domingo, 14 de junho de 2015

“ÁRVORES NÃO IMPORTAM, O QUE DEVE APARECER É O CASARIO”

Por Eduardo Júlio
 
Obra de João Castelo: todas as árvores do canteiro da avenida Vitorino Freire foram cortadas
Causou-me estranheza a repercussão da reforma da praça Nauro Machado, na Praia Grande, e da retirada de uma antiga árvore da mal cuidada praça Valdelino Cécio (grande personagem da história recente de São Luís, cuja memória merecia muito mais respeito). Fiquei surpreso porque foi a primeira vez que vi grandes manifestações, facilitadas pelas redes sociais, contra mais uma equivocada intervenção da administração de São Luís em um logradouro público da cidade.

Não é de hoje que o Poder Público costuma errar mais que acertar, sobretudo quando se trata da arborização da cidade. A retirada de árvores se tornou obrigatória em qualquer reforma realizada tanto pela prefeitura quanto pelo Estado. Vamos lembrar que uma das primeiras providências da administração do prefeito anterior, Castelo, foi retirar todas as árvores (eu reafirmo todas) existentes ao longo da avenida Marechal Castelo Branco, no São Francisco. Ele também autorizou o corte de quase todas as árvores da praça da igreja daquele bairro e muitas do canteiro central da avenida Colares Moreira e de outras vias da cidade.

A ideia estapafúrdia foi trocar árvores por palmeiras de várias espécies, incluindo carnaubeiras. Além de não oferecer sombra adequada, a maioria não vingou. O dinheiro público foi pelo ralo ou para os bolsos dos gestores e ficamos com o sol, mais do que nunca, queimando a cara.

Antes de sair, o ex-prefeito ainda foi responsável pela derrubada de todas as árvores do canteiro central da avenida Vitorino Freire, nas proximidades da antiga rotatória de acesso à avenida dos Portugueses, quando tentou implantar o fantasmagórico VLT.

Este último exemplo indica um futuro comprometedor para o que resta da arborização de São Luís, porque aqui, ao contrário de todas as outras capitais brasileiras, árvores foram plantadas ou preservadas somente nos canteiros centrais, ou seja, um dia deverão ser retiradas para darem lugar a vias ou estruturas de concreto para os novos modelos de transporte coletivo ou mesmo para o alargamento das avenidas, como já vem sendo feito em outras cidades. 

Neste caso, também se encaixa a retirada, na década passada, de algumas árvores centenárias que embelezavam a Beira-Mar e o recente corte de algumas de um canteiro localizado no Jaracaty, que desapareceu provavelmente para alargar a avenida.

Na capital maranhense, os gestores esqueceram de plantar nas calçadas, onde as pessoas, de fato, caminham. Mas se eles nem sequer lembraram de construir um calçamento adequado na cidade, como poderiam se preocupar com árvores. Seria pedir demais, não é mesmo? 

Lembro-me que até os anos 90 a rua do Egito era uma das poucas que possuía árvores nas calçadas. Hoje, restam algumas nas proximidades da praça João Lisboa. E vale recordar que pouco antes da inauguração do teatro da Cidade (antigo Roxy), em 2012, um gestor da administração de Castelo (novamente ele) mandou cortar várias jovens amendoeiras que existiam na lateral do teatro, sem qualquer explicação plausível.

PRAÇAS

Em relação às praças históricas da cidade, na década passada, quando realizaram reformas nas praças Pedro II, Benedito Leite e Gonçalves Dias, foram retiradas dezenas de árvores. Somente da Pedro II foram 35, segundo uma reportagem da época. É certo que foram replantadas algumas outras. Mas quem conheceu aquelas praças antes destas reformas, sabe que, embora tenham ganhado uma nova e bonita estrutura, não possuem mais o mesmo verde.

No ano passado, ainda retiraram da Gonçalves Dias um lindo flamboyant, o último da espécie que tinha escapado na última reforma. Como não se trata de uma árvore nativa, foi cortado sem nenhum pudor, com autorização científica.

Muitas árvores também foram retiradas das praças da Praia Grande, quando o Governo do Estado realizou - se não estou enganado no final do ano de 2001 - reformas nas praças dos Catraieiros e na atual Nauro Machado.

Na época, além do impiedoso corte de árvores, o piso original, mais alto, colocado na obra de Cafeteira em 1989, foi posto abaixo, com o provável intuito de facilitar a apresentação de manifestações da cultura popular.  Mas este modelo contribuiu para a recente transformação da praça dos Catraieiros em estacionamento, um crime contra a memória da humanidade. No momento, o problema parece ter sido controlado. Não se sabe até quando.

E para concluir, vou relatar um fato ocorrido há mais ou menos dez anos, que retrata bem a preocupação constante do Poder Público com as árvores da cidade: quando ainda trabalhava em um jornal local, entrevistei uma autoridade de uma instituição do patrimônio e aproveitei para questionar a retirada indiscriminada de árvores na parte histórica de São Luís. A pessoa nem pestanejou, afirmando categoricamente: “Árvores não importam, o que deve aparecer é o casario”.

2 comentários:

  1. Desculpe a ignorancia, mas se a arvore atrapalha a rua ou então transmite algum perigo a população, o correto não seria corta-la?

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  2. Nestes casos, sim, mas acontece que aqui em São Luís cortam-se árvores sem qualquer plano de manejo.

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