sexta-feira, 27 de junho de 2014

FUNC DIVULGA NOTA SOBRE O A PARTICIPAÇÃO DO TAMBOR DE CRIOULA NO SÃO JOÃO E A POLÍTICA CULTURAL DE SÃO LUÍS

Em documento ao coordenador geral do Comitê de Salvaguarda do Tambor de Crioula, Neto de Azile, a Fundação Municipal de Cultura (FUNC) esclarece a participação do tambor de crioula na política cultural de São Luís e nos festejos juninos de 2014.

OFÍCIO Nº 713/GP                          São Luís, 25 de junho de 2014.

Ref: Ofício nº 10/2014 - COGEST

Ilmo. Sr.
FIRMINO INÁCIO FONSECA NETO, NETO DE AZILE.
Coordenador Geral do Comitê de Salvaguarda do Tambor de Crioula.
Nesta.

C/C Secretaria Municipal Adjunta de Governo – SEMGOV/Prefeitura de São Luís

Senhor Coordenador,

            Em resposta a sua manifestação e solicitação sobre a programação do arraial da Maria Aragão (Terreiro da Maria), em que V.Sa indaga sobre o número de apresentações do Tambor de Crioula e do horário de apresentações do tambor na Praça Maria Aragão, vimos informar:

            1. Como é do seu conhecimento, visto que esteve no arraial na Maria Aragão, a Prefeitura de São Luís - PMSL, através da Fundação Municipal de Cultura - FUNC, tem procurado desde o ano passado, vincular o arraial da Maria Aragão a políticas de salvaguardas, que além do Tambor de Crioula e do Bumba-meu-boi, incluam outras manifestações culturais de nossa cidade e da nossa identidade que correm o risco de extinção. A exemplo, já em 2013, sob esta gestão, incorporamos ao arraial da Maria Aragão o cortejo das caixeiras do Divino Espírito Santo e o levantamento do mastro, antiga manifestação cultural dos maranhenses. Neste ano, realizamos uma noite de salvaguarda para divulgar e manter vivas a Dança do Côco, a Dança do Caroço e a Dança do Lelê. Compreendemos que os compromissos que temos com o Tambor de Crioula e o Bumba-Meu-Boi precisam se estender a outras manifestações culturais de nossa cidade e do nosso Estado. E, deste modo, expressar o compromisso desta Fundação Municipal de Cultura com uma política de salvaguarda cada vez mais ampla.

            2. Ainda como V.Sa destaca em sua correspondência, para a FUNC não se faz suficiente que os grupos se apresentem na Maria Aragão. É fundamental, também, que os grupos se apresentem em horários em que a Praça tenha público e, deste modo, possam ver vistos. Essa é, inclusive, uma antiga reivindicação dos coreiros e das coreiras, que se apresentavam sempre às 18h, quando a quantidade de público presente na praça era muito pequena. Por conta disto, neste ano alteramos o horário de abertura do arraial na Maria Aragão. E, pela primeira vez, os grupos de Tambor de Crioula se apresentaram em horários em que a praça encontrava-se lotada. Para os grupos de Tambor foram reservados os horários das 19h e das 20h. Somente para os grupos mirins foi mantido o horário das 18h, como pode ser verificado na programação do arraial, amplamente divulgada e de seu conhecimento. A mudança de horário, como V.Sa bem salientou visa conferir maior visibilidade ao Tambor de Crioula na programação do Terreiro da Maria, o que entendemos restou cumprido pela organização.

            3. Em razão da queda na arrecadação das receitas do município, o orçamento da FUNC, como de outras unidades da Prefeitura de São Luís, foi contingenciado, o que implicou na contratação de um grupo menor de atrações para a programação junina. Mesmo assim, mantivemos, a exemplo de outros anos, a proporcionalidade. Dos 81 (oitenta e um) grupos de danças contratados, 30 (trinta) foram de  Tambor de Crioula para atender à programação junina da Prefeitura, que não se restringe à Maria Aragão. A Prefeitura apoia festejos importantes, como de São Pedro e São Marçal. E selecionou 32 (trinta e dois) arraiais comunitários, que receberam apresentações de grupos de dança portuguesa, quadrilha, boiadeiro, cacuriá, bumba-meu-boi e de Tambor de Crioula. Além destes, a Prefeitura apoia também arraiais de parceiros de políticas públicas, a exemplo do Hospital Universitário Materno Infantil, da Secretaria Municipal da Criança e de Assistência Social (SEMCAS) para de crianças e adolescentes e ainda de entidades filantrópicas, como Educandário Santo Antônio. Entendemos que, por razões de salvaguardas, é importante que o Tambor de Crioula se apresente em diferentes espaços sócio-culturais de nossa cidade, para que os cidadãos e cidadãs reconheçam e valorizem o Tambor como expressão de nossa cultura e de nossa identidade. Esses arraiais são também lugares de mobilização e visibilidade, aonde as tramas culturais da vida urbana são urdidas no encontro de diferentes práticas culturais e percepções estéticas e políticas da cidade.

            4. Quanto ao número de apresentações do Tambor no Terreiro da Maria – 02 (dois) mirins e 04 (quatro) adultos deveu-se a razões decorrentes da organização do Festejo Junino, promovido pela FUNC, com a redução do horário de funcionamento do Terreiro, pelo número de arraiais apoiados pela Prefeitura e o número de contratados para esta temporada junina. Reconhecemos que precisamos resolver essa equação – horário de programação com visibilidade e maior participação no Terreiro da Maria. Considerando esta questão, que não envolve somente a manifestação do Tambor de Crioula, já se encontra em estudo na FUNC uma mudança no formato e na concepção do arraial na Maria Aragão. A partir de experiências realizadas este ano e no ano passado, que consideramos exitosas, como rodas de conversa, pretendemos articular na Praça apresentações com diversas oficinas, incluída a de Tambor de Crioula, com a participação de mestres, coreiros e coreiras, que poderão ensinar sua arte para as pessoas que forem ao arraial. Ou seja, a Maria Aragão não pode ser apenas o lugar da visibilidade, mas precisa ser também o lugar de encontro de culturas, de divulgação de saberes e valorização dos mestres. Isto faz parte de reflexões que temos nos feito: como fazer dos espaços da FUNC, como o arraial, lugares efetivos de salvaguardas.

            5. Como se pode verificar, e V.Sa e demais integrantes desse Comitê Gestor, dos grandes arraiais da cidade de São Luís, o Terreiro da Maria continua apresentando uma programação com o maior número de Tambores de Crioula, ainda que não na proporção reivindicada por V.Sa e desejada pela FUNC/PMSL, pelas razões já expostas. A decisão de manter o Tambor no arraial da Maria Aragão e nos vários arraiais apoiados pela Prefeitura parte de uma constatação importante: o Tambor de Crioula, por razões de salvaguardas, não pode ficar segregado em um único lugar, por mais importante ou pitoresco que este seja. Embora a Maria Aragão seja o maior arraial da Prefeitura, consideramos importante a presença do Tambor de Crioula em outros locais da cidade. Na Maria Aragão, mudamos o horário com o propósito de conferir maior visibilidade ao Tambor de Crioula, como já exposto. Por isso, reiteramos que, considerando as nossas condições deste ano, decidimos alterar o horário do Tambor na Maria Aragão (reivindicação antiga ora atendida) para um horário de maior público e espalhar o Tambor em vários pontos da cidade, pois entendemos que desta forma, nas condições existentes, efetivaríamos aquilo que é o nosso compromisso no Comitê de Salvaguarda.

            6. Entendemos, como V.Sa, que a salvaguarda não se limita apenas a contratar grupos de Tambor para os eventos da Prefeitura. Precisamos construir efetivamente uma política de fomento e buscar as condições para efetivá-la. Por conta disto, temos tido a preocupação em analisar e atender Projetos que contribuam para a divulgação e consolidação do Tambor em nossa cidade. Dos 03 (três) projetos relacionados a Tambor de Crioula que recebemos este ano, estamos apoiando 02 (dois). O Maracrioula, único grupo maranhense a participar da programação cultural da Copa do Mundo, em Fortaleza - CE, conta com o apoio da FUNC/Prefeitura de São Luís, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). A FUNC assumirá também as despesas de contrapartida, no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e quinhentos reais), do Projeto que o grupo Arte Nossa apresentou à UNICEF/Projeto Criança Esperança. O terceiro não foi possível apoiar por falta de condições contratuais. Citamos estes dois exemplos para demonstrar como a FUNC, mesmo em um período de escassez de recursos, tem procurado viabilizar o acordo de cooperação técnica com o Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula.

            7. Sobre o a programação especial do dia 18 de junho, a FUNC, como no ano passado, organizou a Alvorada dos Tambores, na Praça Deodoro, sob a coordenação de Dayrlene Penha, representante da Fundação no Comitê Gestor. Para este evento, foram contratados 03 (três) grupos de Tambor, que alcançou grande repercussão de mídia, com primeira página de jornais impressos e TV locais. A exemplo de 2013, já sugerimos que eventos dessa envergadura sejam organizados conjuntamente. Achamos, inclusive, que eventos como esse podem e devem ser coordenados pelo Comitê Gestor. Do mesmo modo que a FUNC pode provocar o Comitê, como o fez em 2013, o Comitê também pode provocar a FUNC, considerando ações planejadas, vez que a Administração Pública rege-se por orçamento prévio e efetivação de receitas. As conversações fluem quando são em duas vias. Isto ajuda a ampliar os processos de cooperação e, ao mesmo tempo, clarear o papel de cada um nas políticas de salvaguardas. Por isso mesmo, o evento foi coordenado por nossa representante no Comitê, que o informou previamente da programação a ser realizada na Praça Deodoro, pela Fundação de Cultura, em destaque também na nossa página na internet.

            8. Agradecemos as críticas e sugestões apresentadas por V.Sa. Estamos convencidos de que somente desta forma autônoma e democrática poderemos aperfeiçoar as políticas públicas de cultura e melhorar os instrumentos de salvaguarda do Tambor de Crioula e de outras manifestações culturais de nossa cidade. Por isto, também consideramos importante que o diálogo que V.Sa, em nome do Comitê Gestor, estabeleceu conosco, através desta correspondência, seja também formalizado com os organizadores de outros importantes arraiais de nossa cidade, sejam públicos ou privados, já que isto permitirá a ampliação dos espaços de visibilidade do Tambor em São Luís e no Maranhão e o comprometimento de outros agentes com as políticas de salvaguardas, para assegurar os lugares de visibilidade cultural, no que diz respeito a locais e horários.

            Nesta gestão, permanecemos à disposição desse Comitê Gestor, do qual somos integrantes, na busca constante de salvaguardar o Tambor de Crioula.

            Sob a inspiração de São João, em seu festejo deste 24 de junho de 2014.

Francisco Gonçalves da Conceição

Presidente da FUNC

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