quinta-feira, 27 de junho de 2013

FUTEBOL E PROTESTOS: SUTIS DIFERENÇAS



Protestos na ditadura militar eram reprimidos com pancadaria, tortura e assassinatos
De todas as novidades provocadas pelas manifestações de rua em 2013, uma se destaca: a Fifa e os gastos com os estádios estão entre os principais motivos dos protestos.

Na década de 1970, quando também havia protestos (porém sob censura da ditadura), o futebol cumpria outro papel: o de narcotizar o povo diante das atrocidades cometidas pelos militares.

A produção audiovisual brasileira está recheada de filmes sobre a ditadura militar, nos quais uma parte do roteiro se repete: cenas da euforia da copa do mundo de 1970 ofuscando o terror das torturas e dos assassinatos.

O sentimento nacional, sempre presente nas manifestações, desde os anos 1960

Os filmes sobre guerrilhas urbanas de resistência à ditadura sempre exploraram o futebol como algo que alienava o povo da luta revolucionária.

Enquanto as torturas e os assassinatos campeavam, o povo, indiferente aos revolucionários, lotava os estádios de futebol.

Os militares souberam cultivar bem a onda ufanista do milagre brasileiro na música que embalou os estádios na conquista do tri-campeaonato mundial (México, 1970) pela seleção canarinho: “noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção.”

Pelé e o povo nos estádios, enquanto a tortura corria solta nos porões da ditadura

Uma das produções mais expressivas é o filme “O que é isso, companheiro?”, dirigido por Bruno Barreto, baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira, que narrou o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969, por organizações armadas de esquerda.

Os seqüestradores queriam trocar o diplomata por 15 presos políticos brasileiros e reivindicavam também a publicação de um manifesto revolucionário nos principais jornais nacionais.

No filme, findo o seqüestro, Charles Elbrick foi solto na porta do Maracanã, ao final de um jogo, para facilitar a dispersão dos autores de uma das mais ousadas ações da esquerda brasileira no período ditatorial.

O momento é bom para pensar as relações entre a política e o futebol. Nos anos 1970, com os protestos sob censura, o futebol era o ópio do povo. Nos anos 2013, as manifestações ganham alta visibilidade na mídia, mas os gastos com os estádios são a ira do povo.

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