Atraso na obra foi justificada pela Subprefeitura do Centro Histórico
Tapumes estreitaram o trecho do Beco da Pacotilha entre as ruas do Giz e da Estrela |
O empresário italiano Alessandro Bruge, proprietário da La Pizzeria e da pousada Portas da
Amazônia, na Praia Grande (Reviver), foi assaltado por volta das 20h30, na
esquina da rua do Giz com o Beco da Pacotilha. Durante o assalto, dia 21/out, o
empresário sofreu agressões e chegou a usar muletas na sua recuperação. Bruge
foi mais uma vítima dos constantes assaltos praticados no cruzamento das duas
vias, margeando a praça Valdelino Cécio, isolada com tapumes desde junho/2015,
para uma reforma que parou no início.
Segundo o subprefeito do Centro Histórico, o turismólogo
Fábio Henrique Farias Carvalho, a reforma foi interrompida porque havia
indícios de desmoronamento de uma parte da estrutura da praça Valdelino Cécio
sobre a contígua praça Nauro Machado. Para dar continuidade à obra, será
necessário fazer uma muralha de contenção, a fim de garantir a qualidade do
serviço.
Os tapumes da praça criaram um ambiente ideal para assaltos
no Beco da Pacotilha, porque estreitaram a via em um trecho sem policiamento
fixo. “Fizeram uma armadilha para nós”, ilustrou Francisco das Chagas Oliveira
Rego, proprietário do restaurante Dom Francisco, na rua do Giz, que já
presenciou diversos assaltos no local. Pelo corredor dos tapumes no Beco da
Pacotilha passam turistas, funcionários públicos e de restaurantes, estudantes
da Aliança Francesa, comerciários e moradores que fazem o trajeto rua
Grande/Terminal da Praia Grande. "Seis horas da tarde os malandros se concentram
no corredor de tapume e assaltam quem vem da rua Grande para o terminal. Pelo
menos nesse horário, deveria haver policiais", afirmou um comerciante que
preferiu não se identificar.
O cyber Praia
Grande, no Beco da Pacotilha, é um dos estabelecimentos mais prejudicados com
os tapumes. Grávida de oito meses, a proprietária Daiane Oliveira disse que os
clientes desapareceram desde que a praça Valdelino Cécio foi cercada. O cyber funcionava diariamente até 21 horas.
Agora, fecha por volta das 18 horas por causa da falta de segurança. Espaço
importante para atender aos turistas que precisam de serviços de impressão e
internet, o empreendimento pode até falir. “O movimento caiu uns 50 por cento.
Quem passa pelo corredor fica sem saída. O movimento aqui morreu. Vamos fechar
as portas, pois estamos apenas pagando aluguel e energia sem retorno",
lamentou Daiane Oliveira.
Se do lado de fora é perigoso, a área interna aos tapumes
serve de abrigo para os assaltantes e usuários de drogas. "A Prefeitura
colocou os tapumes e nem comunicou os moradores e empresários da área",
denunciou a cabeleireira Rosalina Oliveira. Ela mantém um salão no Beco da
Pacotilha, colado ao cyber e de
frente à praça. Acuado pelos tapumes, o empreendimento especializado no estilo afrohair tem clientes de vários bairros
de São Luís e atende turistas também. Além do problema da violência, a reforma
não iniciada na praça teve outras críticas. "Uma amiga mineira, que gosta
de São Luís, reclamou que as árvores da praça foram tiradas sem justificativa”,
observou Rosalina Oliveira. “A Prefeitura tirou as árvores, que era o que tinha
de mais bonito. É mais um prefeito que não gosta de árvore. Eles dizem que é
por causa dos bandidos. Mas não se combate violência cortando árvores. Segurança
se faz com competência", ensinou uma cliente do salão. "Reforma da
Prefeitura e do Iphan é só para derrubar árvores", completou outra cliente
da cabeleireira.
CONTRADIÇÕES E PROPOSTAS
Câmera de monitoramento, no cruzamento do Beco da Pacotilha com a rua do Giz, não inibe os assaltos e o tráfico de drogas |
Empresários da área questionam o investimento em divulgação
de São Luís para atrair turistas, se não há segurança para o visitante em uma
das principais referências de patrimônio histórico e arquitetônico do mundo. O
resultado é que o turista assaltado ou inseguro sai falando mal e, com isso, o
efeito multiplicador contra a imagem da cidade é devastador.
O problema da violência no Centro Histórico é antigo. Chegou
a ficar insuportável, nos últimos 10 anos, quando as pessoas não podiam quase
andar nas ruas ou ter sossego por causa de assaltos, pedintes e usuários de
drogas. Houve melhoras logo no início no governo Flávio Dino, em 2015, a ponto
de atrair empreendimentos ao local, a exemplo do café e restaurante Espaço
Define, ao lado da nova sede da Fapema, na rua da Estrela. A diretora do
Define, arquiteta Carla Veras, “paquerou” o casarão durante quatro anos e só efetivou
o aluguel quando viu ações efetivas de segurança na área, principalmente a retirada
dos usuários de drogas e o policiamento móvel no local. “Hoje está bem melhor”,
classificou Veras.
Comerciantes e moradores da Praia Grande ouvidos pela reportagem
têm um consenso: o policiamento em motocicletas é ineficiente porque passa
rápido e não consegue demarcar território. O ideal, disseram os entrevistados,
é a combinação de motos, postos fixos (trailler)
e rondas a pés nos lugares estratégicos. Mesmo que essas providências sejam
tomadas, alguns entraves, quase inexplicáveis, devem ser evitados. Um exemplo é
a “armadilha” localizada exatamente na área onde o empresário italiano foi
assaltado. Os tapumes isolaram a praça e deixaram aos pedestres uma pequena
passagem estreita que está sendo chamada de “corredor da morte”, devido aos
constantes assaltos.
O empresário Alessandro Bruge disse que a violência e a instabilidade
social estão afastando os frequentadores da La
Pizzeria, que já conquistou excelente conceito pela qualidade do
atendimento e preços. Ele também administra a pousada Portas da Amazônia, em
Belém. A esperança é que o italiano e outros empresários nativos não deixem de
investir na Praia Grande por falta de iniciativa governamental. A falta de
segurança afeta toda a cadeia produtiva do Centro Histórico. Bruge está no
limite e às vezes pensa em fechar o negócio, depois de 13 anos instalado em São
Luís. Atualmente, emprega 20 pessoas. Nos últimos 30 dias, ele computou cinco
casos de assalto entre funcionários e clientes da pousada. “Os taxistas do
aeroporto não querem transportar os turistas que chegam na madrugada e pedem
corrida para a pousada Portas da Amazônia, na rua do Giz, porque temem assaltos”,
observou. Na sua avaliação o turismo na capital não é atrativo, porque o Centro
Histórico está abandonado e as praias, poluídas. Esse cenário atrai o visitante
direto para os Lençóis Maranhenses e São Luís é apenas uma passagem.
PERSISTÊNCIA E AVANÇOS
Mesmo diante do problema da segurança, ainda há interesse
dos empreendedores no Centro Histórico. O restaurante Dom Francisco, localizado
na rua do Giz, vai diversificar os negócios, instalando um café, padaria e
pizzaria. O espaço cultural Chico Discos, localizado na rua dos Afogados, está
de mudança para o Centro Histórico. Dois novos prédios recém-inaugurados, na
rua da Estrela, são importantes ações de ocupação do espaço na Praia Grande.
Através do PAC Cidades Históricas, foram recuperados e já estão em
funcionamento a nova sede da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapema) e o anexo
do curso de História da UEMA. Na mesma rua, já funciona há vários anos o curso
de Arquitetura da mesma instituição.
O PAC Cidades Históricas também está recuperando o casarão
onde vai funcionar a Casa do Tambor de Crioula, na esquina do Beco da Pacotilha
com a rua da Estrela, próximo à Câmara dos Vereadores. Essas iniciativas,
ocupando a área com equipamentos culturais, instituições de ensino, serviços e
comércio, ajudam a movimentar as ruas e dão vida ao Centro Histórico. O mesmo
aconteceu com a recuperação da praça Nauro Machado, palco de shows e diversas
outras atividades lúdicas, onde crianças, adultos e idosos podem usufruir e
apreciar o espaço comum.
CÂMERAS SEM EFICÁCIA
A situação do Centro Histórico é complexa, há muitos vícios
acumulados e novas ações ainda precisam ser feitas na área de segurança pública
para que turistas e pessoas de São Luís, com seus filhos, sobrinhos e
cachorrinhos de estimação possam fotografar o belíssimo patrimônio histórico da
humanidade, com máquinas fotográficas ou celulares, sem o risco de serem
surpreendidas por assaltantes.
O assalto a Alessandro Bruge aconteceu embaixo de uma câmera
de videomonitoramento, que deveria ajudar na segurança, mas, segundo os comerciantes
do local, não tem cumprido esse papel. É um equipamento que virou artigo de
decoração e os assaltantes já perceberam essa ineficiência. Tanto que eles
assaltam como se as câmeras não existissem.
Há 10 anos instalada na rua do Giz, a Aliança Francesa já teve
redução de 30% dos alunos, segundo a diretora Morgane Mabit. “Estamos perdendo
o público atual e o potencial”, declarou. Quando a noite cai, as ruas ficam
escuras e desertas, pouco atrativas para o estudante que precisa se deslocar até
o prédio, próximo aos tapumes da praça Valdelino Cécio. Segundo Mabit, o
público preferencial da Aliança trabalha durante o dia e estuda francês à
noite.
Veteranos comerciantes do Centro Histórico dizem o policiamento
é mais presente quando uma autoridade faz rápida visita à Praia Grande. No
dia-a-dia, os policiais desaparecem. “Alguns passam de moto, de vez em quando,
e os bandidos, sabendo que eles só vão passar de novo depois de duas horas,
assaltam sem problemas", afirmou um empresário. Há, também, críticas à Guarda
Municipal. "Todo mundo sabe identificar quem é malandro, quem é turista e
quem é morador. Só os guardas municipais não sabem", afirmou uma
frequentadora da área.
Localizado em frente aos tapumes da praça Valdelino Cécio, o
restaurante Crioula’s está no foco do problema. O gerente Junior Lima disse que
a câmera de videomonitoramento não inibe os assaltos nem o tráfico de drogas.
Na sua opinião, a volta das rondas policiais e do trailler da Polícia Militar, retirado da rua da Estrela, seriam
fundamentais para intimidar os traficantes e assaltantes.
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