Eliseumar trocou o emprego nos Correios por uma escola na zona rural de vargem Grande |
Ele foi comerciário, ajudante de pedreiro, recapador de
pneus e camelô. Aos 37 anos de idade, formou-se em Letras e já havia sido
aprovado no concurso dos Correios. Trabalhou como carteiro durante sete anos,
em São Luís.
Além da graduação, tem o DELE C2 (Diploma de Español Como
Lengua Extranjera, Nivel C2) , o grau mais avançado outorgado aos
participantes desses exames, concedido pelo Instituto Miguel de Cervantes.
O grande desejo de Eliseumar Vieira de Sousa era ser
professor. Para concretizar esse sonho, ele abandonou um emprego federal nos
Correios e fez um concurso para professor em Vargem Grande, município do Baixo
Parnaíba.
“Se eu não me tornasse professor acho que, ao envelhecer,
seria um velho frustrado”, resumiu. Eliseumar leciona em uma escola no povoado
Fazendinha do Baz, a quase 30 Km da sede. Educando crianças pobres na zona rural, ele declara seu amor ao magistério: “é uma missão.”
Veja a caminhada de Eliseumar:
Blogue – Como foi a sua infância no interior do Maranhão?
Eliseumar Sousa – Sou o mais novo de oito filhos. Minha mãe,
depois que se separou, teve que cuidar de todos sozinha trabalhando na roça. Morávamos
num povoado chamado Sapucaia, distrito de Anapurus, numa casa extremamente
simples sem energia elétrica ou qualquer conforto. Em 1980, quando eu tinha 8
anos, nos mudamos para Palestina, distrito de Brejo. Lá tinha um pouco mais de
estrutura e pude concluir o ensino primário na Unidade Escolar Prefeito Elias, mas
continuavam os dias difíceis.
Passamos muitas dificuldades. Não ter comida suficiente era
só uma delas. Calcei o primeiro par de tênis aos 13 anos. Detalhe: era de
segunda, foi um irmão que me deu.
Apesar disso, não me lamento. Minha mãe, uma mulher sábia e
trabalhadora, soube mostrar o rumo certo a seguir, tanto é que todos somos
trabalhadores e cidadãos de bem e jamais a envergonhamos. Tinha o pulso firme,
entende?
Blogue – Depois que chegou em São Luís, quais caminhos
trilhou?
Eliseumar Sousa - Cheguei a São Luís, em 1987, aos 15 anos
de idade, com o apoio de um dos meus irmãos. Vim para estudar e trabalhar.
Durante algum tempo trabalhei numa pequena mercearia da qual meu irmão era
sócio e ao mesmo tempo estudava.
Depois que deixei a mercearia fui ajudante de pedreiro, de
serralheiro e por fim consegui o primeiro emprego numa renovadora de pneus em
1990. Dois anos e meio depois, saí da empresa e fui trabalhar numa outra do
mesmo ramo.
Cerca de um ano depois fiquei novamente desempregado, com
uma filha de 2 anos, a esposa grávida da minha segunda filha e eu só com o
ensino fundamental, que concluí aos 18 anos. Então, comecei a busca de um novo
emprego. Depois de vários nãos, restou a alternativa de me tornar camelô, no
centro de São Luís. Era o ano de 1994. Fiquei até 1999 e voltei a ser recapador
de pneus. Em 2002 (ano em que voltei a estudar) lá estou de novo ambulante e em
2005, já universitário, voltei a trabalhar com pneus. Em 2007, comecei a
trabalhar nos Correios, de onde saí em 2014, para me tornar professor em Vagem
Grande.
Blogue – Qual o aprendizado do trabalho de camelô na rua
Grande?
Eliseumar Sousa - Lidar com pessoas de variados segmentos
sociais foi o principal aprendizado dos tempos de camelô (foram quase dez anos,
contando alternado). Entender as diferentes formas de relacionamento e disso
tirar lições para nortear as suas ações no cotidiano é um legado que levarei
para sempre comigo. Foi então que percebi que quem não estuda é posto de lado.
Quando isso não é feito pelos que o rodeiam, a vida se encarrega de fazê-lo.
Blogue – Quando você decidiu mudar de vida?
Eliseumar Sousa - Eu tinha 30 anos e apesar de jamais ter
abandonado os livros (sempre gostei de ler) faltava-me uma preparação formal. Consciente
de que precisava dar um novo rumo à minha vida e sabendo que essa mudança
passa, necessariamente, pela escola, resolvi voltar aos bancos escolares depois
do longo período longe. Matriculei-me numa escola estadual no bairro São
Cristóvão (CEM-São Cristóvão), em 2002. Tive excelentes professores ali, com os
quais sempre pude contar. Terminei o ensino médio em 2004 e no ano seguinte
como bolsista do recém-criado PROUNI, estava matriculado no Curso de Letras
Português/Espanhol da Faculdade Santa Fé. Formei-me em 2009, aos 37 anos.
Paralelamente a isso, estudava para concurso. Até que em
2006, passei no concurso dos Correios, tendo sido admitido em abril de 2007.
Blogue – Por quê você abandonou um concurso federal nos
Correios para ser professor em uma escola municipal?
Eliseumar Sousa – Quando entrei nos Correios eu já estava na
faculdade e tinha em mente que como professor a minha contribuição social seria
bem maior. Minha escolha tem a ver com essa convicção. Acredito que ser
professor, muito mais do que ter uma profissão, é ter uma missão de fomentar
sonhos e apontar o rumo da concretização aos discípulos. Se eu não me tornasse
professor acho que, ao envelhecer, seria um velho frustrado. Foram quase sete anos
como carteiro, período de muito aprendizado e bom relacionamento que não
desprezo.
Blogue – Como foi a vida de estudante universitário, já na
idade adulta e pai de família?
Eliseumar Sousa – Não foi fácil. Eu saía de casa muito cedo
e só chegava por volta das 23h. Foi um período complicado. Mas tive bons
professores, o que, de certo modo, serviu para fazer valer a pena todo o
sacrifício. Jamais pensei em desistir.
Blogue – Depois de concluir o curso superior, você continuou
estudando?
Eliseumar Sousa – Sim. Como a minha formação é também em
Espanhol e consciente das minhas limitações nesse idioma, passei mais quatro
anos a estudá-lo. Depois disso prestei o exame do Instituto Miguel de Cervantes
e consegui, em 2013, o DELE C2 (Diploma de Español Como Lengua Extranjera,
Nivel C2) que é o nível mais avançado outorgado aos participantes desses
exames. Também fiz vários concursos nesse ínterim, até que, em 2013, consegui
passar no concurso da Prefeitura de Vargem Grande, onde vivo e trabalho desde
2014 como Professor de Português na Escola Tertuliano Torquato de Mesquita, no
povoado Fazendinha do Baz, a quase 30 km da sede.
Blogue – Está valendo a pena encarar a vida de professor em
Vargem Grande?
Eliseumar Sousa - Apesar das dificuldades e de ser uma
escola da zona rural, está sim. Sei que não vou mudar o mundo, mas com certeza
posso contribuir para que meninos da zona rural, como eu, realizem os seus
sonhos.
Blogue – Quais as vantagens e desvantagens de ser professor?
Eliseumar Sousa - Entre as vantagens, pode-se destacar o
fato de você se tornar referência para o seu aluno e poder ser um instigador,
um provocador ou descobridor de talentos. Quanto ao lado negativo o destaque é
a preocupação excessiva do sistema com os índices de aprovação em detrimento do
ensino-aprendizagem de qualidade. Isso tira, de certo modo, a autonomia do
professor. Não me refiro aqui, especificamente, de onde trabalho, mas num
sentido mais amplo. Nada que não seja contornável.
Blogue – Você se sente realizado pela opção que fez,
trocando a profissão de carteiro pela de professor?
Eliseumar Sousa – Sim. Eu não me arrependo nem um pouco da
escolha que fiz e se o tempo voltasse não hesitaria em fazê-la de novo.
Blogue – Que conselho você daria para as pessoas que estão
pensando em abraçar a profissão de educador?
Eliseumar Sousa – Que o façam, desde que tenham certeza de
que querem ser agentes de uma transformação necessária e urgente que a
sociedade precisa; que o façam, desde que compreendam o magistério como uma
missão e não somente como uma profissão qualquer; que o façam, desde que estejam
dispostos a encarar um desafio diferente a cada instante.
Elizeumar, fiquei imensamente feliz em ler um pouquinho da História. E que bela história linda e feliz!Glória a Deus, nos sempre nos dar vitória por Seus filho Jesus. Tenho certeza absoluta, que quando fazemos o que gostamos nossa vida se torna mais alegre e frutífera. Sua História é como de todo vencedor. Se sua mãe ainda estivesse aqui com certeza também estaria muito feliz. Volta para Jesus.
ResponderExcluirMeu abraço fraterno. M.jesus.
Parabéns, Elizeumar, pela bela lição de vida.
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