por Samuel Carvalho Marinho, contador e estudante de
Psicologia
Dez anos já se passaram sem que o cantor e compositor Lobão
tenha efetuado um registro musical digno de sua trajetória marcante na música
brasileira.
Pelo contrário, sua carreira já se configura como um caso ímpar
de desconstrução na história da nossa música popular, daquilo que antes era um
incontestável caminho de subversão, pautado na mais clássica atitude rock´n´roll.
Se em outros tempos a posição política foi o trampolim da
carreira de muitos artistas brasileiros, no caso de Lobão hoje parece ser o
peso do guindaste que o faz descer ladeira abaixo.
E à decadência do lobo falta uma certa dose de
elegância. Ninguém parece mais levar a
sério seus os uivos e grunhidos, cheios de devaneios e contradições.
Sofrendo de uma espécie de síndrome tardia do “rock errou”,
ele parece muito tranqüilo e consciente do suicídio que comete ao vestir a
ridícula carapuça de pastiche do rock e se aliar a uma corrente
ultraconservadora, daquelas de ir pra rua defender a volta do regime militar.
Pra quem compôs “Vida Bandida”, um brado vibrante e muito
consciente sobre o cerceamento da própria liberdade, elogiar a ditadura e
soltar ataques pessoais a Chico Buarque é jogar na lata de lixo o pouco de
brilhantismo que conseguiu propagar.
Do mágico e pertubador universo paralelo criado em 1999 com
a “Vida é Doce”, marco na produção independente da música brasileira, Lobão
segue muito longe do rastro daquela originalidade musical e da poética conturbada
que exalava a um só brado anarquia e independência, com todos os adjetivos
pueris que isso pode nos inspirar.
É dele também a incursão mais surpreendente pelo mundo do
samba, com uma visão ultra-particular regada a overdoses de filosofia
contemporânea, registrado no pouco conhecido, mas não menos genial, “Nostalgia
da Modernidade”.
Tivesse o fim trágico dos seus ilustres pares dos anos 80, o
compositor de “Vida Louca Vida” talvez ocupasse hoje confortavelmente o trono
da realeza do BRock, na prateleira daqueles rebeldes aparentemente sem causa
que morreram cedo demais.
Mas quem sabe esse ideal iconoclasta realmente nem seja interesse
de quem carrega nas veias uma subversão acima de qualquer suspeita, e eu possa
estar completamente enganado. Afinal o homem é lobo do próprio homem, e Lobão,
há muito se sabe, é também um artista de adjetivos múltiplos e fortes para a
vida: breve, louca, bandida, doce.
Que venha então o seu réquiem uivado e o retire de vez desse
inferno astral, sob a forma de canção, como há de ser... Que de blá, blá, blá radiofônico em tempos de
twitter a gente já tá cheio.
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