sábado, 10 de março de 2012

MORENA DO MAR

Ana Maria Marques *

Era um ritual, iniciar o dia com os pés no mar.
O vento que lhe soprava o rosto, os raios que lhe esquentavam o corpo.
Gostava mesmo daquele momento que era tão seu!
Ao longo do dia, suas horas escapavam num cenário de cunho pragmático que, em nada se alinhava à essência livre da menina de pés descalços, que tateava a areia com leveza: plena, serena.
No universo de Morena cabia um mosaico de múltiplos mundos.
A todos encantava com o sorriso franco, contínuo, a emoldurar-lhe o rosto, ainda que guardasse no olhar uma tristeza contida, pela solidão por anos esculpida. Morena era assim: caleidoscopicamente diferente...
Gostava mesmo daquele momento que era tão seu.
Era como se o toque do pé na areia ou onda que lhe tateava o corpo pudessem talhar, no caminho trilhado, o encontro, de forma silente, tão esperado.
Tanta história construída nessa espera incontável!
Morena amava num tempo só seu: não se contava dias, meses, anos. O amor de Morena era medido em risos, planos, cama, chama...
Num dos mundos de Morena, era um ritual iniciar o dia com os pés a amar, no mar ...
Gostava mesmo daquele momento que era tão seu...no mar. Morena...amar. Morena...a(o) mar...
* Ana Maria Marques Ribeiro é graduada em Direito e mestre em Políticas Públicas (ambos pela UFMA), professora de Direito Ambiental da Faculdade São Luiz e superintendente de Administração na SEMED.

Um comentário:

  1. Ana Maria Marques escreve como quem conta uma história ou troca confidências com um amigo querido. O texto é simples, delicado, fluente, maduro, pleno de imagens. "Morena amava num tempo só seu: não se contava dias, meses, anos. O amor de Morena era medido em risos, planos, cama, chama...". Coisa de gente grande. Sou fã dessa menina-mulher. E nao me canso de dizê-lo.

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