segunda-feira, 13 de setembro de 2010

RELATIVISMO ÉTICO NA POLÍTICA OU SOBRE A SÍNDROME DO QUANTO PIOR MELHOR...

Jorge Leão *

Que garantia de moralidade podem nos contar os jornais sobre as campanhas eleitorais? A cada dia, escândalos de corrupção parecem dizer que somente os honestos não merecerão bônus para as próximas campanhas.

Lastimosamente, tudo gira hoje sobre “o quanto vou faturar com isso?”. É o famoso “toma lá que eu te tomo todo, e vou continuar querendo muito mais”. Sujeira no quintal com a lama de nossas poucas ninharias econômicas já se torna lugar comum, ao ponto de muitos dizerem: “ele rouba, mas pelo menos faz alguma coisa”...

Se fôssemos perseguir seriedade e honestidade com a coisa pública, quantos de nossos candidatos a cargos públicos atualmente resistiria à navalha afiada da ética? E mais triste ainda é perceber o quanto a política cai no descrédito da maioria da população, que diz, em tom de desabafo, “se não fosse obrigado por lei, não sairia de casa para votar”.

Alguma coisa muito estranha povoa a mente da população, que soa aqui como indiferença e até mesmo descrença. Mas o que é mais doído é justamente esse descaso pela política, que acaba beneficiando exatamente os corruptos e oportunistas da coisa pública.

Quanto mais pensarmos que todo político é corrupto, mais os que já são corruptos vão se beneficiar, pois se todos são, até aqueles que de fato não são, passam a ser, aos olhos de quem repete isso; então não há mais diferença entre o fruto podre e o fruto bom?

Logo que estacionamos o carro diante da fachada da escola pública “modelo” abandonada, sentimos o quanto um estado com educação pública na UTI é implicado neste perverso silêncio das pessoas honestas que conhecemos.

A outra leitura de política, que é a coletividade a serviço do patrimônio público, perde então sua força, embora jamais sua validade, quando se observa a perda de referenciais educativos em nossa política.

Platão, filósofo grego do século IV a.C, em sua obra “A República”, exigia uma sólida formação filosófica para os governantes. Ele considerava essencial a ética para a vida política, porque é a partir daquele fundamento que se faz da cidade um espaço de convivência feliz, em que a liberdade e a cidadania são práticas cultivadas desde o ventre da política.

A desgraça da política, segundo ele, seria um governante sem o conhecimento do bem e da verdade. Ele pensaria em apenas aumentar seu patrimônio familiar.

Mas, hoje como o mais rápido é sempre o mais apreciável e quase sempre o mais recomendado, falar em honestidade parece soar como um artigo de luxo, ou espécie rara de algum animal amazônico. O que deveria ser a regra, passa a ser doravante a exceção.

O caminho a ser trilhado é, no entanto, o de construir uma nova forma de caminhar. Política e ética não podem ser desmembradas. No momento em que nos encontramos, a nossa única garantia é a de que sem homens que alicercem sua vida no bem comum e na verdade, não poderá e nem jamais haverá uma sociedade justa.

Portanto, a crise não é da ética, mas dos homens que se deixam corromper pelas armadilhas do dinheiro fácil. Afortunados pela ganância, não vêem que sua prática impede que os remédios cheguem aos postos de saúde pública, e de que novas escolas públicas de qualidade sejam abertas nos núcleos periféricos de nossas cidades e interiores.

Um vampiro na política faz mais estragos que a seca fabricada do Nordeste brasileiro, que justamente pela existência da inexistente política real, nos moldes platônicos, o caminho torna-se largo e fácil para alguns, e duro e amargo para a maioria da população.

Quanto mais analfabetos políticos, mais serão as mortes pela ausência política dos que desfazem os princípios éticos que devem estar na base de toda ação individual e coletiva.

* Jorge Leão é professor de Filosofia do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), campus Monte Castelo

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