Samuel Marinho *
Fiz uma audiometria recentemente.
Foi diagnosticada uma leve perda auditiva do lado esquerdo.
Adoro música.
De todos os gêneros e tipos, denominações e conceitos.
Ela me interessa para além de gostos estéticos podados, mais até enquanto fenômeno de expressão.
Minha audição haveria um dia de reclamar mesmo.
Mas, coincidência ou não, tudo aconteceu após minha inédita incursão no melody paraense.
Melody, pra quem não sabe, é um nome de roupagem para um fenômeno mais abrangente da música destas bandas: o tecnobrega.
Há quem abomine o som.
Assim como abominam alguns o reggae do Maranhão, lamentando a alcunha de “Jamaica Brasileira” conferida a São Luís.
As radiolas estão para o reggae maranhense como as aparelhagens estão para o tecnobrega paraense.
E o tecnobrega consegue soar tão genuíno quanto o funk carioca, conseguindo ser mais discriminado que este último.
Para o horror dos puritanos, ele mistura Carimbó, Siriá e Lundu e outros sons populares às batidas eletrônicas e sintetizadores.
O meio oficial de divulgação é a pirataria e as lojas dos discos são os camelódromos, um mundo não contabilizado, “off-ICMS”, o “caixa 2” da cultura.
Crime seria desprezar o fenômeno que saltava diariamente aos meus olhos e ouvidos.
Meu doce castigo foi me aventurar.
Segui o convite de Lobão: “Tá a fim de arrebentar no universo paralelo”?
Foi num distrito de Belém que meu choque aconteceu.
Sucessos de todos os tempos e estilos são condensados numa batida lancinante, com letras trocadas para o sabor da diversão.
“All the single ladies”, megasucesso da popstar Beyoncé, por exemplo, vira um hit inconteste em português com o refrão fielmente adaptado: “Hoje eu tô solteira”.
Eu sinceramente nem me lembro mais da música de Beyoncé.
Antropofagia pura, no melhor conceito oswaldiano.
Dessas de comer a Madonna e o Michael Jackson, vivos ou mortos, juntos.
Sem falar da dança: muito original.
Um misto de calypso, lambada e qualquer coisa eletrônica pulsante num enlace envolvente que, diferente do reggae maranhense, só pode ser saboreado a dois.
Adriana Calcanhotto, Otto e Regina Casé são alguns artistas de renome que já andaram investigando esses timbres daqui do norte.
Hermano Vianna, irmão antropólogo do líder dos Paralamas do Sucesso, dedicou o artigo “Tecnobrega: A música paralela” a explicar sua perplexidade sobre o que considera ser uma das mais genuínas manifestações da periferia brasileira.
Há experiências na vida que nos deixam marcas pra todo o sempre, quaisquer que sejam.
A médica disse que a minha audição nunca mais será a mesma.
• Samuel Marinho é colaborador deste blogue, servidor público federal e contador.
Fiz uma audiometria recentemente.
Foi diagnosticada uma leve perda auditiva do lado esquerdo.
Adoro música.
De todos os gêneros e tipos, denominações e conceitos.
Ela me interessa para além de gostos estéticos podados, mais até enquanto fenômeno de expressão.
Minha audição haveria um dia de reclamar mesmo.
Mas, coincidência ou não, tudo aconteceu após minha inédita incursão no melody paraense.
Melody, pra quem não sabe, é um nome de roupagem para um fenômeno mais abrangente da música destas bandas: o tecnobrega.
Há quem abomine o som.
Assim como abominam alguns o reggae do Maranhão, lamentando a alcunha de “Jamaica Brasileira” conferida a São Luís.
As radiolas estão para o reggae maranhense como as aparelhagens estão para o tecnobrega paraense.
E o tecnobrega consegue soar tão genuíno quanto o funk carioca, conseguindo ser mais discriminado que este último.
Para o horror dos puritanos, ele mistura Carimbó, Siriá e Lundu e outros sons populares às batidas eletrônicas e sintetizadores.
O meio oficial de divulgação é a pirataria e as lojas dos discos são os camelódromos, um mundo não contabilizado, “off-ICMS”, o “caixa 2” da cultura.
Crime seria desprezar o fenômeno que saltava diariamente aos meus olhos e ouvidos.
Meu doce castigo foi me aventurar.
Segui o convite de Lobão: “Tá a fim de arrebentar no universo paralelo”?
Foi num distrito de Belém que meu choque aconteceu.
Sucessos de todos os tempos e estilos são condensados numa batida lancinante, com letras trocadas para o sabor da diversão.
“All the single ladies”, megasucesso da popstar Beyoncé, por exemplo, vira um hit inconteste em português com o refrão fielmente adaptado: “Hoje eu tô solteira”.
Eu sinceramente nem me lembro mais da música de Beyoncé.
Antropofagia pura, no melhor conceito oswaldiano.
Dessas de comer a Madonna e o Michael Jackson, vivos ou mortos, juntos.
Sem falar da dança: muito original.
Um misto de calypso, lambada e qualquer coisa eletrônica pulsante num enlace envolvente que, diferente do reggae maranhense, só pode ser saboreado a dois.
Adriana Calcanhotto, Otto e Regina Casé são alguns artistas de renome que já andaram investigando esses timbres daqui do norte.
Hermano Vianna, irmão antropólogo do líder dos Paralamas do Sucesso, dedicou o artigo “Tecnobrega: A música paralela” a explicar sua perplexidade sobre o que considera ser uma das mais genuínas manifestações da periferia brasileira.
Há experiências na vida que nos deixam marcas pra todo o sempre, quaisquer que sejam.
A médica disse que a minha audição nunca mais será a mesma.
• Samuel Marinho é colaborador deste blogue, servidor público federal e contador.
Confesso que fui surpreendida por esse texto sam.
ResponderExcluirnada contra o tecnobrega em si mas elevá-lo ao status de quase um movimento literário?? putz.. acho meio forçado...tudo bem que ele possa ser comparado ao reggae maranhense e ao funk carioca, estao todos na mesma prateleira...mas deixe o oswald fora disso...rs
Me perdoê amigo, mas Comparar o tecno-brega do Pará com o funk carioca é a mesma coisa que comparar o nada com coisa alguma, pois essas manifestações não acrescentam nada para a nossa cultura e visao de mundo.
ResponderExcluirAtenciosamente
Walter Lucio Costa
Tenho nojo do Tecknobrega paraense...nojo profundo do raggae maranhense....
ResponderExcluirDuas porcarias inúteis...
Andrea
ResponderExcluirA intenção do texto não é discutir o tecnobrega enquanto proposta estética (se é que há alguma), mas sim enquanto manifestação crescente, longe da intelectualidade hegemônica, da periferia paraense.
Haverá tvz o dia em que artistas dessa mesma intelectualidade hegemônica , como já está acontecendo, absorvam o fenômeno e abrandem para nós da “classe média” o que hoje ainda é puro preconceito.
Foi Caetano por exemplo que tirou Fernando Mendes da lata do lixo e o levou à prateleira Cult.
Eu não sou cahorro não.
Walter
ResponderExcluirÉ mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito.
A mente que se abre a uma nova idéia nunca mais é a mesma
São duas frases que eu adoro de Albert Einstein
Tudo é relativo nessa vida.
Salve a bomba atômica e o tecobrega
Abços
Samuel
Legal o texto,
ResponderExcluirMuito bom, mas o que o tecnobrega e o funk tem em comum caro Walter Lúcio, é o fato de unirem o povo, de todas as raças, e estruturas sociais, e a partir destas aproximações e algumas letras abençoadas, são passadas mensagens que nos levam a uma reflexão como na música Televisão - Face da Morte, que aconselho ao amigo escutar no youtube onde procura passar a verdade e não a alienação, desta forma no meu modo de entender é louvável. Sou eclético.
Sóstenes Salgado
Administrador
Legal sua observação Sóstenes
ResponderExcluirO que acho legal no funk carioca, no reggae maranhense ou no tecnobrega paraense é a expressão.
Cresci num país que quem tinha o direito de se manifestar era gente como Cazuza e Renato Russo, gente da classe média que se valia do esquema oficial vigente para se divulgar.
Hj assistimos a um movimento diferente que insiste sair da periferia para o centro, pelos meios não-oficiais, gravados pela pirata records, o que mexe com o pudor de muita gente.
Pasmem, aceitar manifestações como o tecnobrega e o funk, e porque não saboreá-las, é pra mim uma questão de maturidade cultural.
Ta certo Sam
ResponderExcluirDaqui por diante vou tentar imaginar versos de Manuel Bandeira e Oswald de Andrade na batida melody. Quem sabe a "originalidade" do tecnobrega não me soe então mais clara....???
Samuel Parabens pelo texto. È muito ecletismo por aqui. Uma análise lúcida e sem preconceitos. Tenho acompanhado todas as discussões. Já ouvi vc falando com propriedade sobre Cazuza Renato Russo Zeca Baleiro Caetano Veloso Coldplay Radiohead Michael Jackson Madonna Nando Reis só pra citar alguns. Agora essa do tecnobrega veio realmente pra confundir a cabeça do povo. rs
ResponderExcluirAcho que tá faltando o Lenine, por isso a Andrea tah meio chateada rs :-)
Abços e Força Sempre
Rafa
Difícil vai ser separar a "estética" das "manifestações da periferia" !!! No dia em que o Samuel conseguir separar esses dois elementos por favor me diguem para colocá-lo como um dos maiores filósofos da contemporaneidade!!!!
ResponderExcluirAfinal a "antropofagia" do Oswald não tem nada a ver com o "tecnobrega paraense" !!!
O observador.
Prezado Sostenes Salgado
ResponderExcluirGostaria que vc citase pelo menos uma "letra abençoada" desse ritmo repugnante que é o tecnobrega. Só se for abençoada pelo capeta... Me perdoe amigo acho que vc perdeu a completa noção de tudo.
Atenciosamente
Walter Lucio Costa
Advogado
O título do texto andrea foi proposital
ResponderExcluirHá um livro muito bom que fala dessas relações da música popular. O que é considerado brega, o que é tido como chique. Em que ponto o brega passa a ser chique, cool. Vc já se fez essa pergunta??
Quando artistas como Zeca Baleiro regravam Waldick Soriano e isso interfere na imagem que se fazia do compositor tido como brega, esse fenômeno está na nossa cara.
“Eu não sou cachorro não” de Paulo César Araújo é um livro muito interessante que trata dessas relações.
De certa forma quis comparar um movimento considerado periférico (o tecnobrega paraense) a um movimento dito intelectual (a antropofagia oswaldiana) quando essa divisão do que é centro e periferia está apenas na nossa cabeça. O canibalismo no fundo é o mesmo.
Um bjo pra vc
Rafa
ResponderExcluirObgdo pela observação e vc tem razão... Acho que a Andrea ta magoada comigo..rsrs mas tenho receio de escrever algo sobre o Lenine e ela nunca mais falar comigo rs
Observador
ResponderExcluirMinha licença poética vai além da sua mente condicionada a verdades prontas.
Nesse sentido sou um dos maiores filósofos contemporâneos em plena atividade.
Eu nasci há dez mil anos atrás, não se esqueça disso.
Por trás da minha cara de criança está a alma enrugada de quem já foi ao inferno e voltou.
Adoro ver a aparelhagem mastigando Beyonce e Michael jackson num ritmo bem tribal, assim como na proposta de Owsald.
Abços
Cara Andrea tomara que os versos de Manuel Bandeira e Oswald de Andrade sejam colocados numa batida melody assim como Renato Russo colocou Camões e tantos outros em suas obras, só assim esses renomados co nseguirão colocar seus pensamentos e suas culturas nos guetos, não que esteja afirmando que no gueto não existe cultura, o que digo é que algusn estão inacessíveis as obras que citei e somente a música ou fenômenos populares como este são capazes de esclarecer.
ResponderExcluirContra a alienação Sóstenes Salgado Administrador...e caro Samuel obrigado, vivi essa época da ditadura, sou de 1965 imagina só. Abraço
Pessoal!!!
ResponderExcluirEstou sendo sabatinada agora... Por favor poste logo qualquer coisa sobre o Lenine seja o que for eu irei adorar.
O rafa está terrível.... quer me me intimidar né?? rs
Quanto ao livro prometo ler.... Quem sabe eu não sou abduzida por ele e resolvo fazer minhas proprias versoes de tecnobrega???? rssdsdsd
Mas por ora não muito obrigado
Só não digo dessa água não beberei...
caro anônimo sem nome
ResponderExcluirnão sei se daria muito certo a idéia
estamos falando de coisas diferentes...
uma coisa eh renato russo, um gênio, fazer musica sobre poema de camões
outra coisa eh esse ritmo doidinho saih por aih mastigando (gostei dessa kkkk) michael jackson lady gaga e tudo o que ve pela frente... eh hilario...
rsrs
É... Dá para ver a FUSÂO de ritmos e conceitos que vc faz!!!
ResponderExcluirCom certeza é muita CON - FUSÃO nessa cabeça de filósofo do pop !!!
Eu diria que vc têm cara de velho e espírito de criança !!!
Afinal ainda está na fase do Rock and rool !!!!
Foi o observador que mandou a msg anterior.
ResponderExcluirObservador
ResponderExcluirNão estou falando de rocknroll
A pauta aqui é TECNOBREGA.
Vc já ouviu falar?????
VC é QUME ESTA FAZENDO CON FUSAO...
Aloooooooooooooooouuuuuuuuu
Vc naum esta contribuindo com a discussão, pois tudo o que foge ao que vc aprendeu com os olhos miopes da academia te parece confuso.
Por isso vc naum entende o que eu escrevo. As minhas palavras são pra vc algo assim sublime, para além da sua inteligência. Só pode ser isso...
No auge dos meu 29 anos não considero a minha cara de velho. Não tenho nada contra os velhos. Mas uma vez, já que vc quer rock, Renato Russo cantou "Todo adulto tem inveja dos mais jovens".
Naum precisava.
Mas olha... admiro os seus cabelos brancos.
Respeito-os, como diria Chico César (agora é MPB viu?)
Grande abço...
Uau!!!!!!!!Samuel, gostei muito do seu texto, apesar de não gostar de tecnobrega..acho que ele mistura o que há de pior na música...transforma tudo o que toca em uma especie de obsceneidade. Mas o que é pior...depois de um tempo trabalhando em uma linha tênue entre MA e PA, acabei até dançando o tal ritmo. Continuo achando que não diz nada e até ensurderce a gente, mas a sua forma de olhar me fez ver que até de algo assim podemos tirar proveito....Acho Vc sim, um filósofo com a cara linda e eu, pretensiosamente, tb acho que nasci há 10 mil anos. Gosto d que Vc escreve e te acho clarividente em vários pontos de vista. Bjo, Mari (velha amiga do Ed, por isso te achei por aqui. rsrs).
ResponderExcluirÉ isso aí Mari gosto de ver quando a musica, qualquer que seja, une as pessoas. A mágica acontece. Obbgo pela observação e pela "cara linda" rs... E vc está convidada a dançar o ritmo novamente aqui quando vier a Belém...rs... Esse final de semana vou levar Ed Wilson que veio de São Luís para sentir o choque de perto..... E aí Ed o desafio agora é para ti: Tá afim de arrebentar no universo paralelo????
ResponderExcluirSamuel,
ResponderExcluirTopo sim. Vamos desvendar os universos paralelos das estéticas todas. Você é o meu avatar.
Ed Wilson
hummmmmm........tô sentindo um clima de love nesse blogue....to gostando disso... concordo sam só a música une..rsrsrs
ResponderExcluirAbços
estou com dificuldade de postar no blog ed
ResponderExcluirdeu erro
queria dizer que esta rolando o maior love por aqui e que realmente a musica une... sei não...kkkkk
bjo sam
acho que a andrea ficou com ciúmes
ResponderExcluirrs..
mas prometo que vou formatar o melhor texto que eu puder sobre o Lenine em breve.....akle abçoooo
naum é ciume naum sam... ta se achando hein?? rsrsrs
ResponderExcluirmas estas mesmo intimado a escrever algo sobre o maior genio da musica brasileira de todos os tempos (qta responsabilidade heinn)..kkkkk
um abcaummmmm meu lindo
Entendo que é uma questão de ponto de vista e, apesar de outros fatores que envolvem o Tecnobrega, o Funk Carioca e o Reggae Maranhense, devemos levar em consideração que estamos em um país onde há uma diversidade cultural muito grande. Tem muita gente esculhambando o tecnobrega paraense e enaltece o famigerado pseudo-axé da Bahia ou o pseudo-forró cearense. Isso ninguém se refere. De um modo geral, existem diversos mecanismos para se faturar uma grana desonesta no mundo musical brasileiro e mundial. É um assunto abrangente e merece ser discutido, mas é lógico que temos que possuir um mínimo de maturidade possível. Não devemos radicalizar só porque se utilizou uma comparação à um nome da literatura, da ciência ou de uma outra área de atuação. Temos que nos desprender de qualquer sentimento de preconceito, dogmas ou alguma idéia pré-estabelecida ou pré-concebida. Qual é o mal que há entre o tecnobrega e os excelentes Oswald de Andrade, Manoel Bandeira, Elvis, Jim Morrisson, Luiz Gonzaga, Mozart e etc. Se vivêssemos em um mundo perfeito tudo seria uma "beleza" para alguns babacas e imbecis metidos a intelectuais. Para quem não sabe o Pará possui o que podemos falar de a melhor música brega do Brasil. Desde o início dos anos 80 o denominado brega romântico que revelou o lambadeiro Beto Barbosa, Alípio Martins, Teddy Max e outros nomes seminais do brega pop paraense que sofreu diversas mudanças e fusões. Em resumo, essa música periférica é algo que temos que compreender suas causas e seus efeitos. Por fim, parabenizo o Ed Wilson pelo assunto abordado e, também, o Samuel Marinho pela lucidez, sensatez e coerência demonstradas.
ResponderExcluirUm abraço à todos!
Prezado Raimundo, muito grato pelas observações... O seu comentário foi capaz de absorver toda a intenção que eu quis passar no texto um grande abraço...
ResponderExcluirVolte sempre