domingo, 27 de setembro de 2015

A ALDEIA GLOBAL DO WHATSAPP


Fernando César Moraes *

Com o objetivo de explicar os efeitos da comunicação de massa sobre a sociedade contemporânea, o teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan desenvolveu na década de 60 o conceito de aldeia global. De acordo com sua teoria, a abolição das distâncias e do tempo, bem como a velocidade cada vez maior, que ocorreria no processo de comunicação em escala global, nos levaria a um processo de retribalização, onde barreiras culturais, étnicas, geográficas, entre outras, seriam relativizadas.

Esta década vê surgir, como uma consequência da comunicação via internet, e pertinente a esta aldeia, várias inovações que vão exigir uma adequação entre o estabelecido e o que está chegando.

Assim, conflitos entre motoristas de taxi e prestadores de serviço que, através do aplicativo Uber, oferecem um serviço semelhante; ou o Netflix, onde o usuário tem acesso a uma gama de filmes, séries e documentários, em concorrência direta com a TV a cabo, mostram a nova fase da tecnologia a serviço do consumidor.

Um dos maiores acontecimentos, sem dúvida, trata-se da popularização do WhatsApp. O aplicativo que foi transformado em um representante, agora bidirecional, da aldeia global de McLuhan, ao possibilitar a transmissão de textos, voz e vídeo, bem como a circulação de cerca de 30 bilhões de mensagens por dia, congrega no momento 800 milhões de usuários em todo o mundo.

O Brasil, sempre disposto a estas inovações, participa com mais de 45 milhões de usuários deste aplicativo e, segundo dados do IDC (International Data Corporation), tem previsão de comercialização de 54 milhões de unidades de smartphones durante este ano apesar da crise econômica. Este mesmo estudo aponta, também, que 15% dos aparelhos vendidos em 2014 têm acesso à rede 4G. Para 2015, a IDC espera um crescimento em torno de 30% a 35%, permitindo, deste modo, a ampliação do número de usuários do WhatsApp.

Como aparecem os grupos de interesses comuns, amigos, familiares, e etc, surgem também os inúmeros debates patrocinados pelos atores que participam desta relação global. 

Evidente que as operadoras de telefonia móvel brasileiras não estão satisfeitas com o crescimento do WhatsApp, tendo elas já se posicionado contra o comunicador instantâneo mais utilizado no país e popularmente apelidado de “zap-zap”.

O recurso de chamadas VoIP (Voz sobre IP), que permite o serviço de voz, parece incomodar as operadoras móveis pelo simples fato de estar associado diretamente a um número de telefone, e não a um login como, por exemplo, acontece no Skype da Microsoft.

O presidente da Vivo vem associando o aplicativo a pirataria. A Tim, Vivo, Claro e Oi estão preparando um documento com embasamentos econômicos e jurídicos contra o funcionamento do aplicativo no Brasil, pelo fato dele “não ser regulamentado para chamadas de voz”.

O Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, afirmou que os serviços desses aplicativos exigem forte investimento em infraestrutura e não geram novos postos de trabalho no país, sinalizando que o Estado brasileiro, em tempos de poucos recursos, poderá através do WhatsApp buscar mais algum expediente para o seu caixa. Será que o ministro esqueceu que, por ser um serviço de valor adicionado, já quitamos nossa parte ao pagarmos a conta da internet?

A questão da utilização dos aplicativos presentes na rede se insere em um debate maior, tanto nacional como internacional, que vem acontecendo entre as empresas de telefonia e os provedores de conteúdo. O WhatsApp é mais uma face desta disputa.

Nós, consumidores submetidos às nossas chamadas telefônicas caras e ineficientes, assistimos a esta disputa torcendo pelo melhor atendimento.

Será o WhatsApp, com a sua formação de grupos e o crescimento exponencial, o melhor representante da aldeia global de McLuhan? Nossos relacionamentos serão expressos por ele?

Com a palavra, os teóricos da comunicação.

* Engenheiro Eletrônico e consultor em tecnologia.
WhatsApp: (98) 991173403.
E-mail: fcemoraes@gmail.com

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