segunda-feira, 24 de junho de 2013

O PT NO BANCO DOS RÉUS: JÚRI POPULAR


Roseana Sarney com a estrela: retrato falado do PT que vai a juri popular
A democracia brasileira deve muito aos três afluentes que deram volume ao grande rio do PT: as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o movimento sindical metalúrgico e os estudantes/intelectuais da Universidade.

O Lula sindicalista e a Dilma guerrilheira dedicaram bom tempo de suas vidas à militância na resistência à ditadura militar, nas lutas pela redemocratização e nas mobilizações que conquistaram as Diretas Já.

Pautado em uma visão gramsciana, o PT ajudou a construir um núcleo de forças democráticas e progressistas para a disputa de hegemonia contra os setores ultra conservadores.

O partido criou uma revista (Teoria e Debate), desenvolveu um programa de formação de quadros no Instituto Cajamar e organizou uma fundação (Perseu Abramo), voltada para pesquisa, educação e publicações.

As CEBs, sob orientação da Teologia da Libertação, prepararam milhares de militantes que pulverizaram organizações associativas urbanas e sindicatos de trabalhadores rurais. O Instituto Cajamar formou centenas de militantes e dirigentes com viés de esquerda. E a Fundação Perseu Abramo deu visibilidade aos textos e livros que disputaram no plano político uma visão programática do PT.

PT DE SONHOS

Esse conjunto de utopias desfraldou no Brasil a bandeira da esperança, levando à apaixonante campanha de 1989, embalada pelo jingle “Lula lá”, cantado nas vozes dos artistas globais e até por Chico Buarque de Holanda.

Nas campanhas subseqüentes (1994 e 1998) o PT flexionou ao centro, até chegar à aliança com o PL (Partido Liberal) em 2002. À medida que disputava eleições, a palavra “socialismo” ia desaparecendo dos textos compilados nas resoluções dos congressos nacionais do PT.

Eram as questões programáticas cedendo à pragmática da vitória eleitoral.

Inegável que a vitória de Lula em 2002 interrompeu um ciclo da aliança de extrema direita formada pelo PSDB/PFL (depois DEM). Se FHC tivesse feito seu sucessor por mais oito anos, o Brasil estaria pior.

Os mandatos de Lula, apesar de todas as contradições, foram fundamentais para atenuar a fome a miséria de milhões de brasileiros. Sobre o Bolsa Família, leia AQUI.

Lula também investiu na formação profissional, implantando centenas de Institutos Federais no Brasil inteiro, mas sofre críticas na academia sobre o viés adotado nos programas de qualificação de mão-de-obra.

O governo petista também ampliou o número de vagas para estudantes pobres nas universidades federais, simultaneamente à injeção de recursos nas instituições privadas através do ProUni, onde também há controvérsias.

No geral, a Era Lula foi um festival de oportunidades para quem nunca teve chance sequer de comer carne e beber leite. Gostemos ou não dos programas sociais, alimento é tudo.

PAI DOS POBRES E PADRINHO DOS RICOS

Mas, ao mesmo tempo em que atendeu à pobreza, o governo Lula e a sucessora Dilma fizeram a opção pelos ricos. Com dinheiro do BNDES, o governo financiou as faraônicas obras dos estádios das copas para atender à insaciável fome de lucro das empreiteiras, poderosas financiadoras de campanhas eleitorais.

Lula e Dilma foram generosos com os pobres e atenderam também ao apetite voraz dos grandes grupos econômicos representantes do capitalismo internacional. Os bancos privados e as empreiteiras foram privilegiados com a política econômica e as obras atravessadas dos governos petistas.

Uma delas, a transposição do rio São Francisco, está abandonada. E as usinas hidrelétricas (Belo Monte em destaque) têm uma péssima repercussão internacional devido às questões ambientais.

A mão invisível do mercado entrelaçou a política petista de tal maneira que ficou quase impossível dissociar a teia da corrupção dos avanços do governo. Para formar maioria, o PT recorreu aos expedientes do máximo pragmatismo e caiu nas garras do STF no julgamento do Mensalão.

Assim, os ex-presos políticos que ajudaram a construir o PT estão na iminência de outro tipo de prisão – por crime de corrupção.

Essa necessidade da maioria no Congresso Nacional tornou o petismo refém do PMDB.

MAIORIA CARA

A maior chaminé de São Luis na termelétrica de Eike Batista
Alianças com gente do tipo de José Sarney (PMDB) não correspondem apenas a apoio político-partidário. Tem negócios pelo meio que fizeram a burguesia brasileira empanturrar-se de dinheiro público financiado pelo governo do PT.

Basta ver, por exemplo, o multibilionário Eike Batista, beneficiário dos negócios das copas para administrar o Maracanã, paralelamente à voracidade com que compra hotéis no Rio de Janeiro.

Esse mesmo Eike Batista arremata leilões da Petrobras e enfia na ilha de São Luís uma termelétrica a carvão mineral, insumo altamente tóxico rejeitado no mundo inteiro.

 
Termelétrica vai queimar montanha de carvão mineral na ilha de São Luís
A termelétrica de Eike tem a maior chaminé da capital do Maranhão e vai produzir energia, área controlada pelo ministro Edison Lobão (PMDB), sócio político da oligarquia Sarney.

Quantos cartões do Bolsa Família valem um Eike Batista?

PAGANDO PARA VER

A fartura de dinheiro público do governo federal beneficiou também o império midiático, privilegiando as Organizações Globo. Nos 10 anos de governo petista, a família Marinho recebeu disparado a maior parcela da verba publicitária do petismo, que tanto falou em democratizar os meios de comunicação.

De 2000 a 2012, a Globo recebeu R$ 5 bilhões, 863 milhões de verbas publicitárias do governo federal. A Record, no mesmo período, ganhou R$ 1 bilhão, 571 milhões.

Os dados são da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, compilados e divulgados no blog de Fernando Rodrigues, do UOL.

 
Dinheiro farto do PT na Globo e quase nada para as emissoras públicas
INVERSÃO DE PRIORIDADES

No país necessitado de investimentos em estradas, ferrovias e portos, componentes indispensáveis para o desenvolvimento do país, o governo priorizou as obras faraônicas das copas, cujos resultados são questionáveis após os campeonatos internacionais.

O que fazer com um estádio em Manaus, onde sequer há times profissionais de futebol?

Enquanto os oligopólios midiáticos, os bancos privados e as empreiteiras alimentam-se dos esquemas petistas, muitos deles irrigados pela corrupção, o setor público segue quase falido. E as obras importantes, até mesmo do setor privado, foram colocadas em segundo plano.

É tudo uma questão de tempo. Investindo em ferrovias e estradas agora, o Brasil estaria colhendo resultados daqui a dez anos. Que colheita teremos na próxima década com os estádios de futebol?

QUE FAZER?

Com o povo nas ruas, os petistas estão relendo o clássico “Que fazer?”, de Lênin.

Os quadros do movimento sindical, os ex-líderes estudantis e parte dos intelectuais passaram a compor a base do governo, ocupando cargos burocráticos e mandatos, deixando um vazio na sociedade civil.

Os movimentos sociais antes controlados pela CUT dissiparam-se diante de novas frentes de luta com outras formas de organização: GLBTT, negros, mulheres, índios, juventude, ambientalistas, sem teto, sem terra, ativistas de direitos humanos, mídias livres etc.

Longe das bases e priorizando as novas amizades, Lula fez rasgados elogios a José Sarney, abraçou-se com Maluf e vê em Collor um aliado.

Nesse vácuo, os protestos de rua de 2013 são, em parte, culpa do PT, que agora é julgado com palavras de ordem, cartazes, passeatas e vandalismo.

Depois do Mensalão no STF, o PT vai a novo júri – do povo!

3 comentários:

  1. Parabéns pelo post, Ed! Com tantas contradições e opções totalmente incoerentes com a história do partido em seu primórdios o PT conseguiu também confirmar o que o senso comum já apontava: os partidos são todos iguais! E o apartidarismo fortaleceu-se!
    Um abraço,
    Alessandra Santos

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  2. O Dr. Marlon Reis tem razão. Nesse tom de desespero, além da reforma política, outro engodo da presidenta Dilma é a destinação dos recursos dos roets do pré-sal (100%) para a educação como resposta “às ruas”. Como?! Já que só vai aparecer renda do petróleo extraído nessa área daqui – a mais ou menos – cinco anos. TEM QUE PARAR É COM A ROUBALHEIRA: PRÁTICA DA ÉTICA NA POLÍTICA.

    É como dizia um cartaz de um jovem no sábado na Praça Maria Aragão: “ Nós não somos filhos DILMA PUTA “( penso eu que politicamente).

    Marco Antonio Carvalho Diniz

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  3. texto muito bom, imparcial e informativo

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