eliminar “silenciosamente” o grupo
islâmico, assim como supostamente teria feito, nos últimos anos, com alguns dos
principais cientistas iranianos, temendo que o estado persa adquirisse, em
pouco tempo, tecnologia para fabricar uma bomba atômica.
Outra questão: por que Israel resolveu empreender o ataque
justamente no momento em que o Hamas e o laico Fatah anunciaram a formação de
um governo de união, o que levaria ao inevitável reconhecimento do país vizinho
por parte do Hamas. Afinal, o Fatah já reconhece Israel. Com esta união, o
caminho para a paz estaria mais fácil.
PASSADO
Não é de hoje que as Forças de Defesa de Israel cometem
massacres contra populações civis palestinas. Em 1982, o Tzahal - como é conhecido
o Exército israelense - invadiu o Líbano, com o objetivo de eliminar
guerrilheiros palestinos que estavam refugiados naquele país. Deu no que deu.
Em três meses de incursão, o Exército israelense matou 20 mil pessoas, a
maioria civis palestinos e libaneses. Número equivalente ao de todos os
soldados israelenses mortos em todas as guerras travadas contra os árabes desde
1948.
Estes dados estão nos livros “Poder e Terrorismo” (página
66), de Noam Chomsky, e “Imagem e Realidade do Conflito” (página 28), de Norman
Finkelstein. Ambos os autores são judeus e, dizem, estão proibidos de entrar em
Israel, em razão de seus posicionamentos e escritos políticos. Será esta a tão
louvada democracia israelense?
E para concluir a vergonha de 1982, Israel permitiu o
massacre dos moradores dos campos de refugiados de Sabra e Chatila, perpetrado
pelos falangistas cristãos libaneses, aliados dos israelenses, no qual morreram
quase 900 palestinos em dois dias, sendo a maioria velhos, mulheres e crianças.
Este fato é contado no excelente documentário “Valsa com Bashir”, do israelense
Ari Folman, fundamental para entender esta triste passagem da história dos
palestinos e do Oriente Médio.
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