Nos 400 anos de São Luís, governo Roseana Sarney quer
destruir um patrimônio cultural da cidade
destruir um patrimônio cultural da cidade
O quintal da
casa de Olegário Batista Ribeiro é o primeiro passo para entender a importância cultural da Vila do Vinhais Velho na
cidade de São Luís. No terreno de 35m x 106m estão fruteiras diversas, juçarais
e fontes de água cristalina.
Olegário e sua riqueza: fruteiras, água e tranquilidade. |
Os outros quintais também marcam a paisagem
bucólica predominante nas cenas do bairro inteiro.
Aos 78 anos,
Olegário nasceu e criou os seis filhos no Vinhais Velho, um aprazível
território encravado entre o Sítio Santa Eulália e o Maranhão Novo, onde já
moravam outras gerações da família Ribeiro.
Os sete
quintais e as respectivas casas de Olegário, dos seus filhos e netos estão no
meio do caminho da Via Expressa – a avenida de luxo que pretende interligar os
shoppings de São Luís.
Além da
família Olegário, a vila inteira unificou-se para reivindicar um desvio no
traçado da avenida, com o objetivo de impedir a demolição das casas e da granja
Piu Piu.
O desvio no
traçado original deslocaria a avenida para a margem do igarapé Vinhais Velho,
tributário do rio Anil, com um custo adicional de R$ 7 milhões.
O valor é um
trocado perto das montanhas de dinheiro já desviadas no Maranhão.
Após
diversas negociações entre os representantes dos moradores e o governo estadual,
ainda não houve acordo. Intransigente, o secretário de Infra-Estrutura Max
Barros não admite o desvio.
O deputado
federal Domingos Dutra (PT) propôs até incluir emenda parlamentar para
viabilizar o desvio, mas o governo colocou novos obstáculos.
BARRICADA E
POLÍCIA
Os moradores
ergueram uma barricada dia 21 de julho para impedir o trânsito das máquinas que
trabalham na área. A Polícia Militar foi chamada e a tensão no bairro aumentou.
A barricada foi destruída pela Polícia Militar, em ação violenta, na tarde de ontem |
Ontem (25) à
tarde, a tropa de choque da Polícia Militar destruiu a barricada e atacou os
moradores com spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Mais uma
vez, as forças repressivas do governo Roseana Sarney (PMDB) agem contra pais e
mães de família no Maranhão, tratando como caso de polícia uma situação que
deveria ser dialogada.
VALOR
CULTURAL
O conflito
no Vinhais Velho não está reduzido a sete casas, 45 pessoas, uma granja e ao
valor das indenizações propostas pela Caixa.
No ano em
que São Luís completa seu quarto centenário, a Via Expressa ameaça um dos
principais marcos de fundação da cidade.
Antigo
território dos índios tupinambás, no Vinhais Velho foi edificada, desde 1612, a igreja de São João
Batista. Na vila foi instalada a primeira missão jesuítica do Maranhão. O local
é também um sítio arqueológico e Patrimônio Cultural Brasileiro.
A igreja de São João Batista, marco dos jesuítas nos 400 anos de São Luís |
A ameaça de
perder as casas angustia de imediato as pessoas que estão no meio do caminho da
obra, mas o valor cultural e arqueológico do Vinhais Velho é de toda a cidade
de São Luís, especialmente na véspera dos 400 anos.
POTENCIAL TURÍSTICO
Para o sociólogo
Ricarte Almeida Santos, secretário executivo da Caritas Brasileira no Maranhão,
o desvio na rota da avenida permite preservar o tradicional e agregar o moderno
à paisagem do Vinhais Velho, sem prejudicar os moradores.
No
entendimento de Ricarte, a vila tem potencial histórico fantástico, podendo
acionar uma cadeia produtiva no turismo, na gastronomia e na museologia.
A Cáritas e
diversas entidades dos movimentos sociais apoiam a luta dos moradores do
Vinhais Velho desde o início das obras da Via Expressa.
Café da manhã,
manifestações, missas, barricada, atos públicos e uma série de outras
atividades mantêm viva a reivindicação pelo desvio no traçado da avenida.
INDENIZAÇÕES
O Iphan foi
acionado e constatou o potencial arqueológico da área. Ações na Justiça tentam
impedir a demolição das casas ou obter uma indenização justa.
Além das 7 casas da família Ribeiro, a granja Piu Piu também está ameaçada de demolição pela Via Expressa |
Os
prejudicados com a obra reclamam também dos critérios de avaliação dos imóveis
para efeito de indenização, feito pela Caixa, que rebaixam o real valor das
casas, dos terrenos e do patrimônio cultural agregado às vidas das pessoas que
nasceram, cresceram, constituíram família e pretendem ficar para sempre no
bairro.
Segundo
Olegário Ribeiro, pela avaliação da Caixa os imóveis variam de R$ 29.600,00 até
R$ 60.000,00. Ribeiro conta que a comunidade solicitou outra avaliação, feira
pelo CREA, chegado a valores na faixa de R$ 275.000,00 a R$
284.000,00.
AS
PRIORIDADES DE ROSEANA SARNEY
A Via Expressa avança sobre os manguezais |
Se quisesse
fazer obras estruturantes para atenuar o problemático trânsito de São Luís, a
governadora Roseana Sarney (PMDB) deveria priorizar os locais de fluxo intenso,
como os retornos do aeroporto, São Cristóvão e Forquilha, onde é urgente a
construção dos elevados.
Mas, em vez
disso, o governo toca uma obra de luxo – a Via Expressa – cujo principal
objetivo é interligar os shoppings da cidade e estimular a especulação
imobiliária no entorno da avenida.
O(a) leitor(a) sabe quem serão os principais beneficiários desses empreendimentos.
As elites
retrógradas que dominam o Maranhão anularam os espaços públicos de convivência
para obrigar a população a freqüentar os shoppings e enriquecer ainda mais seus
donos – sócios dos grandes negócios políticos no estado.
Destruíram
as praças e seus sentidos como centros informais de convenções, lugares de
encontro das pessoas, das trocas simbólicas, do trânsito humano, da vivência
comunitária; enfim, da política.
Os
territórios da urbanidade, as áreas verdes, os ambientes da humanização, dos
encontros interpessoais e das formas de vida que produzem a política cotidiana
foram dizimados em São Luís.
E uma etapa
mais agressiva está em curso – a inviabilidade das praias da ilha toda – por
uma ação agressiva da Caema, na gestão de Ricardo Murad, cunhado de Roseana
Sarney.
Sem áreas de
convivência nos bairros e no centro, com as praças destruídas, os terrenos
baldios transformados em lixões e as praias poluídas, o morador de São Luís é
coagido a freqüentar os shoppings e deglutir fast food nas praças de
alimentação.
E qual a
principal utilidade da Via Expressa? Ligar os shoppings Tropical, Jaracaty e da
Ilha.
É por isso
que o governo Roseana Sarney mandou a tropa de choque da Polícia Militar
destruir a barricada dos moradores do Vinhais Velho.
No velho
Maranhão, o poder público garante os interesses privados da oligarquia.
Fotos: Joedson Marcos Silva, exceto a imagem da tropa de choque da PM, que foi capturada no facebook
Fotos: Joedson Marcos Silva, exceto a imagem da tropa de choque da PM, que foi capturada no facebook
Caro Ed,
ResponderExcluirparabéns... belíssimo texto..mas também destaco a qualidade do seu jornalismo, coisa que não muito frequente entre os jornalistas que passaram a ser blogueiros. Parabéns!!!
Ed,
ResponderExcluirEstivemos juntos na visita à vila. Tenho certeza que outro jornalista não faria texto melhor. Parabéns!
Ed Wilson, um texto e uma reflexão excelentes! Mas, queria destacar sobretudo o que você disse ao final sobre a inviabilidade de espaços de convivência em São Luis. Sempre me perguntava porque um lugar com tanta vocação prá espaços públicos de convivência não evoluía nessa direção. Neste sentido, tua reflexão foi certeira. Com praças, parques e praias inviabilizadas, só resta mesmo o fastfood.
ResponderExcluirabs
Lena Machado
Caro amigo Ed
ResponderExcluirComo pode um espaço de tanto valor histórico,- justamente, no momento de especulção pela importância da fundação da cidade de São Luis - vir a ser, em vez de presenteado, ser desprestigiado pelo governo de memória oca. SAIRIA MAIS BARATO E SAUDÁVEL, SE EM VEZ DE DESTRUIR O VINHAIS VELHO, O GOVERNO PRESERVAÇE-O HOMENAGEANDO-O PELA PASSAGEM DOS SEUS 400 ANOS.
Oi Ed, achei teu texto muito bom. Mais que uma denúncia ele me reportou aos tempos em que meu pai me levava junto com meus irmãos ao Vinhais visitar a família. Já estávamos morando no Apicum, porém era dever sagrado, tal visita aos domingos. Nos acostumamos a ela. Hoje visitamos com menos frequência, mas o local nunca deixou de ter sua importância afetiva para nós. Ainda temos parentes e amigos por lá e entendemos a revolta dos seus moradores. Parabéns pela belíssima forma com que abordastes o problema. Margô
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