Oposição a si mesmo, Cunha é dúvida: pode ser homem-bomba ou tiro de festim |
E começou pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB),
dando sinal de que vai investigar os chefes maiores.
Basta observar a varredura na casa do senador Collor de Melo
(PTB).
Essas primeiras movimentações apontam para uma devassa da
Lava Jato no coração da máquina de corrupção do Brasil – o Congresso Nacional.
Cunha, especialmente, tem dupla complicação. Além das
denúncias dos delatores, ele deve passar à condição de investigado já com
alguns indícios de provas documentais.
Recentemente, a Lava-Jato fez uma busca nos computadores da
Câmara que podem complicá-lo no curso das investigações.
Da condição de primeiro-ministro informal, Cunha desceu ao
chão de denunciado e partiu para o ataque contra o governo e o procurador-geral
Rodrigo Janot.
O ataque de fúria não vai funcionar, porque o presidente da
Câmara é oposição a ele mesmo.
ALÍVIO PREOCUPANTE
A baixa de Cunha, se por um lado alivia o governo Dilma, por
outro preocupa.
O presidente da Câmara já estava na oposição, atuando como
chantagista e lobista do PMDB junto à administração pública.
Agora, ele assumiu a condição de oposicionista e deve fazer
uma chantagem pior, ameaçando implodir o Congresso e deflagrar o processo de
impeachment da presidente Dilma Roussef (PT).
Por outro lado, a baixa de Cunha dá ao governo as mínimas condições
de operar um novo pacto com o PMDB, salvando o mandato de Dilma.
Em qualquer dos cenários, a crise não vai cessar, porque o
problema não é Cunha ou Collor, é a contaminação geral do sistema
político-partidário que corrompeu a República por inteiro.
Vivemos, portanto, uma crise da democracia brasileira,
agravada com dois componentes: o peemedebismo e o lulismo. Já tratei desse temaem outro artigo.
À LÁ ITÁLIA
Nesse contexto, a Lava Jato aproxima-se da operação “Mãos Limpas”,
deflagrada na Itália, que investigou as organizações mafiosas.
A prática de cartéis entre empreiteiras, lavagem de
dinheiro, pagamento de propina e tantos outros crimes têm semelhanças com as
práticas mafiosas, sim!
Mas, o problema das investigações é atribuir toda essa lama
ao PT, como se as operações entre as empreiteiras e os políticos fossem obra
de Lula.
Se os vícios no financiamento de campanha estão presentes no
PT e no PMDB, porque não estariam no PSDB?!
As empreiteiras operam no Brasil desde a ditadura militar
(veja aqui). Por que só agora e apenas o PT está no centro das investigações?
Esse é o xis da questão, que torna a operação Lava Jato cega
de um olho.
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