Roseana Sarney com a estrela: retrato falado do PT que vai a juri popular |
O Lula sindicalista e a Dilma guerrilheira dedicaram bom
tempo de suas vidas à militância na resistência à ditadura militar, nas lutas
pela redemocratização e nas mobilizações que conquistaram as Diretas Já.
Pautado em uma visão gramsciana, o PT ajudou a construir um núcleo
de forças democráticas e progressistas para a disputa de hegemonia contra os
setores ultra conservadores.
O partido criou uma revista (Teoria e Debate), desenvolveu
um programa de formação de quadros no Instituto Cajamar e organizou uma fundação
(Perseu Abramo), voltada para pesquisa, educação e publicações.
As CEBs, sob orientação da Teologia da Libertação, prepararam
milhares de militantes que pulverizaram organizações associativas urbanas e
sindicatos de trabalhadores rurais. O Instituto Cajamar formou centenas de
militantes e dirigentes com viés de esquerda. E a Fundação Perseu Abramo deu
visibilidade aos textos e livros que disputaram no plano político uma visão
programática do PT.
PT DE SONHOS
Esse conjunto de utopias desfraldou no Brasil a bandeira da
esperança, levando à apaixonante campanha de 1989, embalada pelo jingle “Lula
lá”, cantado nas vozes dos artistas globais e até por Chico Buarque de Holanda.
Nas campanhas subseqüentes (1994 e 1998) o PT flexionou ao
centro, até chegar à aliança com o PL (Partido Liberal) em 2002. À medida que
disputava eleições, a palavra “socialismo” ia desaparecendo dos textos
compilados nas resoluções dos congressos nacionais do PT.
Eram as questões programáticas cedendo à pragmática da
vitória eleitoral.
Inegável que a vitória de Lula em 2002 interrompeu um ciclo
da aliança de extrema direita formada pelo PSDB/PFL (depois DEM). Se FHC
tivesse feito seu sucessor por mais oito anos, o Brasil estaria pior.
Os mandatos de Lula, apesar de todas as contradições, foram
fundamentais para atenuar a fome a miséria de milhões de brasileiros. Sobre o
Bolsa Família, leia AQUI.
Lula também investiu na formação profissional, implantando
centenas de Institutos Federais no Brasil inteiro, mas sofre críticas na
academia sobre o viés adotado nos programas de qualificação de mão-de-obra.
O governo petista também ampliou o número de vagas para
estudantes pobres nas universidades federais, simultaneamente à injeção de
recursos nas instituições privadas através do ProUni, onde também há
controvérsias.
No geral, a Era Lula foi um festival de oportunidades para
quem nunca teve chance sequer de comer carne e beber leite. Gostemos ou não dos
programas sociais, alimento é tudo.
PAI DOS POBRES E PADRINHO DOS RICOS
Mas, ao mesmo tempo em que atendeu à
pobreza, o governo Lula e a sucessora Dilma fizeram a opção pelos ricos. Com
dinheiro do BNDES, o governo financiou as faraônicas obras dos estádios das
copas para atender à insaciável fome de lucro das empreiteiras, poderosas
financiadoras de campanhas eleitorais.
Lula e Dilma foram generosos com os pobres e atenderam
também ao apetite voraz dos grandes grupos econômicos representantes do
capitalismo internacional. Os bancos privados e as empreiteiras foram privilegiados com a política econômica e as obras atravessadas
dos governos petistas.
Uma delas, a transposição do rio São Francisco, está
abandonada. E as usinas hidrelétricas (Belo Monte em destaque) têm uma péssima
repercussão internacional devido às questões ambientais.
A mão invisível do mercado entrelaçou a política petista de
tal maneira que ficou quase impossível dissociar a teia da corrupção dos
avanços do governo. Para formar maioria, o PT recorreu aos expedientes do
máximo pragmatismo e caiu nas garras do STF no julgamento do Mensalão.
Assim, os ex-presos políticos que ajudaram a construir o PT estão
na iminência de outro tipo de prisão – por crime de corrupção.
Essa necessidade da maioria no Congresso Nacional tornou o
petismo refém do PMDB.
MAIORIA CARA
A maior chaminé de São Luis na termelétrica de Eike Batista |
Alianças com gente do tipo de José Sarney (PMDB) não
correspondem apenas a apoio político-partidário. Tem negócios pelo meio que
fizeram a burguesia brasileira empanturrar-se de dinheiro público financiado
pelo governo do PT.
Basta ver, por exemplo, o multibilionário Eike Batista, beneficiário dos negócios das copas para administrar o Maracanã, paralelamente à voracidade com que compra hotéis no Rio de Janeiro.
Esse mesmo Eike Batista arremata leilões da Petrobras e
enfia na ilha de São Luís uma termelétrica a carvão mineral, insumo altamente
tóxico rejeitado no mundo inteiro.
Termelétrica vai queimar montanha de carvão mineral na ilha de São Luís |
Quantos cartões do Bolsa Família valem um Eike Batista?
PAGANDO PARA VER
A fartura de dinheiro público do governo federal beneficiou
também o império midiático, privilegiando as Organizações Globo. Nos 10 anos de
governo petista, a família Marinho recebeu disparado a maior parcela da verba
publicitária do petismo, que tanto falou em democratizar os meios de
comunicação.
De 2000 a 2012, a Globo recebeu R$ 5 bilhões, 863 milhões de verbas
publicitárias do governo federal. A Record, no mesmo período,
ganhou R$ 1 bilhão, 571 milhões.
Os dados são da
Secretaria de Comunicação da Presidência da República, compilados e divulgados no blog de Fernando Rodrigues, do UOL.
No país necessitado de investimentos em estradas, ferrovias
e portos, componentes indispensáveis para o desenvolvimento do país, o governo
priorizou as obras faraônicas das copas, cujos resultados são questionáveis
após os campeonatos internacionais.
O que fazer com um estádio em Manaus, onde sequer há times
profissionais de futebol?
Enquanto os oligopólios midiáticos, os bancos privados e as
empreiteiras alimentam-se dos esquemas petistas, muitos deles irrigados pela
corrupção, o setor público segue quase falido. E as obras importantes, até
mesmo do setor privado, foram colocadas em segundo plano.
É tudo uma questão de tempo. Investindo em ferrovias e
estradas agora, o Brasil estaria colhendo resultados daqui a dez anos. Que colheita
teremos na próxima década com os estádios de futebol?
QUE FAZER?
Com o povo nas ruas, os petistas estão relendo o clássico “Que
fazer?”, de Lênin.
Os quadros do movimento sindical, os ex-líderes estudantis e
parte dos intelectuais passaram a compor a base do governo, ocupando cargos
burocráticos e mandatos, deixando um vazio na sociedade civil.
Os movimentos sociais antes controlados pela CUT
dissiparam-se diante de novas frentes de luta com outras formas de organização:
GLBTT, negros, mulheres, índios, juventude, ambientalistas, sem teto, sem
terra, ativistas de direitos humanos, mídias livres etc.
Longe das bases e priorizando as novas amizades, Lula fez
rasgados elogios a José Sarney, abraçou-se com Maluf e vê em Collor um aliado.
Nesse vácuo, os protestos de rua de 2013 são, em parte,
culpa do PT, que agora é julgado com palavras de ordem, cartazes, passeatas e
vandalismo.
Depois do Mensalão no STF, o PT vai a novo júri – do povo!
Parabéns pelo post, Ed! Com tantas contradições e opções totalmente incoerentes com a história do partido em seu primórdios o PT conseguiu também confirmar o que o senso comum já apontava: os partidos são todos iguais! E o apartidarismo fortaleceu-se!
ResponderExcluirUm abraço,
Alessandra Santos
O Dr. Marlon Reis tem razão. Nesse tom de desespero, além da reforma política, outro engodo da presidenta Dilma é a destinação dos recursos dos roets do pré-sal (100%) para a educação como resposta “às ruas”. Como?! Já que só vai aparecer renda do petróleo extraído nessa área daqui – a mais ou menos – cinco anos. TEM QUE PARAR É COM A ROUBALHEIRA: PRÁTICA DA ÉTICA NA POLÍTICA.
ResponderExcluirÉ como dizia um cartaz de um jovem no sábado na Praça Maria Aragão: “ Nós não somos filhos DILMA PUTA “( penso eu que politicamente).
Marco Antonio Carvalho Diniz
texto muito bom, imparcial e informativo
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