Leia abaixo um artigo do deputado Maurício Rands (*), publicado no jornal O Globo, edição do dia 1º de novembro:
Maurício Rands (*)
A primeira resposta dos governos mundiais à crise foi a intervenção articulada dos bancos centrais para capitalizar instituições financeiras e ampliar linhas de crédito para fomento à liquidez, constituindo a maior concertação não-militar de governos em toda a História. Como salientou o Nobel Paul Krugman, a ação inicialmente mais decisiva veio do governo inglês do trabalhista Gordon Brown, porque o americano, no fundo, é prisioneiro do dogma de que o privado é sempre bom e o público é sempre ruim.
Os que há pouco cultuavam a desregulamentação dos mercados agora falam de "reformulação do sistema financeiro internacional". Não é coincidência que as ''reconversões'' de liberais conservadores tenham sido mais enfáticas na Europa do Welfare. Sarkozy, liderando uma coalizão de centro-direita na França, disse que o laissez-faire está morto, assim como a idéia da infalibilidade do mercado. A alemã Angela Merkel insiste em uma maior regulamentação dos mercados financeiros.
O diagnóstico da origem da crise parece ser aceito por todos. Nos EUA, os excessos cometidos pelos bancos só ocorreram por lá haver um sistema financeiro mal regulado e pouco transparente, produto do dogma liberal. Tanto no diagnóstico como na receita, a crise produziu um retorno a Keynes.
O Estado precisa intervir. Primeiro, como já ocorre, capitalizando as instituições financeiras para ampliar a liquidez e drenar a economia real, o que dissipa desconfiança de empresas e consumidores. Depois, com estímulo à economia real, investindo em infra-estrutura e serviços públicos, e garantindo a transferência de renda aos desfavorecidos, para que se mantenha o ritmo da atividade econômica.
Haverá reflexos até em países como o Brasil. O Governo do PT e aliados avançou em todas as direções. As reservas saltaram de US$ 16 bi em 2002 para os atuais US$ 207 bi. A relação dívida/PIB saiu dos 52% para os atuais 38%. A inflação sob controle. Saldo das exportações de US$ 190 bi entre 2003 e 2007. O mercado interno (86% da economia) cresceu com os 9,4 milhões de empregos formais criados desde 2003; e mais de 20 milhões de pessoas ingressaram na classe C. O sistema financeiro e as empresas estão sólidos; as contas públicas, equilibradas.
Reconhecem todos a situação mais favorável do Brasil mesmo entre os emergentes. Como o Governo Lula nunca foi prisioneiro do dogma liberal, foi capaz de aumentar a capacidade de consumo e investimento de setores que antes quase não tinham renda, e de articular o PAC, com investimentos em infra-estrutura e serviços públicos da ordem de R$ 503 bi.
Governos de esquerda, como o atual, estão mais bem posicionados para adotar as políticas de ativação da economia real depois da crise financeira. Primeiro, porque suas propostas sempre tiveram o corte keynesiano, agora aceito até por liberais e conservadores que viam o Estado mínimo como panacéia. Depois, porque suas políticas distributivistas de renda estimulam o mercado interno, vital diante da desaceleração externa.
O que impressiona é que diante da falência do liberalismo e da desregulamentação, os partidos de oposição no Brasil insistam com as velhas teses. Imaginam como resposta o mero corte de gastos, a diminuição do papel do Estado. Poderiam consultar a direita européia que acaba de reconhecer o triunfo do Welfare State Keynesiano sobre o liberalismo e o fundamentalismo de mercado de Wall Street. Ou poderiam aprender com Boaventura de Souza Santos: 'o impensável aconteceu - o Estado voltou a ser solução'.
Os que há pouco cultuavam a desregulamentação dos mercados agora falam de "reformulação do sistema financeiro internacional". Não é coincidência que as ''reconversões'' de liberais conservadores tenham sido mais enfáticas na Europa do Welfare. Sarkozy, liderando uma coalizão de centro-direita na França, disse que o laissez-faire está morto, assim como a idéia da infalibilidade do mercado. A alemã Angela Merkel insiste em uma maior regulamentação dos mercados financeiros.
O diagnóstico da origem da crise parece ser aceito por todos. Nos EUA, os excessos cometidos pelos bancos só ocorreram por lá haver um sistema financeiro mal regulado e pouco transparente, produto do dogma liberal. Tanto no diagnóstico como na receita, a crise produziu um retorno a Keynes.
O Estado precisa intervir. Primeiro, como já ocorre, capitalizando as instituições financeiras para ampliar a liquidez e drenar a economia real, o que dissipa desconfiança de empresas e consumidores. Depois, com estímulo à economia real, investindo em infra-estrutura e serviços públicos, e garantindo a transferência de renda aos desfavorecidos, para que se mantenha o ritmo da atividade econômica.
Haverá reflexos até em países como o Brasil. O Governo do PT e aliados avançou em todas as direções. As reservas saltaram de US$ 16 bi em 2002 para os atuais US$ 207 bi. A relação dívida/PIB saiu dos 52% para os atuais 38%. A inflação sob controle. Saldo das exportações de US$ 190 bi entre 2003 e 2007. O mercado interno (86% da economia) cresceu com os 9,4 milhões de empregos formais criados desde 2003; e mais de 20 milhões de pessoas ingressaram na classe C. O sistema financeiro e as empresas estão sólidos; as contas públicas, equilibradas.
Reconhecem todos a situação mais favorável do Brasil mesmo entre os emergentes. Como o Governo Lula nunca foi prisioneiro do dogma liberal, foi capaz de aumentar a capacidade de consumo e investimento de setores que antes quase não tinham renda, e de articular o PAC, com investimentos em infra-estrutura e serviços públicos da ordem de R$ 503 bi.
Governos de esquerda, como o atual, estão mais bem posicionados para adotar as políticas de ativação da economia real depois da crise financeira. Primeiro, porque suas propostas sempre tiveram o corte keynesiano, agora aceito até por liberais e conservadores que viam o Estado mínimo como panacéia. Depois, porque suas políticas distributivistas de renda estimulam o mercado interno, vital diante da desaceleração externa.
O que impressiona é que diante da falência do liberalismo e da desregulamentação, os partidos de oposição no Brasil insistam com as velhas teses. Imaginam como resposta o mero corte de gastos, a diminuição do papel do Estado. Poderiam consultar a direita européia que acaba de reconhecer o triunfo do Welfare State Keynesiano sobre o liberalismo e o fundamentalismo de mercado de Wall Street. Ou poderiam aprender com Boaventura de Souza Santos: 'o impensável aconteceu - o Estado voltou a ser solução'.
(*) O deputado federal Maurício Rands (PT-PE) é líder do partido na Câmara.
Boa contribuição para o entendimento da crise financeira internacional. No meu blog, divulguei artigo de Luiz Gonzaga Belluzo em que lança luzes altaneiras sobre o assunto.
ResponderExcluirSe puderes visite-o.
http://soblonicas.blogspot.com
Abraços.
Celijon,
ResponderExcluirAinda bem que temos um governo com um direcionamento econômico eficaz. A crise vai chegar aqui no Brasil, mas creio que não será tão avassaladora como nos outros países.
Ed
PS.: parabéns pelo seu blog