segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ELEIÇÕES E A SÍNDROME DE ESTOCOLMO

Carlos Agostinho Couto

A expressão Síndrome de Estocolmo surgiu em 1973 após um assalto a banco na capital da Suécia. Estranhamente, os reféns que passaram dias com os assaltantes passaram a defendê-los após a rendição dos criminosos. Genericamente, o termo indica um estado psicológico pelo qual passam pessoas submetidas a um tempo prolongado de intimidação. As vítimas desenvolvem sentimentos de afeição em relação ao seu agressor.

Neste período eleitoral em especial, quando deveríamos experimentar os frutos do amadurecimento da democracia, mesmo percebendo-se a sobrevivência política de pessoas e ações ainda resultantes dos períodos de exceção, como a ditadura militar oficialmente encerrada com a promulgação da Constituição de 1988, ainda não parece claro para boa parte da população que certas mazelas que concorrem com a democracia deveriam estar-se superando.

Não se trata de responsabilizar a população diretamente pelos políticos que tem, pois esse tipo de afirmação sugere uma formação cultural e educacional (formal ou não) que o povo brasileiro não possui; servindo essa assertiva como uma espécie de lavar de mãos de todos nós com os avanços ainda necessários para a efetiva participação social e política – não alienada – da população.

Percebe-se que ainda sobrevive, mesmo nas classes mais favorecidas da sociedade, uma excessiva condescendência com hábitos há muito arraigados, mas que deveriam estar em vias de serem expurgados do jogo político e dos governos. Patrimonialismo, compadrio, vistas grossas para a corrupção, apego aos cargos públicos simplesmente pela possibilidade de manipular recursos, negação da própria palavra e de seus compromissos com vistas à manutenção do poder a qualquer custo, alianças esdrúxulas sem a menor cerimônia desde que valha um naco do governo, descumprimento da legislação em relação a recursos públicos e privados (como no caso do uso da máquina pública no período eleitoral e de propina paga por empresas para o bolso e campanha de políticos) são exemplos desses hábitos ainda admitidos, infelizmente.

O que pode ter a ver a Síndrome de Estocolmo com essa situação?

No intuito de tentar compreender a situação, e sem a menor condição de fazer diagnóstico psicológico ou psiquiátrico, podemos aproximar as coisas.

Se tratarmos diferentes como diferentes, ou seja: se estabelecermos uma diferença entre aqueles que não têm acesso à educação e informação de qualidade, que vive de favores e sob o jugo do Estado e de políticos profissionais, daquelas pessoas que tiveram oportunidades, têm trabalho e renda compatíveis com uma vida adequada, que têm acesso a informação e que conseguiram progredir bem nos estudos, perceberemos que, em muitos casos, as reações perante os poderosos os iguala na prática.

Muitas pessoas das quais se esperava uma postura crítica e uma ação social efetiva nos momentos cruciais para a democracia, como o período eleitoral, comportam-se como se fossem mal educados, no sentido estrito, ou como se a informação para os mesmos fosse irrelevante.

Metaforicamente podemos relacionar essa postura com a Síndrome de Estocolmo. Tem-se a impressão de que os discursos de que “é assim mesmo”, “rouba, mas faz”, “as alianças com os corruptos são imprescindíveis”, “os fins justificam os meios” podem representar um certo apego, ou relação de afeição em relação àqueles que tanto se beneficiaram do poder em detrimento da maioria da população e, consequentemente, intimidaram as pessoas com e pelo poder.

Não dá para excluirmos do debate aqueles que tiveram as oportunidades acima citadas e que apenas se aproveitaram da chegada ao poder para se locupletar, para agir da mesma forma daqueles que eram criticados; praticando nepotismo, prevaricação, peculato, corrupção. Esses não têm mesmo senso crítico, e nem querem ter. Mas a classe média brasileira precisa repensar seus modos de atuação sociopolítica, pois fechar os olhos para os males da má política, com o perdão da redundância, não deveria ser a regra. As maldades e crimes parecem esquecidos, amenizados, perdoados ou defendidos, como na Síndrome de Estocolmo.

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