terça-feira, 18 de novembro de 2008

ELEIÇÕES 2008: QUAL A VITÓRIA DE FLAVIO DINO?

Prof. Robison Pereira*

Eis a retumbante vitória eleitoral de João Castelo-PSDB, em São Luís, diante do pressuposto de que a democracia é a vontade de uma parte do corpo social, ou seja, a sociedade é dividida em classes, etnias, grupo de interesses etc. Quero dizer, a nossa democracia não é sinônimo de igualdade, é sim um meio-termo justo, em que há uma imposição das suas instituições para dirimir conflitos inerentes à sociedade.

Com efeito, compreendo que há também outro vencedor do processo eleitoral, na Ilha do Upaon-Açu, quero dizer, o ganhador da política na capital maranhense: Flávio Dino (PC do B). Ou seja, para um jovem político que até dois anos atrás não tinha sequer concorrido em eleições representativas do nosso arranjo democrático, com menos de dois anos de mandato de deputado federal não só disputou a Prefeitura municipal, mas liderou metade da cidade em torno de idéias alternativas de poder na capital maranhense, o que não é pouco.

Várias são as razões que levaram o candidato comunista a não vencer as eleições. Algumas exógenas à sua organização de campanha, a exemplo de práticas fundamentadas no clientelismo dos “opacos” agentes do governo estadual; a política subterrânea executada pelos tucanos/pedetistas; a excelente campanha de rádio e TV do seu adversário; o lugar que o prefeito eleito João Castelo (PSDB) ocupa no coração de parte dos desvalidos e desavisados, sobretudo pela sua linguagem que parece signo de fé religiosa, em que a transcendência é instrumento de convencimento, pelo menos metaforicamente. Isto é, a palavra é mais uma bandeira do que uma idéia.

Mas não são apenas os adversários responsáveis pela sua derrota eleitoral. Não foram poucos os erros nas estratégias de campanha, a começar pelo seqüestro do fazer política, em que, em quase toda a campanha, houve excesso de propostas de governo muito parecidas com as do seu adversário e cuja técnica de campanha ostentava o candidato como se fosse um “produto” pouco palatável aos “consumidores” do tempo da política.

Observava-se um Flávio Dino amarrado, ainda, às suas estratégias que o conduziram à Câmara Federal; quero dizer, alianças passadas que não podiam ser desatadas em 2008. Isso sem contar o desperdício de tempo para responder às agressões que tinham como objeto exatamente imobilizar a campanha de Flávio Dino, que se perdeu em querer mostrar-se um bom cristão de “família” e amigo das criancinhas.

Acredito que tais embaraços devem servir de aprendizado a quem sai do pleito como a maior liderança de esquerda do Maranhão. É evidente que falo de esquerda que tem como objetivo ascensão ao poder no Estado, sobretudo, com a firme inclinação do PDT à direita, suas práticas nada republicanas como governo e a desintegração do PT, o maior derrotado nas eleições 2008, que não elegeu sequer um vereador. São Luís continua sendo, salvo melhor juízo, a única capital brasileira em que o PT não tem vereador já por duas legislaturas.

Além de ter perdido um enorme patrimônio político, o PT ficou sem lenço, sem documento, sem capital político. Se os seus mais graduados dirigentes tivessem coadunado com as suas últimas ações políticas, uns bandeariam ou retornariam ao PC do B, e outros cerrariam fileiras no PSDB, mas creio mesmo é que continuarão na pequenez das brigas fratricidas por cargos nos seus diretórios.

A vitória política de Flávio Dino lhe impõe um grande desafio, qual seja: mobilizador, articulador e condutor de milhões de corações e mentes exteriorizados em indivíduos políticos e não políticos, no sentido de não filiação partidária, para a reflexão, discussão e elaboração de um verdadeiro projeto de poder para o Estado do Maranhão.

E o caminho parece ser o da independência política. Em outras palavras, sem sucumbir aos afagos do grupo Sarney e, sobretudo, afastando-se dos assédios dos tucanos/pedetistas, na perspectiva da reedição da “Frente de Libertação”.

Como o próprio Dino nos fez entender, ele pode ser o novo timoneiro desta empreitada, já que goza de prestígio de boa camada da intelectualidade maranhense, caminha com leveza entre os movimentos sociais e sindicais no Maranhão, é agora um político conhecido dos maranhenses e um bom aliado do poder central. Agora, é pagar para ver!

* Robison Pereira é professor, sociólogo, especialista em História do Maranhão e mestre em Ciências Sociais

2 comentários:

  1. Ed, o que mais me preocupou nesta campanha foi ver a quase idolatria de certos setores da esquerda diante da figura de Flávio como transformador do "nosso destino".

    Acho isso preocupante.

    A esquerda precisa, antes de erigir mitos e petrificar ícones, é lutar para constuir mais lideranças que possam, assim como Dino, representar bem um projeto de desenvolvimento do estado com eqüidade.

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  2. Marcos,
    Boa reflexão. Também acho que não podemos ficar reféns de Flavio Dino. Ele é um bom nome, mas precisamos ter alternativas no campo da esquerda.
    Acho que em 2010 a cabeça da chapa, no campo da esquerda, deve ser do PT.
    Temos de projetar novas lideranças e oxigenar a política no Maranhão. Senão, a esquerda vai repetir os erros da direita que tanto combatemos.
    Ed Wilson

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