segunda-feira, 5 de março de 2012

COMO É UM VÔO DE ALÇAPÃO?

Ana Maria Marques *

Como é um vôo de alçapão?

Ecoava... vôo de alçapão... o que se esconde nas linhas da metáfora?

Vôo de alçapão: mergulho fundo, sem reservas... sem saber o que virá.

Experimentei o ar com certa nostalgia, pensei no valor do tempo e na sua efemeridade, respirei, sorvendo cada detalhe que o segundo desenhou. Apenas.

E tudo me pareceu tão valioso! Cada sorriso, cada sussurro, cada golfada de ar que demos juntos.

Vôo de alçapão. Conhecer-lhe o conteúdo significou caminhar na escuridão, flertar com a aventura, experimentar aquela doce mistura de alívio, medo e euforia, ligados, subitamente, num único laço.

Foi sim, um modo mais suave de viver, ainda que fugaz.

Meu vôo de alçapão: imagens caleidoscópicas e o retrato de uma cumplicidade que parecia antiga...

E eu me vi por horas liberta, atrevida. Era assim a mecânica dos nossos corpos, insana, mundana, desmedida.

Vôo de alçapão: flerte com o desconhecido sentindo a perplexidade diante da ousadia!

Cores de um novo cenário abriam-se num feixe de maliciosas incógnitas e eu nem me imaginava apta a descortiná-las. Tive medo. (Mas pra algumas pessoas o medo é mudo. Silente.)

Na teimosia, própria dos taurinos, precisava fazer da experiência minha matéria, precisava dar à minha fantasia uma existência própria, capaz de ofuscar o medo.

Foi assim que aprendi: coragem era temer e não fugir. E naquela circunstância teria fugir de mim mesma, já havia iniciado meu vôo. Agora era seguir porque, às vezes, a razão é atropelada pelo destino, sem a menor consideração, num vôo de alçapão.

* Ana Maria Marques Ribeiro é graduada em Direito e mestre em Políticas Públicas (ambos pela UFMA), professora de Direito Ambiental da Faculdade São Luiz e superintendente de Administração na SEMED.

Um comentário:

  1. Anotem esse nome, porque muito dele ainda se há de ler e ouvir. Ana Maria Marques é um talento. Eu, que tive a honra de olhar os seus primeiros frutos, fiquei extasiado com o seu jeito elegante e delicado de lidar com as palavras. É de um lirismo e inteligência comoventes. Vai formando frases e significados com a simplicidade de quem troca confidências com alguém muito querido. O resultado é um texto saboroso, que se começa a ler e reza para não terminar jamais. Se tivesse que defini-la com apenas um palavra, diria: com as letras ela é um assombro.

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