sábado, 26 de fevereiro de 2011

SÃO LUÍS SOB NOVA ADMINISTRAÇÃO

Brindamos este sábado com uma bela crônica do professor Marcio Carneiro. No período carnavalesco, São Luís tem novo prefeito – o Rei Momo.

Marcio Carneiro *

O carnaval é um tempo de mudanças radicais. Coisas inconcebíveis nos dias comuns acontecem no período carnavalesco e talvez por isso ele seja esperado com tanta ansiedade.

Machões vestidos de mulher andando tranquilamente pelas ruas; lisos e abastados dividindo espaços comuns e o tom branco da maizena apagando as diferenças raciais são exemplos dos bons ventos democratizantes que sopram durante esses dias de folia.

Mas há também um outro fato que poderá trazer esperança para todos os moradores de São Luís, que sonham com uma cidade mais humanizada e melhor, sem discriminações: a mudança da administração municipal.

Sim, porque pela força da tradição, o prefeito terá que passar as chaves da cidade ao rei, Momo, um gestor muito mais interessado na felicidade e bem estar de seus súditos.

E não será essa a principal qualidade que desejamos de alguém que elegemos para nos representar? Que em primeira instância, antes do apego ao trono, à corte e às facilidades do poder, se interesse em saber se vamos bem, se estamos em condições de enfrentar a dureza da vida em sociedade com a ajuda de serviços públicos eficientes?

Sempre fico em dúvida se o problema da atual administração é o desinteresse por essas preocupações ou uma inabilidade, cada vez mais notada, em perceber que uma cidade em franco crescimento como São Luis também terá problemas cada vez mais complexos, que vão requerer por conseqüência soluções mais criativas e ousadas.

Ninguém agüenta mais a repetitiva e conhecida ineficiência das famosas “operações tapa-buraco”, com sua planejada sazonalidade para dizer sempre: “não ficou melhor por causa da chuva”. Nem os atrasos no início do período letivo, ou a falta de vagas nas escolas e nos hospitais; ou ainda o desprezo pelo nosso patrimônio histórico, que em outras cidades é fonte de receita e orgulho.

Enfim, todas as coisas que estão sendo enfrentadas com um repertório de outras temporadas, cada vez menos eficaz, cada vez mais indicando um descompasso grave, entre quem tem o poder de determinar o ritmo com quem o convidou para tocar. As escolhas ruins nunca dão samba.

Que a nova administração momesca ensine a todos que é hora de ousar, de ser criativo, de alterar rotinas, padrões e jeito de administrar; que marchinhas de outros carnavais nem sempre fazem sucesso quando o salão precisa urgente de reformas; que a população merece ser feliz e que esse deve ser o principal motivo da existência de qualquer regente.

Nunca é fácil botar um carnaval bonito na rua. Que o digam os dirigentes das escolas do Rio, que viram todo o trabalho de um ano virar fumaça em minutos ou os moradores das áreas de risco de São Luis, que a cada chuva, sentem uma angústia no peito, porque sabem que estão praticamente sós.

Mas é pra isso que existem os administradores, pra achar o caminho, a harmonia entre receitas e despesas, guiando seu povo pra atravessar a avenida, sem perder o ritmo, mesmo quando o asfalto não é essas coisas.

Não é hora de se esconder, nem de fazer que não é consigo. É hora de puxar o samba e cantar alto: essa cidade é minha também.

Que o rei Momo administre, mesmo que apenas por alguns dias, usando as chaves que lhe forem dadas, para abrir os olhos de quem olha pra São Luis e não consegue ver quão especial ela realmente é.

* Marcio Carneiro é professor do Departamento de Comunicação da UFMA

Um comentário:

  1. Excelente texto. Preciso diagnóstico dessa administração desastrosa. E mais: ótima analogia com o Carnaval. Aproveitando a oportunidade, alguém lembra da época da Gardênia, nos longínquos anos 80? Existe alguma diferença?

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