Salvador Fernandes, economista e servidor público federal,
ex-presidente estadual do PT/MA (1996-1999)
ex-presidente estadual do PT/MA (1996-1999)
O espectro marinista atormenta as
mentes e corações petistas e psdebistas. O trágico falecimento de Eduardo
Campos colocou inesperadamente Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima no
centro do jogo sucessório presidencial, e com consideráveis chances de sair
vencedora do pleito eleitoral. Isso numa disputa anterior insossa, que marchava
para ser resolvida, provavelmente, no primeiro turno. Era o que apontavam as
pesquisas eleitorais, com uma tendência de reeleição sem graves solavancos da
presidente Dilma, nem que para isso fosse necessário um improvável segundo
turno.
Agora, perdurando o cenário
atual, o desfecho das eleições presidenciais brasileira está indefinido e
promete ainda muitos lances midiáticos, de mais mentiras que verdades. Uma
pergunta a ser respondida: por que a candidata Marina causa tanto rebuliço na
já assentada, previsível e maniqueísta disputa entre petistas e tucanos?
Logo esta raquítica senhora de 56
anos de idade, filha de retirantes cearenses, de pai seringueiro e mãe dona de
casa, que se enfronharam nas matas acreanas há mais de 60 anos, cuja
adolescência viveu com sua família em uma palafita chamada Breu Velho, no
seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco/AC, que conheceu as primeiras
letras do alfabeto aos 16 anos, nos bancos escolares do programa educacional da
ditadura militar denominado MOBRAL, sobejo da morte em decorrência de inúmeros
problemas de saúde, tais como: malária, contaminação por mercúrio e
leishmaniose.
Será a sua coerência e trajetória
de vida? Ou a firmeza na defesa de suas ideias? Ou, ainda, o seu biótipo, que
se confunde com o perfil miscigenado do povo brasileiro? Não me atrevo a tentar
responder. Sei que para os tucanos uma nova derrota aponta para o esfarelamento
de um projeto de retorno ao poder, após o fracasso em quatro disputas
presidenciais sucessivas. Até aqui, o desempenho de Aécio Neves nas pesquisas
eleitorais está aquém dos resultados eleitorais alcançados por José Serra e
Geraldo Alckmin, o que sinaliza para uma mudança futura na estratégia e tática
psdebista.
Nas hostes petistas, Marina
eleita, além da nostalgia de uma derrota para um ex-quadro das fileiras
petistas, significará o esgotamento momentâneo do lulismo como instancia
infalível de construção das conquistas eleitorais em âmbito nacional.
Acrescento como consequência ao revés eleitoral, a retração de uma parte
significativa das elites partidária e sindical, com ramificações nos
diversificados movimentos populares, de viés utilitarista, parasitário e
dependente das arcas públicas.
Aflige, também, ao estrelato lulista, a possibilidade de consolidação de um novo polo do centro-esquerda, sob liderança nacional de Marina e com um forte apelo político-eleitoral. Esse movimento recepcionará, inclusive, o êxodo de muitos parlamentares, dirigentes e lideranças petistas descontentes com os rumos incoerentes tomados pela agremiação partidária.
Eis as razões para tanto ataque à
candidata Marina, muitos deles que se aproximam do receituário propagandista do
nazifascismo. Os tucanos, senhores da meritocracia não esclarecida, equiparam
Marina à tradição petista dominante. Além de tentarem chamuscar a sua
trajetória militante, omitem o seu rompimento com o PT, inclusive por razões
programáticas, e seu esforço de construção de uma inovadora organização partidária
intitulada Rede de Sustentabilidade.
O repertório lulo/dilmista de
desconstrução, ou “dessacralização” - o termo adotado pelos marqueteiros
petistas -, de Marina é variado, ferino, e, sobretudo, desleal. Agarram-se a
detalhes de sua trajetória, a aspecto comportamental ou a qualquer entrelinha
de seu programa de governo – nesse particular, importa lembrar que até hoje, a
menos de um mês da eleição, Dilma, assim como Aécio, não lançou seu programa de
governo.
Os petistas elegeram, no plano da
política econômica, a autonomia/independência do Banco Central como temática
básica para tentar caracterizar de liberal o conteúdo do Programa de Governo
Marinista. Omitem que a entidade é uma autarquia, portanto, pelo menos
juridicamente, detentora de autonomia. Os defensores do modelo atual de gestão
monetária, arautos da ingerência política do chefe do Executivo Federal nas
decisões colegiadas da entidade, não conseguem explicar o porquê do persistente
descontrole inflacionário, do crescimento econômico pífio e da taxa SELIC tão
atrativa para os sanguessugas dos mercados financeiros nacional e
internacional. Ah, como sempre, culpam o cenário econômico internacional
desfavorável!
As vicissitudes do exercício do
cargo de Presidente da República não permitem que uma candidata lacrimeje
diante das críticas desonestas. Se as lágrimas transbordam do rosto esguio de
Marina, sinaliza fraqueza, desiquilíbrio emocional. Se escorrerem da rosada
face de Lula, como já aconteceu em vários momentos de sua vida pública, é demonstração
de sensibilidade ou externalização de sua liderança popular.
Contrapõem-se à inovação nas
relações políticas. Representa aventureirismo. Buscar governar com os melhores
quadros, nem pensar. Como se Marina afirmasse que, no caso de vitória eleitoral,
excluiria o Congresso Nacional como espaço estratégico de negociação política.
Perdem de vista, os petistas, que o discurso do novo, da ética nas tratativas
políticas e do compromisso com as mudanças estruturais lastrearam a caminhada
partidária até a vitória de Lula em 2002.
Hoje, depois de descambarem para
o estreitamento de relações com o que há de pior na política brasileira,
silenciam às imposições dos chefes oligárquicos. Como ficou escancarado na
declaração debochada do Senador José Sarney sobre o poder de veto à indicação
de Flávio Dino à presidência da Embratur, ou na nomeação e manutenção de Edison
Lobão no Ministério das Minas e Energia. Isso sem que esse permanente fantoche
de Sarney tenha formação técnica mínima exigida para o exercício do cargo, além
de todos os indícios de participação no presente esquema de corrupção instalado
na Petrobras.
Não admitem o desabrochar de
novos atores na mediação da política nacional. Aliás, olvidaram a máxima, dita
e repetida por décadas, que uma das fragilidades da democracia brasileira era a
ausência de agremiações partidárias programáticas. Atitude política tosca, para
justificar, ao longo de 12 anos, o protelamento da reforma política, entre uma
das mudanças estruturais imprescindíveis, porém esquecidas.
Apregoam o medo, como medida para
garantir as conquistas sociais e evitar uma Marina, tachada como inexperiente,
na presidência da República. A mesma cantilena direitista utilizada contra Lula
em 1989, 1994... Ainda, esquecem que o importante legado da ampliação das
políticas de transferência direta de renda e dos investimentos nos programas
educacionais é nitidamente contraposto por relações políticas nada
republicanas. Intermediações que garantem a reprodução das anacrônicas
oligarquias, principalmente no nordeste e norte do País, artífices estruturais
da miséria e da fome daquelas milhões de famílias que clamam por um cartão do
bolsa família ou uma vaga para os filhos no Pronatec. Ostentadoras de riquezas
extraídas/arrancadas dos orçamentos públicos e dos projetos picaretas
financiados pelos bancos oficiais.
A voz rouca e contundente de Lula
pedindo voto para as candidaturas de Lobão Filho, Renan Calheiros Filho e
Helder Barbalho (filho de Jader Barbalho) simboliza a reafirmação das escolhas
preferenciais do petismo.
Por isso, voto em Marina, sem
Medo de ser Feliz, com a convicção de que, mais uma vez, a Esperança vencerá o
Medo.
Ao ler o início deste parágrafo, onde diz: "Hoje, depois de descambarem para o estreitamento de relações com o que há de pior na política brasileira, silenciam às imposições dos chefes oligárquicos ..." eu concordo com o missivista e também não concordo que Dilma e o PT façam alianças explícitas com Jorge Bornhausen, pai e filho, Heráclito Fortes, Inocêncio Oliveira, Severino Cavalcanti, e muitos outros. Viva a Margarina! VIVA!
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