sábado, 17 de março de 2012

CAMINHOS

Ana Maria Marques *

O encontro aconteceu de forma inusitada, pouco convencional, resultado de um trato do tempo com a sorte; um acerto da busca com a intuição.

Virtualmente. Contato, sem tato. Fragmentos de histórias vividas entrelaçavam-se aos planos não experimentados, ao desejo, aos poucos, construído.

Num átimo, toda a história foi se desenhando.

A cada palavra escrita, a cada imagem trocada.

Confidências ditas, emoções sentidas e a ideia do porvir.

Vozes e gestos, tudo então desconhecido. Sabia de sua gargalhada, que imaginada, não emitia som.

Nem lhe conhecia o rosto, a cor dos cabelos... nada sabia sobre seu cheiro, seu tato. Não lhe conhecia a tez.

Ambos, no entanto, compactuavam do mesmo anseio, alimentavam-se, reciprocamente, da esperança do encontro, da realidade do encanto, da possibilidade “de”.

Alternavam-se entre a inquietação da espera e a paz do sonho. Acreditavam na verdade do encontro, inicialmente, de almas, de anseios, de (des)continuidades habilmente desenhadas pelo capricho do tempo; intuitivamente acalentadas nos desejos dos dois...e depois?

Realidade. Vaidades de terno e batom... Encontro.

Suores, desejos, sussurros. Tudo se esculpia na unicidade dos corpos, se enfeitava da leveza das almas, se materializava no silêncio de dois, a contar o mesmo sonho. Só um.

Caminhos. Sonhos trocados com ausência de culpa.

* Ana Maria Marques Ribeiro é graduada em Direito e mestre em Políticas Públicas (ambos pela UFMA), professora de Direito Ambiental da Faculdade São Luiz e superintendente de Administração na SEMED.

Um comentário:

  1. Essa menina é de um talento comovente. Escreve no limite do objetivo e do figurado, naquela fronteira em que apenas a alma consegue transitar com leveza. "Alternavam-se entre a inquietação da espera e a paz do sonho. Acreditavam na verdade do encontro, inicialmente, de almas, de anseios, de (des)continuidades habilmente desenhadas pelo capricho do tempo; intuitivamente acalentadas nos desejos dos dois...e depois?". É coisa para se ler e reler, lentamente. Como quem degusta um vinho especial.

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