Antes de qualquer análise, seguem os nossos votos de condolência
aos familiares e amigos do jornalista Décio Sá, excluído da sociedade em um ato
de barbárie.
O assassinato do jornalista militante do Sistema Mirante/Globo
de Comunicação é mais um fato a comprovar o estágio pré-político do Maranhão degenerado.
A pistolagem que normalmente mata quilombolas e ameaça
lideranças sindicais no campo chegou novamente à avenida Litorânea, 15 anos após
a execução do delegado Stênio Mendonça (1997), na época puxando o fio da meada
do crime organizado.
Em uma década e meia, as organizações criminosas latentes
voltam a operar cara a cara, desta feita contra um jornalista influente nos
meios político e jurídico.
Na ausência da Política como forma de administrar a coisa pública
e organizar a vida em sociedade, imperam a força, o caos e a morte.
A começar de São Luís, com os agravantes da vizinha cidade
de Paço do Lumiar, chegando aos lugares mais longínquos, falta quase tudo aos
maranhenses.
Falta, sobretudo, dignidade e ética às administrações federal,
estadual e municipal. Nesse vazio, o crime cresce e ameaça os controladores
oficiais da máquina pública e dos interesses privados.
Décio Sá operava informações estratégicas nos bastidores das
tenebrosas transações dos grupos de poder no Maranhão: agiotagem, empreiteiras,
negócios do Judiciário e de parte do governo.
Vinham de Décio, recentemente, ataques virulentos ao chefe
da Casa Civil Luís Fernando Silva (PMDB), um dos nomes cotados para substituir
Roseana Sarney no governo.
O jornalista executado também denunciou fatos execráveis
como a venda de sentenças no Tribunal de Justiça (TJ) e o sobe-desce de
prefeitos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Vieram à tona ainda, nas suas matérias, um dos mais rentáveis
negócios contra o povo maranhense – a agiotagem nas prefeituras.
Reféns dos agiotas financiadores de campanha, os candidatos às
prefeituras empenham as verbas públicas para saldar as dívidas futuras com os
credores. Assim, escorrem pelo ralo muitos FPM (Fundo de Participação
Municipal).
Ganhando a eleição, o prefeito agenciado pelos agiotas
destina aos operadores de campanha grande parte da verba que deveria atender à
população.
Os fatos filtrados por Décio Sá, até transformarem-se em notícia,
refletiam o submundo maranhense entregue à corrupção, às chantagens, golpes e
falcatruas.
Está nesse caudaloso e poluído rio o(s) mandante(s) da
execução. Décio é um óbito do Maranhão degenerado, entregue às forças obscuras
do pragmatismo clientelista, da aristocracia parasitária e de uma elite perversa.
Décio Sá não tinha uma causa. Era o jornalista de uma parte
do governo, fragmentado em interesses específicos, mas unido na tese de manter
o poder.
A execução do jornalista é um atentado contra a sociedade
civil organizada e desorganizada. Se mataram um jornalista destacado no Sistema
Mirante (Globo), mil vezes mais vulneráveis estão os cidadãos comuns e as
lideranças sindicais desprotegidas diante do latifúndio e dos seus capangas.
Mataram Décio Sá os mercenários contratados para executar o
crime. Porém, o Judiciário corrupto, a certeza da impunidade e a fragilidade das
instituições têm coautoria nessa barbárie.
O modo operantis (dois homens de moto, seis tiros) é típico dos pistoleiros de imperatriz.
ResponderExcluirCaro Ed, Parabéns! Excelente texto. Sem sensacionalismo e emocionalismo desnecessário... Isso faz a diferença ,,
ResponderExcluirExcelente texto Ed, pena que aqui as palavras sao para repercutir um fato tão triste para a classe jornalistica.
ResponderExcluirOs tempos de cão voltaram....
Caro jornalista:
ResponderExcluirAo seu artigo acrescentaria: mataram Décio Sá a miséria, a pobreza, o desamparao do Maranhão; a luta intestina dos poderosos do estado, o silêncio dos bons(M.Luther King); esse incrível conluio das diferentes esferas do poder em nada mudar.Para que outros crimes como esse não mais aconteçam, só mudando o Maranhão de alto a baixo.
Carlos Saturnino
Ed, o seu texto é tão lúcido.. que me desperta grande revolta, sobretudo quando no último parágrafo vc diz de forma tão simples qual o grande motivo de se resolverem assim as coisas no Maranhão, Tocantins, Brasil: impunidade! A bábarie está cada vez mais institucionalizada e quiçá, em vias de legitimação, pq as brechas da lei (nem sei se ainda são meras brechas)estão deixando cada vez mais impunes assassinos e outros bábaros!
ResponderExcluirNão poderia haver análise melhor: esse crime é reflexo da impunidade, da corrupção estrutural que não quer ser incomodada, da máfia/bandidagem que sempre foi alimentada pelas oligarquias do Estado e agora atinge membros da própria oligarquia!
ResponderExcluirO assassinato do Jornalista Décio Sá, não causou só a sua morte, mas é a condenação e ameaça a toda Imprensa Livre, a sua liberdade de expressão. Se não chegarem aos mandantes e tem que ser já, estará decretada a MORTE DO JORNALISMO MARANHENSE.
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