Minhas melhores lembranças do poeta Nauro Machado ficaram nos
encontros casuais, caminhando pelo Centro Histórico de São Luís.
Ele era uma aparição, uma visagem. Sempre me proporcionava
a alegria do impacto, ao vê-lo sóbrio ou ébrio, errante pelos paralelepípedos
da cidade.
A poética de Machado era feita de pedra, limo, escombros, ladeiras,
becos, ruínas e angústias. Dessa matéria paria seu texto, pesado, indo ao
fundo.
Eu via Nietzsche no olhar do poeta. Um olhar profundo, agonizante,
em chamas.
Nauro Machado era a alma da cidade, mas foi também um poeta
universal.
Sua aldeia era o mundo, traduzido na existência dolorosa
pertinente à inquietude criativa: a angústia da poesia.
No bar do Adalberto, um dos últimos redutos da boemia da
Praia Grande, Nauro convocava à celebração: “meu poeta, meu cabo de guerra!”.
Esse brado era apenas um detalhe.
De todos os seus poemas, um me marcou muito:
O PARTO
Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Mas eu quero e é necessário
que me sofra e me solidifique em poeta,
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório
e me alucine na essência de mim e das coisas,
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro,
trazer-me à tona do poema
com um grito de alarma e de alarde:
ser poeta é duro e dura
e consome toda
uma existência.
que me sofra e me solidifique em poeta,
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório
e me alucine na essência de mim e das coisas,
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro,
trazer-me à tona do poema
com um grito de alarma e de alarde:
ser poeta é duro e dura
e consome toda
uma existência.
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