sábado, 6 de fevereiro de 2010

REENCONTRO NA DIÁSPORA MARANHENSE


No barco São Francisco de Assis, um dos muitos que percorrem os rios da Amazônia, viajam de Belém para Macapá (AP) os irmãos Miriam Ribeiro da Silva e Francisco Ribeiro da Silva.

Oriundos de uma família de dez irmãos, os dois não se viam há 20 anos. Miriam nasceu no povoado Lagoa do Angico, em Paulo Ramos, município do oeste maranhense.

Ela viveu até os 14 anos em Angico, mudou-se para Bacabal e depois ao Amapá – o destino de centenas de maranhenses que partem dos portos de Belém (PA).

Miriam mora em Macapá há 12 anos, acompanhando o marido, este já convidado por outro maranhense para trabalhar de pedreiro no norte.

Dos dez irmãos da família Ribeiro Silva, oito estão em Rondon e outro em Rurópolis, ambos municípios paraenses. No Maranhão só ficou o mais novo.

Segundo Francisco e Miriam, todos os irmãos trabalham na roça, “no roço da juquira”, especificam.

REENCONTRO – Francisco tem 39 anos. Queixa-se de febre e moleza no corpo, enquanto contempla o deslizar da embarcação no final da tarde.

Nasceu em Santa Quitéria, no Ceará, mas logo aos três meses mudou-se com os pais cearenses para o Maranhão.

Morou em Lago da Pedra, Paulo Ramos e Buriticupu. Depois, em Rondon do Pará, onde finalmente foi contatado pela irmã Miriam.

“Vou para Macapá ver se arranjo um emprego porque em Rondon tá ruim. Quero um serviço melhor para cá”, espera, apontando a proa do barco que corta o rio Amazonas quando surge a lua cheia.

Separado, com uma filha de um ano e oito meses, Francisco trabalhou a vida inteira na roça. Em Rondon atuou em um criatório de peixe, mas abandonou tudo para aventurar-se no Amapá.

As tentativas de reencontro dos irmãos partiram dos dois lados.

Francisco telefonou para Macapá, descobriu o número de uma rádio, deixou recado na emissora, mas nunca conseguiu falar com a irmã.

As tentativas de Miriam foram mais consistentes, recorrendo a um antigo meio de comunicação – a carta.

“Sempre mandava cartas para minha mãe e meus vizinhos, no interior onde eu nasci, lá no Maranhão. Passei 11 anos fazendo as cartas, duas vezes por ano, até que um dia eu consegui localizar ele. Eu nunca tinha perdido a esperança. Foi emocionante. Quando aconteceu quase eu não acredito”, comemorou Miriam.

O irmão, que já havia desistido, celebrou: “Fiquei feliz demais, uma alegria muito grande. Dei meio mundo de abraços nela. Eu não tinha mais esperança de encontrar a Miriam.”

Ele viu pela primeira vez sua sobrinha, filha de Miriam, de 12 anos (ao centro na foto). “Agora eu vou com vocês, ver se consigo um serviço bom pra lá, para viver melhor”, persevera.

Francisco impressiona-se diante do “meio mundo d’água” na Amazônia e com os ribeirinhos remando rápido as canoas para receber doações de roupas e alimentos jogadas em sacos plásticos do alto dos barcos grandes.

A saga dos Silva recomeça na travessia do Amazonas. “Quero uma vida melhor para lá”, disse Francisco, na popa do barco, respirando um ar puro inspirador.

Naquele instante, ele parecia livre da roça, do latifúndio e do mandonismo político que o escravizaram mais da metade da vida.

Do Maranhão ao Pará, até o Amapá, pouca coisa mudou nos últimos 40 anos. Mandam os mesmos.

O prefeito macapaense, Roberto Góes (PDT), é sobrinho do governador amapaense Waldez Góes (PDT), reeleito em 2006 com 53,69% dos votos. Destes, é aliado o senador José Sarney (PMDB).

A oposição, que já governou o estado, é da família Capiberibe (PSB), cujos métodos de mandonismo pouco diferem dos Góes.

É neste ambiente que Francisco só pensa em melhorar de vida. Tomara que dê sorte.

FLUXO - Os maranhenses foram atraídos ao norte no final da década de 60, para trabalhar no projeto Jari e no garimpo. Aos poucos fixaram residência e chamaram os parentes. Até hoje o fluxo de maranhenses ao Amapá é grande.

Nas embarcações que partem de Belém é comum encontrar pessoas de várias regiões do Maranhão cujas teias familiares estendem-se até Macapá.

FOTO: Francisco vê pela primeira vez a sobrinha, de 12 anos, e reencontra a irmã Miriam

4 comentários:

  1. O seu texto narra um reencontro emocionante daqueles que ainda têm alguma sorte.

    Belo trabalho.

    O título do texto me lembra Palmério Dória no livro "Roaseana Sarney - A candidata que virou picolé" que compara maranhenses a dekasseguis.

    Abços

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  2. Bom Texto. Considero o Patrono dessa Diáspora o senador José Sarney. Primeiro - pelo que fez no Maranhão. Segundo - por ter também buscado abrigo no Amapá.

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  3. SAMUEL,
    FRANCISCO AINDA TEVE A SORTE DE NÃO TER IDO PARAR EM UMA FAZENDA DE TRABAHO ESCRAVO, ONDE SOFREM TANTOS MARANHENSES.
    ED

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  4. FRANCISCO,
    SARNEY É O PATRONO E TEM COPATROCINADORES. OS EX-GOVERNADORES JOSÉ REINALDO E LUIZ ROCHA, COM SEUS DESCENDENTES, FIGURAM ENTRE AQUELES QUE DE ALGUMA FORMA COLABORARAM COM ESSA DIÁSPORA. TEM OUTROS. A LISTA É ENORME.
    ED WILSON

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