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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

NO OLHO DA RUA: ACADEMIA DE LETRAS FECHA AS PORTAS DE CENTRO EDUCACIONAL EM SÃO LUÍS

Omni Fadaká
Coordenador do Lagoa Amarela.

Sessenta mil pessoas em todo o Maranhão, vinculadas às ações do “Centro Especializado Para o Desenvolvimento Educacional das Populações Negras Tradicionais do Maranhão Lagoa Amarela” estão sendo prejudicadas em razão do fechamento do prédio que abrigava o referido Centro, localizado à Rua da Palma, 475. 
Parte frontal do Centro Educacional Lagoa Amarela
A medida foi tomada no dia 14 de julho do corrente ano pela Academia Maranhense de Letras - AML, considerando o processo de doação do referido imóvel feito a esta instituição pela antiga Fundação José Sarney ao final do último governo de Roseana Sarney, que desativou os serviços essenciais de vigilância e de conservação do prédio.
Estudantes beneficiados pelo Centro Educacional ficaram sem espaço
Tal procedimento foi concretizado à revelia de qualquer comunicação, planejamento ou diálogo que promovesse medidas de resolução concernente ao paradeiro das ações desenvolvidas. O fechamento do Centro Educacional Lagoa Amarela coincidentemente obedeceu a mesma lógica do governo que findou sua gestão em 2014. Esta atitude se pautou numa ação irresponsável, desrespeitosa, truculenta e autoritária por parte da AML, pois como o processo de instalação do Centro Educacional se deu em 2003, no governo José Reinaldo Tavares, e este rompeu com o grupo que dominou a política do Maranhão nos últimos 50 anos, durante as últimas gestões o Centro Lagoa Amarela experimentou toda a sorte de constrangimentos, perseguição política e racismo institucional, num constante clima de tortura psicológica, insegurança e ameaça de expulsão.
Sala de aula do Centro Educacional Lagoa Amarela
Durante treze anos o Centro Lagoa Amarela tornou-se espaço estratégico e relevante para o desenvolvimento de sete ações programáticas essenciais para o atendimento das comunidades tradicionais organizadas em sessenta associações oriundas de comunidades quilombolas, comunidades negras tradicionais de matriz africana, grupos de capoeira e área territorial quilombola do meio urbano, vinculadas a doze municípios do Maranhão, a saber: São Luís, Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Guimarães, Cajapió, Mirinzal, Codó, Central do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Nina Rodrigues, Cururupu e Serrano do Maranhão.

Dentre essas ações destaca-se o Projeto Ahamban, que trabalha com a Ação de Distribuição de Alimentos para mil famílias que estão em desvantagem nutricional de Comunidades Negras Tradicionais de Matriz Africana do Maranhão; o Pré-Vestibular Comunitário Agadá, que atende 120 jovens e adultos com foco no acesso à universidade, selecionados num universo de 600 a 700 inscrições anuais. 
Parte interna do Centro Educacional Lagoa Amarela
Esta ação, que se desenvolve plenamente em caráter voluntário, mobiliza trinta e oito profissionais, oriundos das diversas áreas do conhecimento, e conseguiu fazer chegar, durante esses treze anos, trezentos e sessenta e cinco pessoas ao sistema de ensino universitário e estas se constituem a primeira experiência de suas famílias relativa ao acesso de qualquer membro de seu núcleo familiar concernente ao Ensino Superior.

Após mais de uma década, esse trabalho começa a se consolidar com a finalização do processo de graduação da primeira geração que conseguiu adentrar a Universidade em 2004 e que agora está adentrando a pós-graduação, na esfera da especialização e do mestrado com intercâmbio, inclusive internacional, com o México, Alemanha e Canadá. 

O fechamento do Centro Educacional Lagoa Amarela, sem nenhuma proposição de resolução acerca do paradeiro de suas atividades, brutalmente interrompidas, deixa as populações negras tradicionais do Maranhão no vácuo.

Considerando o fato de não se ter poucas políticas de desenvolvimento sócio econômicas para essa parcela significativa do povo maranhense, é notório o entendimento de que iniciativas como estas deveriam o apoio do governo, da iniciativa privada e da sociedade, visto que o esforço de manter essas atividades em plena dinamização corresponde à ausência secular do Estado, concernente a essa população, dinâmica que ainda hoje perdura e que atravessou os quatrocentos e três anos de História do Maranhão, principalmente nos últimos cento e vinte e sete anos que nos separam do fim do sistema escravocrata, quando foi abolida a instituição da escravidão, sem nenhum ressarcimento feito aos descendentes de africanos por quase trezentos anos de trabalho forçado, quando ergueram o estado do Maranhão no calor da chibata.

O mais emblemático no campo da falta de investimento sócio econômico do Maranhão, são os dados apresentados na página “Globo Educação”, datado no dia 21 de novembro de 2011, quando se afirma que o Sistema Penitenciário da esfera estadual gasta anualmente R$ 21.300,00 para manter um presidiário e somente R$ 2.300,00 para manter um estudante do ensino médio. 

Qual o investimento de prioridades para que o Maranhão possa emergir da condição em que se encontra? Será que o fechamento de iniciativas sociais que atendem ao povo ainda não priorizado pelo estado contribuirá para que cheguemos ao patamar de uma melhor sociedade e um melhor Índice de Desenvolvimento Humano - IDH?

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de conversar com você a respeito de um assunto abordado no seu blog, do prédio da Academia Maranhense de Letras, localizada na Rua da Palma, cuja versão foi lhe repassada desvirtuadamente. Como o assunto é longo, pelo meu telefone 91922445, poderíamos marcar um encontro em lugar e hora a combinarmos. Benedito Buzar.

Anônimo disse...

Caro Wilson:peço-lhe desculpas, mas por causa da morte de minha irmã, no final
da semana, esqueci o dia, o local e a hora da nossa conversa.Por favor, aguardo sua informação.