quarta-feira, 14 de maio de 2008

A ILHA QUE QUEREMOS

O jornalista e poeta Paulo Melo Souza, editorialista do suplemento JP Turismo, encartado às sextas-feiras no Jornal Pequeno, escreve sobre os impactos dos grandes projetos sobre a ilha de São Luís. Ele defende a instalação de novos empreendimentos no continente.
São Luís de fato na pauta política...ou nada

Ao longo de mais de treze anos este espaço vem sendo ocupado, colocando na pauta de discussões, de tempos em tempos, a dramática questão do inchaço urbano sofrido por São Luís do Maranhão a partir do momento em que políticos iluminados decidiram que a ilha possuía vocação industrial.


Desde o final da década de setenta do século passado, acordos fechados na calada da noite foram aos poucos permitindo que indústrias pesadas, multinacionais de grande porte, combatidas nos seus países de origem devido ao alto grau de poluição que provocam, tivessem carta branca para aqui fincar suas garras.

Os ecossistemas insulares são os mais frágeis que existem e, portanto, naturalmente avessos à implantação de indústrias de grande porte, mas as admoestações dos técnicos de nada serviram e as canetadas dos politiqueiros ficaram céleres.


Poucos cidadãos bem informados desconhecem que a permissividade política ao avanço industrial provocou deslocamento de famílias da zona rural do município, disseminou a praga do desmatamento, trouxe dos intestinos das fábricas o lançamento de gases tóxicos na atmosfera, sem que a relação custo-benefício trouxesse reais melhorias da condição de vida da população.


Pelo contrário, a industrialização espalhou além dos limites da ilha a miragem do emprego fácil, de melhores condições de vida para uma população rural carente e desinformada.


Muita gente se transferiu para São Luís e a herança maligna desse fluxo migratório originou um espantoso aumento populacional nunca antes verificado por estas paragens.


Basta que se saiba que, em 1975, a capital maranhense possuía 250 mil habitantes e que, hoje, já atingiu, com certeza, extra-oficialmente, a espantosa marca de 1 milhão de habitantes.


Tal crescimento exponencial da população em apenas 33 anos colocou na mesa do cidadão de São Luís vários pratos indigestos, dentre os quais é possível enumerar, na rabeira das invasões de terras que deram origem a bairros sem infra-estrutura:
- o aumento da violência;
- a destruição dos mananciais hídricos;
- o alto índice de desemprego;
- a poluição das praias;
- o caos no trânsito;
- o aumento da demanda da saúde pública, com carência de leitos hospitalares;
- a ocupação desordenada do solo urbano, principalmente na orla marítima, atropelando áreas de preservação ambiental, como dunas e restingas (caso da Ponta D’Areia), sob os olhares mansos dos órgãos ambientais;
- invasão do Sítio Santa Eulália e crime ambiental no Sítio Rangedor, perpetrado pela própria Assembléia Legislativa;
- e a educação (cujo foco deveria estar mais centrado na questão ambiental e no planejamento familiar).


Em suma, todos esses problemas causaram diminuição da qualidade de vida. Neste momento, repetindo erros passados, algumas lideranças pretensamente iluminadas tentam empurrar pela goela da população dois projetos de grande porte, altamente poluidores, um pólo siderúrgico e uma termelétrica.


A intenção é instalar tais empreendimentos em áreas do Limoeiro, Vila Maranhão e adjacências, em locais considerados de preservação (licenciamento ambiental da fábrica de EIA-RIMAS está sendo questionado pelo Ministério Público).


Todos esses problemas, além de dezenas de outros que poderíamos aqui enumerar, serão herdados pelo futuro prefeito de São Luís.


A discussão dessa problemática já está na pauta de alguns pré-candidatos que estão dispostos a colocar na mesa de negociações, de forma séria como o tema exige, todo esse complexo debate.


Tal intenção já delineia o perfil arrojado de algumas novas lideranças, em detrimento de outras, já cansadas ou detentores de idéias superadas ou comprometidas com o aumento da destruição da ilha, lideranças gastas e que ainda tentam se sustentar com um discurso antiquado e distante de uma visão mais ampliada de todo esse processo.

A solução viável é simplesmente instalar no continente todas essas indústrias poluidoras, estimulando ainda a oferta de empregos aos moradores da ilha em tais pólos, pensando-se em diminuir a pressão da explosão demográfica em São Luís, e contendo na base a migração para a capital maranhense.


Dessa forma, serviços ora deficientes, tais como coleta de lixo, transporte, segurança pública e moradia poderiam ser oferecidos sem o excesso das queixas ora verificadas.


A idéia de progresso que os políticos tradicionais do Maranhão ainda carregam na bagagem deve ser enterrada com urgência.


Não existe progresso sem qualidade de vida, e um prefeito que venha, de fato, merecer tal designação, não poderá se furtar a essa transparente evidência dos fatos, sob pena de se tornar omisso diante dos anseios de seu povo e de ser mais um títere dos interesses predatórios das multinacionais.

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