sexta-feira, 29 de agosto de 2014

UM TOQUE ALÉM DA MEDIDA

Jorge Leão
Prof. de Filosofia do IFMA

O amor nos toca a alma. É o único termômetro capaz de medir a temperatura do coração. Ao iniciar a sua jornada, ele nos convida ao toque mais sutil que podemos receber: a entrega gratuita.

Não incita à culpa, muito menos ao abandono. É aconchegante o seu ritmo, e suave o seu olhar. Quem se nutre com o tempero do amor, sabe que a vida não passa em vão. Todo mínimo movimento faz sentido, pois penetra fundo no vazio deixado pela noite mal dormida.

Como nos traços do artista, sua tela se renova a cada contorno. Sente-se bem por partilhar os momentos simples da vida: um abraço, uma palavra oportuna, um aperto de mão. Procura sintonia na melodia do silêncio, e confessa sua chegada como um beija-flor, discreto e belo.

Nada o afasta de seus sonhos. Alimenta-se com o néctar das flores do tempo. Sabe que precisa acalmar a tempestade do vazio deixado pela inconstância das marés. A todo o momento permanece atento aos tormentos das enchentes, e sabe o momento de recuar para dar vazão à solitude.

Percebe-se aprendiz na escalada da vida e da morte. Encontra seu deleite no dar-se incondicional. Não receia esquecimento, pois sabe que a memória lembra o que desde o começo é eterno.

Ele toca a alma, e por isso nos conecta com a morada do que não pode caber em nenhum espaço. Pois morar é ser, e ser é um modo de respirar. Conforme a tua respiração, lá é a tua morada.

Rever o toque a cada dia é também aprender novamente a amar. E amar é não perder a magia da reconquista. Quem se permite rever seus passos, anda com mais serenidade na estrada da vida. Não há fim para quem inicia novos caminhos.

Há no reino do amor apenas uma perda: a entrega. Mas, quando se entrega por amor, nada se perde, pois a dádiva do amor é tocar o outro sem esperar retribuição. Por isso, a entrega amorosa, na verdade, não significa perda alguma. A não ser que chamemos de amor alguma coisa que precisa ser recompensada, o que já não seria mais amor.

Amar é, portanto, tocar além da medida. É andar com segurança sem precisar dizer que chegou. Amar é segredar ao outro o que mora no espaço da entrega. Amar é entregar o tesouro da alma, que não se mede, não se possui, apenas se dá, sem nada pedir em troca. Amar é sorrir com os lábios de Deus.

Namastê!

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