terça-feira, 11 de junho de 2013

BOLSA FAMÍLIA: O PODER DE PLÁSTICO

Um dos maiores dispositivos de poder no Brasil contemporâneo é um pequeno objeto retangular, de plástico rígido, com uma tarja magnética no verso: o cartão do Bolsa Família.

Criado no conjunto de ações do programa Fome Zero, o Bolsa Família é a maior ferramenta de proteção social do Brasil.

Analisar esse fenômeno, face ao recente episódio dos saques estratosféricos e da “calça de 300 reais”, requer uma postura desapaixonada do debate rasteiro travado entre petistas roxos e tucanos emplumados.

Para o bem, o Bolsa Família injetou dinheiro na vida da população mais pobre e aqueceu a microeconomia nos grotões, onde a energia chegou através do Luz para Todos e, junto com ela, a geladeira, o presunto, o queijo e o frango congelado.

Não há como negar que a atividade econômica nacional aqueceu a indústria nas regiões mais desenvolvidas para abastecer o mercado no Brasil profundo, onde o dinheiro passou a circular.

O Bolsa Família também inovou na forma de concessão do benefício, colocando o dinheiro direto na conta do destinatário, sem a intermediação de vereador ou prefeito.

As prefeituras controlam a parte burocrática, entre elas a formação dos cadastros dos beneficiários (sujeitos a manipulações e fraudes), mas sem o poder de gerenciar o acesso ao dinheiro. Acabou a figura do político atravessador!

A lógica do Bolsa Família é diferente da indústria dos poços artesianos, por exemplo, cujo desvio dos recursos começa em Brasília e termina geralmente nos presidentes de associações rurais, controlados pelos prefeitos.

Com o cartão de saque na mão, o beneficiário do Bolsa Família ficou livre do vereador, do líder comunitário e do prefeito. Assim, o dinheiro direto na conta empoderou a pobreza, que passou a comer carne e tomar leite. Só não deu ainda para comprar a calça de 300 reais.

Alimentado e vestido, o outrora excluído passou a circular melhor nos ambientes escolares e de trabalho. O efeito preguiça e a acomodação, argumentados pelos críticos do programa, têm outras causas. No Maranhão, por exemplo, como não sentir preguiça diante de tanta desgraça política?

Para o mal, o Bolsa Família gerou uma cadeia de dependência ao governo do PT, que aperfeiçoou o programa de proteção social criado pelo PSDB.

O PT ampliou e sofisticou a “tecnologia” de fidelizar o beneficiário ao governo, mistificando Lula como o novo pai dos pobres, uma versão contemporânea de Getúlio Vargas.

Assim, o governo ampliou poderes. E muito! Não há como dissociar o cartão do Bolsa Família do título de eleitor. Eles estão como aqueles gêmeos que nascem com a barriga grudada uma na outra. A cirurgia de separação é delicada e perigosa.

Qualquer debate eleitoral passa pela guerra de versões sobre quem vai manter e quem supostamente vai acabar com o benefício. Será assim em 2014 e não sabemos até quando.

Convém ainda observar que no episódio dos saques estratosféricos a gestão da Caixa sobre o programa gerou insegurança. Com tanta trapalhada do banco, o que esperar da gestão futura do Bolsa Família?

E mais! Quem garante a correção dos cadastros e que não há benefícios sendo transferidos a quem não precisa?

Nas conversas informais com amigos e vizinhos, vez por outra surgem relatos de casos em que o cartão está na mão de gente que tem casa própria, carro e emprego.

Há indícios de que no Bolsa Família também tem corrupção. Falando nisso, é interessante observar que a derrama de dinheiro do governo federal na pobreza não diminuiu a compra de votos e outros delitos eleitorais.

Pelo contrário, o preço do voto aumentou!

Para além do bem e do mal, o Bolsa Família instituiu um ciclo vicioso que só será quebrado quando o Brasil fizer reformas estruturantes (prometidas desde a década de 1960) e mudar o rumo estratégico.

Mas esse parece não ser o caminho tomado pelo governo do PT. Cada vez mais refém da aliança com o PMDB e de figuras como José Sarney & Renan Calheiros, o governo Lula/Dilma é a cara da pobreza política.

Sem atacar as causas mais profundas da miséria, o Bolsa Família empodera no imediato as pessoas sem renda e torna o governo imbatível nas disputas eleitorais. Por quanto tempo mais?

Depois de Renan Calheiros, quem vai presidir o Congresso? Um outro coronel que massacra os miseráveis?

Não há Bolsa Família que dê jeito nessa política de plástico!

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