sábado, 24 de maio de 2008

OS OLHOS DO MUNDO


Fernando Abreu já proclamava, em
"Antropológico":

“índio e poeta

só presta morto”


Talvez nem assim. A estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, na praia de Copacabana (RJ), vez por outra é pichada ou tem os óculos quebrados.


Há nesta atitude várias interpretações. Uma delas pejorativa, puro ato de vandalismo. Outra de provocação ao poeta. Arrancam-lhe os olhos postiços para exumar sua poesia. “As antenas da raça”, como dizia Ezra Pound, podem ser também os olhos do mundo.


A poesia não tem sossego. A morte do poeta é só uma passagem, porque sua arte está eternizada nos versos.


Os óculos de Drummond já foram repostos, dando ao mundo a chance de ver melhor a realidade.


Mesmo que lhe tirem os óculos de novo, nada vai impedir a profundidade da visão do poeta. Nem morto.

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